Alta do petróleo por sanções dos EUA à Rússia preocupa o mercado e levanta dúvidas sobre novos reajustes da gasolina no Brasil.
Os contratos futuros do petróleo iniciaram a quinta-feira (23) com forte valorização, impulsionando debates no setor energético e financeiro. Às 10h (horário de Brasília), o barril do WTI para dezembro avançava 5,93%, enquanto o Brent subia 5,53%. O salto nos preços reflete a tensão dos investidores após novas sanções dos Estados Unidos contra as maiores petrolíferas russas, a Rosneft e a Lukoil.
A medida, segundo o governo norte-americano, tem como objetivo punir a Rússia pela “falta de comprometimento sério com um processo de paz” para encerrar a guerra na Ucrânia. No entanto, a decisão repercutiu globalmente, gerando preocupações sobre possíveis restrições na oferta da commodity e seus efeitos sobre o custo da gasolina.
Mercado reage às sanções e teme redução na oferta global
Especialistas apontam que as sanções podem reduzir a disponibilidade do petróleo russo no mercado internacional, elevando a pressão sobre os preços no curto prazo.
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“O mercado repercute porque há uma preocupação de uma eventual restrição da oferta do petróleo russo ou aumento dessa restrição, o que pode elevar os preços da commodity no curto prazo. Apesar disso, vemos uma continuidade de um ambiente de relativa fraqueza para a indústria como um todo”, explica Ricardo França, analista da Ágora Investimentos.
Com o movimento, o preço do barril se manteve acima dos US$ 60, faixa considerada crítica para a definição de reajustes no setor de combustíveis. Além disso, a valorização também impactou as ações de empresas petrolíferas, como a Petrobras (PETR3; PETR4), que acompanharam a tendência de alta durante o pregão.
Efeitos sobre o consumidor ainda são incertos, mas o alerta está ligado
Apesar da forte reação no mercado internacional, especialistas afirmam que o impacto nas bombas de combustíveis não é imediato. Isso porque a Petrobras adota uma política de reajuste que considera não apenas o valor do barril, mas também a cotação do dólar e a paridade de importação.
De acordo com João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, a estatal atualmente vende gasolina para as distribuidoras cerca de 8% acima da paridade internacional, o que indica uma margem de segurança.
“Usualmente, a estatal não faz ajustes repentinos a não ser que o petróleo sofra uma variação elevada. Não é o caso atual porque a commodity ainda continua na faixa dos US$ 60”, afirmou.
Portanto, enquanto a alta do petróleo preocupa investidores e governos, não há expectativa imediata de aumento da gasolina no Brasil — a menos que a valorização se mantenha de forma consistente por um período mais longo.
Petrobras reduziu o preço da gasolina antes da disparada do petróleo
Vale lembrar que, na terça-feira (21), a Petrobras reduziu o preço da gasolina em 4,9% para as distribuidoras. O valor médio caiu de R$ 2,85 para R$ 2,71 por litro, refletindo a tendência de estabilidade do mercado antes das sanções.
Essa recente redução contribui para equilibrar o impacto da alta internacional, pelo menos no curto prazo. Segundo analistas, mesmo com o novo cenário de incerteza, a defasagem entre os preços internos e externos ainda permite alguma folga na política de preços da estatal.
O episódio reacende o debate sobre a dependência mundial do petróleo e a vulnerabilidade dos mercados a tensões geopolíticas. Cada nova sanção ou conflito que afete grandes produtores pode desencadear ondas de volatilidade nos preços da commodity, com reflexos diretos sobre a inflação, os custos logísticos e o bolso do consumidor.
Enquanto a guerra na Ucrânia segue sem perspectiva de solução e os EUA intensificam sua pressão sobre Moscou, o mercado global se ajusta a um cenário de incertezas prolongadas. A alta do petróleo é um lembrete claro de como a política internacional e a energia estão intrinsecamente ligadas, exigindo atenção redobrada de governos e investidores.