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Petróleo verde? Cana-de-açúcar desponta como opção de produto sustentável e coloca o Brasil na liderança mundial da bioenergia

Escrito por Rannyson Moura
Publicado em 07/10/2025 às 07:01
Com potencial para substituir o petróleo e gerar produtos sustentáveis como biocombustíveis, plásticos e hidrogênio renovável, a cana-de-açúcar se consolida como o “petróleo verde” e fortalece o protagonismo do Brasil na transição energética global. Fonte: Mais Agro
Com potencial para substituir o petróleo e gerar produtos sustentáveis como biocombustíveis, plásticos e hidrogênio renovável, a cana-de-açúcar se consolida como o “petróleo verde” e fortalece o protagonismo do Brasil na transição energética global. Fonte: Mais Agro
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Com potencial para substituir o petróleo e gerar produtos sustentáveis como biocombustíveis, plásticos e hidrogênio renovável, a cana-de-açúcar se consolida como o “petróleo verde” e fortalece o protagonismo do Brasil na transição energética global.

A cana-de-açúcar, uma das matérias-primas mais abundantes do Brasil, está prestes a ganhar um papel ainda mais estratégico na transição para uma economia de baixo carbono, conforme noticiado nesta segunda, 06. Pesquisadores e especialistas afirmam que a planta pode se tornar o “petróleo verde” do século XXI, por oferecer múltiplas aplicações industriais, energéticas e químicas, de forma renovável e sustentável.

Hoje, a cana já é amplamente utilizada na produção de açúcar e etanol. No entanto, com investimentos em tecnologia e inovação, a biomassa da planta pode originar combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), biobunker para o transporte marítimo, hidrogênio renovável, combustíveis sintéticos (e-fuels) e até plásticos de origem vegetal.

O potencial da cana como substituto do petróleo

Segundo Thiago Lopes, professor e coordenador do Laboratório de Células a Combustível do RCGI-USP (Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa da Universidade de São Paulo), o que torna a cana comparável ao petróleo é sua capacidade de gerar uma cadeia circular de produtos.

“Hoje já produzimos etanol e, a partir do CO₂ gerado na fermentação para a sua produção, podemos obter o metanol verde, que serve de matéria-prima para moléculas que dão origem a plásticos, fibras têxteis, embalagens e borrachas sintéticas, produtos que ainda dependem do petróleo”, explica o especialista.

Os subprodutos da própria usina — como a vinhaça e o CO₂ —, quando combinados a processos que geram hidrogênio e oxigênio, abrem caminho para novos combustíveis e insumos estratégicos.

O hidrogênio renovável, por exemplo, pode ser usado em células a combustível que geram eletricidade sem emissão de poluentes, além de servir de base para a amônia verde, considerada o futuro do transporte marítimo.

Um dos diferenciais da cana é sua capacidade de criar uma cadeia produtiva circular, em que nada se perde. O bagaço, a palha e até os gases resultantes do processo fermentativo podem ser reaproveitados para gerar energia, combustíveis e até produtos químicos.

“Diferentemente do petróleo, que é um recurso finito e concentrado em poucos países, a cana é renovável, distribuída e já conta com uma cadeia produtiva consolidada no Brasil”, reforça Lopes. “Com os avanços tecnológicos, a cana deixa de ser apenas fonte de etanol e açúcar, tornando-se a base de uma nova indústria química verde, capaz de sustentar em escala setores hoje totalmente dependentes do petróleo.”

Indústria aposta no “plástico verde” e na bioeconomia

Empresas brasileiras já vêm explorando o potencial da cana como matéria-prima sustentável. Desde 2016, o Grupo Boticário utiliza polietileno verde — um plástico vegetal derivado do etanol da cana — em suas embalagens.

“O plástico vegetal usado nas embalagens é fabricado por empresas que produzem polietileno a partir do etanol de cana (soluções bio-based), como a Braskem”, explica Gustavo Dieamant, diretor executivo de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Boticário. Atualmente, mais de 2 mil produtos do portfólio da marca utilizam plástico verde.

A empresa também passou a aproveitar resíduos como o bagaço da cana para fabricar o EcoÁlcool, utilizado em perfumes. “Somente com isso, a partir de 2021, deixamos de emitir mais de 127 mil toneladas de gases de efeito estufa. Essa redução equivale à captura de carbono de uma área de eucaliptos do tamanho de 4.700 campos de futebol”, destaca Dieamant.

Parceira do Boticário na produção do EcoÁlcool, a Raízen vem liderando projetos voltados à produção de biocombustíveis de segunda geração (E2G). Diferente do etanol convencional (E1G), que utiliza o caldo da cana, o E2G aproveita resíduos que antes seriam descartados, como fibras e lignina.

Em 2024, a empresa inaugurou uma nova unidade de E2G no Parque de Bioenergia Bonfim, em Guariba (SP). Segundo dados da companhia, o etanol de segunda geração tem pegada de carbono 80% menor que a gasolina comum e 30% menor que o etanol tradicional, representando uma inovação tecnológica capaz de aumentar em 50% a produção sem expandir a área de plantio.

Biocombustíveis diversificados e inovação constante

O setor de transportes é um dos que mais pode se beneficiar do avanço da cana como fonte renovável. Além do etanol combustível — nas versões hidratada e anidra —, as usinas produzem bioeletricidade a partir do bagaço e da palha, além de biogás e biometano provenientes da vinhaça.

Pesquisas recentes indicam o potencial da cana para gerar hidrogênio verde, metanol verde e o SAF (Sustainable Aviation Fuel), combustível sustentável voltado à aviação. Essas novas rotas tecnológicas ampliam as possibilidades de substituição dos combustíveis fósseis em diferentes modais de transporte.

Vale frisar que o Brasil é hoje o segundo maior produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Porém, especialistas acreditam que o país reúne condições únicas para liderar a exportação de biocombustíveis de baixo carbono, derivados da cana-de-açúcar.

Segundo Alexandre Alves, agrônomo e chefe-geral da Embrapa Agroenergia, o país apresenta vantagens significativas em relação aos concorrentes. “Enquanto o milho, nos Estados Unidos, rende de 4 a 5 mil litros de etanol por hectare, a cana brasileira produz, em média, 7 mil litros por hectare, podendo ultrapassar os 10 mil litros com a integração do etanol de segunda geração”, destaca.

Entre 2003 e março de 2025, o uso do etanol em substituição à gasolina evitou a emissão de mais de 730 milhões de toneladas de CO₂. Para alcançar efeito semelhante na natureza, seria necessário o plantio de cerca de 5,1 bilhões de árvores ao longo de duas décadas.

Vantagens competitivas e sustentabilidade ampliada

Outro ponto que reforça o protagonismo brasileiro é o aproveitamento integral da biomassa. O país já domina processos industriais que permitem extrair o máximo de valor da cana:

  • Caldo para produção de etanol;
  • Bagaço e palha para geração de eletricidade e etanol de segunda geração;
  • Vinhaça e torta de filtro para produção de biogás;
  • CO₂ da fermentação para e-fuels e compostos químicos.

Além disso, o Brasil conta com infraestrutura agrícola, industrial e logística consolidada, além do RenovaBio, programa que certifica a intensidade de carbono dos biocombustíveis produzidos no país.

Potencial de expansão sustentável

De acordo com estudos recentes, o Brasil possui milhões de hectares de pastagens degradadas que podem ser convertidos para o cultivo de cana sem causar desmatamento ou afetar biomas sensíveis. Essa característica garante espaço para a expansão da produção e consolida o país como referência global em energia limpa e sustentável.

“O Brasil já cultiva mais de 8 milhões de hectares de cana, mas tem potencial para expandir sobre pastagens de baixa produtividade, sem pressionar os biomas sensíveis. Ou seja, a cana pode sim ser considerada o novo petróleo verde”, conclui Alexandre Alves, da Embrapa Agroenergia.

Apesar dos avanços, especialistas defendem que o país precisa acelerar investimentos e criar marcos regulatórios claros para consolidar o papel da cana na transição energética.

Entre as medidas sugeridas estão o fortalecimento do RenovaBio, o incentivo à captura e armazenamento de carbono nas usinas, e o fomento à produção de hidrogênio verde, SAF e biometano. Além disso, é essencial expandir a infraestrutura de exportação e garantir certificações internacionais que reforcem a imagem do Brasil como fornecedor confiável de energia limpa.

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Rannyson Moura

Graduado em Publicidade e Propaganda pela UERN; mestre em Comunicação Social pela UFMG e doutorando em Estudos de Linguagens pelo CEFET-MG. Atua como redator freelancer desde 2019, com textos publicados em sites como Baixaki, MinhaSérie e Letras.mus.br. Academicamente, tem trabalhos publicados em livros e apresentados em eventos da área. Entre os temas de pesquisa, destaca-se o interesse pelo mercado editorial a partir de um olhar que considera diferentes marcadores sociais.

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