Apesar dos recursos gerados, regiões produtoras sofrem com ausência de serviços básicos, degradação ambiental e baixa transparência na aplicação dos fundos públicos
O porto de Mazán, no estado de Loreto, na Amazônia peruana, é um retrato do abandono. Mesmo sendo rota do petróleo extraído na região, a cidade enfrenta sérias deficiências. Rampas corroídas, detritos acumulados na margem do rio Napo e crianças descalças brincando entre o lixo compõem a cena cotidiana.
Infraestrutura precária de Mazán
Mazán não conta com estrutura urbana adequada. A cidade tem eletricidade somente por algumas horas por dia. A água potável chega duas ou três vezes por semana.
A maioria da população vive da pesca e da agricultura, mas mais da metade das famílias não consegue comprar sequer uma cesta básica por mês. Em 57% das casas, não há banheiro.
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A precariedade contrasta com o volume de recursos que deveria estar disponível. Para 2025, estão previstos mais de R$ 22 milhões para o município.
Esse valor representa 64% de todo o orçamento municipal. Os repasses vêm da exploração de petróleo em Loreto, mas os recursos não chegam eficazmente à população.
Promessa que não se cumpre
A extração de petróleo começou na região em 1971, com a estatal Petroperú encontrando as primeiras reservas na bacia do rio Corrientes.
Ao longo dos anos, várias empresas nacionais e estrangeiras passaram a operar em Loreto. Hoje, a atividade segue intensa, mas os benefícios sociais ainda não são visíveis.
Existem dois principais mecanismos de arrecadação sobre os recursos naturais no Peru. Um deles é a “regalía”, um pagamento direto das empresas ao governo. O outro é o “canon”, uma transferência de parte do imposto de renda das petroleiras para estados e municípios.
Mazán recebe o canon petrolífero há cerca de 20 anos. Ainda assim, a realidade permanece estagnada. Outras cidades de Loreto também não registraram melhoras sociais ou estruturais. Em vez disso, locais antes ocupados por floresta agora servem como depósitos improvisados de lixo.
Situação precária de Mazán: Um padrão que se repete
A reportagem, feita pela equipe do veículo OjoPúblico em outubro de 2024, integra a série “Até a última gota”, que investiga os impactos da indústria petrolífera na Amazônia. O conteúdo também foi reproduzido por InfoAmazonia e Colabora.
Segundo a reportagem, o caso de Mazán não é uma exceção. A indústria do petróleo promete prosperidade, mas entrega impactos sociais e ambientais. A maioria dos lucros beneficia poucos, enquanto comunidades inteiras enfrentam os efeitos negativos da atividade.
A série compara a situação peruana com cenários similares no Brasil. Juliana Aguilera, do ClimaInfo, destaca problemas em cidades como Macaé e Maricá, no estado do Rio de Janeiro, além de municípios do Maranhão.
Os jornalistas André Borges e Ruy Baron identificaram o mesmo padrão em Coari e Silves, no Amazonas, chamadas de “Dubai Amazônica”, onde os recursos não resultaram em desenvolvimento para a população local.
Comunidades indígenas ficam à margem
No Peru, há uma exigência de que 5% dos valores recebidos com a exploração de petróleo sejam investidos em comunidades tradicionais e indígenas afetadas.
No entanto, segundo o economista Roger Grández Ríos, diretor do Instituto de Desenvolvimento Socioeconômico do Peru, a aplicação dessa norma foi um “fiasco”.
As populações indígenas continuam sem apoio adequado, apesar de estarem entre as mais impactadas pela atividade. Além disso, os danos ambientais seguem se acumulando.
Vazamentos e emergências ambientais
Segundo a Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos, o governo do Peru registrou 1.460 emergências por vazamentos de óleo entre 1997 e maio de 2023. Desses, 831 casos — o equivalente a 57% — ocorreram em território amazônico.
A série “Até a última gota” também revelou a atuação de empresas petrolíferas no Brasil em busca da licença do IBAMA para atuar na foz do Amazonas, além de mostrar os impactos ambientais causados pela Exxon na Guiana e os danos às comunidades indígenas da Colômbia.
Com informações de Climainfo.