Os preços do petróleo recuam ao menor patamar desde maio, pressionados pela oferta elevada, avanços diplomáticos em zonas de conflito e incertezas no comércio entre EUA e China. Entenda o que está por trás da nova queda da commodity.
O mercado internacional de petróleo atravessa uma nova fase de volatilidade e queda nos preços. Após semanas de desvalorização, o valor do barril chegou ao menor patamar em meses, reacendendo alertas entre investidores e analistas sobre o futuro da commodity.
Nesta sexta-feira (17), o barril de Brent, referência global negociada em Londres, caiu 0,13%, cotado a US$ 60,98 para entrega em dezembro. Já o West Texas Intermediate (WTI), principal referência do mercado americano, recuou 0,19%, atingindo US$ 57,35 por barril, com vencimento em novembro.
Embora o movimento diário tenha sido discreto, a queda acumulada revela um panorama mais preocupante. O Brent não registrava valores tão baixos desde maio deste ano, enquanto o WTI não alcançava essa faixa desde 2021. A perda de valor reflete uma combinação de fatores econômicos e geopolíticos, que vão desde a superoferta até as recentes negociações de paz em regiões produtoras.
-
Petrobras fecha parceria com membro do Brics e embarca 6 milhões de barris rumo à Ásia em acordo bilionário
-
Produção de hidrogênio no Brasil: manual da ANP explica autorizações, regulações, certificações, mercado de energia limpa e transição sustentável
-
ANP libera retomada da produção de petróleo em plataforma Peregrino, no Rio de Janeiro, após interdição por falhas de segurança
-
Regulação de emissões de metano impulsiona licitação do Banco Mundial para monitoramento ambiental, energia limpa, petróleo e gás no Brasil
Excesso de oferta global impulsiona a desvalorização
Um dos principais motivos para a retração da cotação do petróleo é o desequilíbrio entre oferta e demanda. Quando há mais petróleo disponível no mercado do que compradores dispostos, os preços naturalmente cedem.
O mercado internacional reagiu às projeções da Agência Internacional de Energia (AIE), que indicam um aumento expressivo na produção mundial. A entidade revisou para cima as expectativas de crescimento da oferta, ao mesmo tempo em que reduziu a previsão de aumento da demanda para este ano e para 2025.
De acordo com a AIE, o planeta poderá registrar um acréscimo de 2,2 milhões de barris por dia em 2025, alcançando quase 4 milhões adicionais em 2026. Esse cenário reforça o temor de que o setor enfrente uma superabundância de petróleo, algo que tende a manter os preços sob pressão.
“O mercado adere à hipótese da Agência Internacional de Energia de uma superabundância da oferta”, explicou Phil Flynn, do Price Futures Group, à AFP.
Analistas do DNB também reforçaram essa perspectiva durante a conferência Energy Intelligence, em Londres: “Um excedente de petróleo, esperado há tempos, começa finalmente a surgir e deveria pesar nos preços.”
Trégua em regiões produtoras reduz riscos e derruba preços
Além da questão da oferta, os avanços diplomáticos em zonas de conflito também têm contribuído para a queda do petróleo. Nos últimos meses, as guerras envolvendo Rússia e Ucrânia, além dos confrontos entre Israel e Hamas, vinham sustentando os preços por conta dos riscos de interrupções no abastecimento.
Contudo, com a redução das tensões geopolíticas, esse efeito começou a se dissipar. Recentemente, os sinais de paz ganharam força, especialmente após o anúncio de um encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin, previsto para ocorrer na Hungria. O presidente dos Estados Unidos declarou que houve “grandes progressos”, enquanto o Kremlin classificou o diálogo como “extremamente franco e repleto de confiança”.
Embora ainda não haja data confirmada, o simples anúncio da reunião foi suficiente para influenciar o mercado. Trump tem pressionado aliados a interromper a compra de petróleo russo, o que, paradoxalmente, pode abrir espaço para uma retomada gradual da produção russa — algo que tende a ampliar a oferta e derrubar os preços.
No Oriente Médio, a assinatura de um cessar-fogo entre Israel e Hamas, no último dia 9 de outubro, também teve impacto direto nas cotações. Sob pressão dos Estados Unidos, o acordo incluiu a libertação de reféns e abriu caminho para a redução das hostilidades.
Segundo o economista Claudio Galimberti, da Rystad Energy, “se a paz for estável e confiável, seu impacto (na redução) dos preços será mais estrutural e profundo”.
Ainda que Israel não seja um grande produtor de petróleo, a região desempenha papel estratégico nas rotas de transporte da commodity. Qualquer instabilidade poderia comprometer o fluxo pelo Mar Vermelho e pelo Canal de Suez, corredores fundamentais para o escoamento de barris rumo à Europa e à Ásia.
Com o cessar-fogo, a expectativa agora é de que grupos rebeldes no Iêmen — como os huthis — suspendam ataques a navios ocidentais, permitindo a normalização do tráfego marítimo. Isso reduziria riscos logísticos e contribuiria ainda mais para a descompressão dos preços internacionais do petróleo.
Conflito comercial entre EUA e China aumenta a incerteza
Além da oferta elevada e da redução dos riscos geopolíticos, a tensão comercial entre Estados Unidos e China também tem pesado sobre o desempenho do petróleo nos mercados futuros.
O presidente americano Donald Trump afirmou recentemente que a tarifa de 100% sobre produtos chineses é insustentável a longo prazo, mas justificou a medida como resposta à postura de Pequim. Segundo ele, é necessária uma renegociação “justa” para restabelecer o equilíbrio no comércio internacional.
A China respondeu com restrições à exportação de elementos de terras raras, considerados estratégicos para a indústria tecnológica. A medida foi classificada por Trump como “surpreendente” e “muito hostil”.
De acordo com John Evans, da PVM, “qualquer redução do comércio internacional só pode ser desfavorável ao petróleo”. Isso porque o crescimento do comércio global está diretamente ligado à demanda por combustíveis e energia.
Mark Waggoner, analista da Excel Futures, acrescenta que o retorno da incerteza entre as duas potências tende a pressionar os preços nas próximas semanas. Segundo ele, o aumento pontual em algumas sessões recentes se deveu apenas a uma “recuperação técnica após dias muito ruins”.
Perspectivas para o mercado e impacto na produção americana
Se o barril do WTI continuar cotado abaixo dos US$ 60, especialistas preveem desaceleração da produção americana, principalmente no setor de petróleo de xisto. Nessa faixa de preço, muitas companhias perdem a rentabilidade necessária para manter a perfuração de novos poços.
Esse fator pode provocar ajustes no médio prazo, mas, por enquanto, o excesso de oferta global e as incertezas econômicas seguem como forças dominantes no mercado.
Com previsões divergentes e um cenário ainda instável, o preço do petróleo permanece como um dos indicadores mais sensíveis do panorama econômico mundial — refletindo, ao mesmo tempo, a dinâmica da produção, a geopolítica e as disputas comerciais que moldam o século XXI.