O aumento das exportações brasileiras de carne compensou a queda das vendas para os Estados Unidos após o tarifaço, manteve a demanda aquecida e impediu a esperada redução nos preços para o consumidor brasileiro.
O pacote de tarifas adotado pelos Estados Unidos em julho e agosto de 2025 não barateou a carne no Brasil, segundo informações do Jornal Nacional, que foi ao ar nesta segunda-feira (09).
Apesar da expectativa de que a redução das vendas ao mercado norte-americano aumentaria a oferta interna, o movimento foi compensado por outros compradores e os preços seguem pressionados.
Em 2024, o subitem carnes no IPCA subiu 20,84%. Em 2025 houve recuos pontuais, mas insuficientes para reverter a alta acumulada.
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Tarifas dos EUA não derrubam preços no mercado interno
A partir do fim de julho, a Casa Branca reforçou a política de tarifas generalizadas sobre importados, que também alcançam produtos brasileiros.
A hipótese de economistas era direta: com a perda de competitividade no mercado americano, parte dos embarques migraria para o consumo doméstico, ampliando a oferta e aliviando os preços.
Não foi o que se observou nas gôndolas.
No curto prazo, o varejo registrou apenas quedas marginais, enquanto o patamar de preços permanece elevado frente ao observado antes do ciclo de alta.
No IPCA-15 de agosto de 2025, por exemplo, “Alimentação no domicílio” voltou a cair, com recuo das carnes, mas a redução é pequena diante das elevações verificadas no último ano.
A percepção de alívio para o consumidor, portanto, ainda não se consolidou.
Exportações seguem firmes com China e México puxando a demanda
Enquanto os Estados Unidos reduziram compras, outros destinos ampliaram as encomendas.
De janeiro a agosto de 2025, as exportações brasileiras de carne bovina cresceram cerca de 34% na comparação anual.
Nesse intervalo, a China aumentou aquisições em 41%, mantendo-se como principal destino.
Já o México acelerou as compras em mais de 250%, após a abertura mais ampla do mercado e novas habilitações de plantas brasileiras.
Esse redirecionamento explica por que a oferta doméstica não cresceu como se previa.
O produto brasileiro continua competitivo em dólar, e a demanda externa absorveu parte relevante da produção.
Resultado: o fluxo para fora do país seguiu intenso, reduzindo a chance de uma correção forte de preços internos no varejo.
EUA perdem espaço no ranking de destinos
Até julho, os Estados Unidos figuravam entre os principais compradores de carne bovina do Brasil no acumulado do ano.
Em agosto, porém, recuaram posições no ranking mensal e deixaram o topo da lista.
O comportamento reflete a combinação de tarifas, mudança nas condições de acesso e substituição por outros mercados com apetite crescente.
Essa mudança de posição ajuda a entender a dinâmica recente.
O volume deslocado dos EUA não ficou “sobrando” no Brasil: foi absorvido por parceiros como China, Rússia e México, o que sustentou o ritmo das exportações totais e, por consequência, os preços domésticos.
Arroba do boi segue firme no campo
Do lado da produção, a oferta de animais terminados seguiu ajustada em função do período seco no Centro-Sul, quando as pastagens perdem vigor e o gado precisa de suplementação.
O indicador de referência do boi gordo tem oscilado em torno de R$ 300 por arroba em praças como São Paulo, com registros mais recentes na casa de R$ 312/@.
Essa sustentação limita recuos no atacado e, na sequência, no varejo. Além da sazonalidade climática, há efeitos do ciclo pecuário.
Após fase de maior descarte de fêmeas, a recomposição de rebanhos tende a reduzir a oferta de curto prazo.
Esse processo, quando combinado com demanda externa aquecida, costuma manter a arroba em patamares firmes, mesmo diante de variações cambiais.
Consumo interno cresce com emprego e renda
No mercado interno, a demanda reage gradualmente. A taxa de desocupação atingiu 5,8% no segundo trimestre de 2025, o menor nível da série.
Com mais gente empregada e renda real em recuperação, parte das famílias volta a incluir cortes bovinos com maior frequência no carrinho.
Ainda assim, substituições por frango, linguiça e miúdos seguem comuns para driblar o orçamento.
Para muitos lares, a carne bovina continua sendo um item aspiracional e, quando há folga de renda, a prioridade recai sobre a proteína.
Por que a queda no atacado não chega ao consumidor?
Houve momentos, especialmente em julho, em que os preços no atacado recuaram em dólar.
Contudo, o repasse ao consumidor não é automático. A cadeia tem estoques, contratos, custos logísticos e tributários que desaceleram a transmissão das quedas.
Ao mesmo tempo, quando a arroba volta a subir, o varejo tende a ajustar rapidamente as etiquetas para recompor margens.
Enquanto isso, promoções pontuais aparecem em cortes específicos, mas não mudam o quadro geral.
A percepção de “carne cara” persiste, sobretudo nos cortes nobres, e ainda não há sinal consistente de mudança de patamar no curto prazo.