Estratégia inédita reúne gigantes navais chineses e estaleiros brasileiros em busca de parcerias para modernizar a indústria naval nacional, ampliar investimentos estrangeiros e estimular o setor produtivo do país.
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a Petrobras deu início a uma estratégia inédita para recuperar a indústria naval brasileira, ao buscar parcerias com alguns dos maiores estaleiros da China, em uma iniciativa que pretende transformar o cenário naval nacional nos próximos anos.
O objetivo é claro: atrair investimentos estrangeiros, viabilizar a transferência de tecnologia e, principalmente, ampliar a capacidade de produção das empresas brasileiras, impulsionando o setor naval e estimulando a economia do país.
A ação marca o cumprimento de uma promessa feita durante a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que havia destacado o fortalecimento da indústria naval como prioridade para a retomada do desenvolvimento industrial brasileiro.
-
Caça americano F‑16 já teve mais de 4.600 unidades produzidas e 28 países mantêm a aeronave ativa
-
China já colocou mais de 200 caças J-20 nos céus e acende alerta global
-
Brasil promete proteger a Embraer após tarifa de 50% imposta pelos EUA: prejuízo pode chegar a US$ 9 milhões por avião
-
Com investimento de R$ 50 milhões, gigante chinesa CRRC vai fabricar trens no Brasil a partir de 2026
Durante seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010, Lula apoiou um ciclo intenso de investimentos no setor, o que levou à criação de grandes estaleiros e à geração de milhares de empregos.
Contudo, a partir de 2015, o segmento enfrentou grave crise, agravada por denúncias de corrupção investigadas pela Operação Lava Jato, levando boa parte das empresas à recuperação judicial e ao fechamento de linhas de produção.
Parceria Brasil-China e transferência de tecnologia
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, confirmou que o interesse chinês foi despertado pela extensa carteira de encomendas da petroleira, hoje considerada uma das maiores do mundo para navios-plataforma, conhecidos como FPSOs (unidades flutuantes de produção, estocagem e transferência), e embarcações de apoio marítimo.
Segundo Magda, o plano é ambicioso: “A gente gostaria que os chineses fossem sócios dos nossos estaleiros aqui. Temos estaleiros em recuperação judicial, estaleiros que precisam de upgrade [modernização], estaleiros que precisam de algum monitoramento”, explicou a executiva durante cerimônia de assinatura de memorando de interesses entre representantes brasileiros e chineses.
O evento, realizado em junho de 2025, contou com a participação dos principais executivos dos estaleiros chineses COOEC, CSSC, Cosco e CIMC, além dos brasileiros EBR (Estaleiros do Brasil), ERG (Estaleiro Rio Grande), EAS (Estaleiro Atlântico Sul), Estaleiro Mauá e Estaleiro Enseada.
O memorando estabelece o compromisso de avaliar parcerias industriais e acordos de transferência tecnológica, resultado de uma semana de visitas técnicas dos representantes asiáticos às instalações brasileiras.
Investimentos da Petrobras impulsionam o setor naval
Conforme destacou a presidente da Petrobras, a retomada das encomendas para estaleiros nacionais é essencial não só para o crescimento da cadeia naval, mas também para recuperar a capacidade de geração de empregos e fortalecer a engenharia nacional.
Desde 2016, a empresa não formalizava contratos com estaleiros brasileiros.
Agora, o novo plano prevê a contratação de 25 navios petroleiros e 44 barcos de apoio a plataformas offshore, ampliando substancialmente as oportunidades para o setor naval.
No momento, a Petrobras já contratou quatro navios com um consórcio formado pelo Estaleiro Rio Grande (ERG) e pela Mac Laren, além de estar com licitação aberta para outras oito embarcações.
A expectativa é de que a parceria com os grupos chineses possa facilitar o acesso a financiamento, considerado o principal gargalo dos estaleiros nacionais para viabilizar novos projetos.
Segundo especialistas do setor, a participação chinesa tende a aumentar a competitividade brasileira, principalmente em um cenário global onde a China lidera o ranking mundial de construção naval.
Políticas públicas e demanda por embarcações
Durante a cerimônia de assinatura do acordo, o secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia (MME), Pietro Mendes, ressaltou que a iniciativa representa uma política de Estado, envolvendo diversas esferas do governo federal.
Para Mendes, “precisamos de políticas públicas para tornar essa indústria competitiva”.
Já o secretário adjunto de Energia da Casa Civil, Ricardo Buratini, observou que “o Brasil tem uma demanda gigantesca por embarcações”, ressaltando que é fundamental inserir o país na cadeia global de produção naval.
Papel estratégico da indústria naval brasileira
A indústria naval desempenha papel estratégico para o Brasil, que atualmente lidera as contratações mundiais de navios-plataforma destinados à exploração e produção de petróleo em alto-mar.
Essas embarcações, essenciais para o pré-sal, são fundamentais para garantir a autossuficiência energética e ampliar as exportações de óleo e gás.
Apesar do protagonismo, a participação brasileira na fabricação dessas unidades ainda é limitada, devido aos desafios financeiros, tecnológicos e à dependência de fornecedores internacionais.
Além do potencial econômico, o movimento encabeçado pela Petrobras pode estimular a geração de empregos de alta qualificação, impulsionar a pesquisa e desenvolvimento em engenharia naval e ampliar o conteúdo local nos contratos de grandes obras.
Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), o setor chegou a empregar mais de 80 mil trabalhadores em seu auge, mas esse número caiu drasticamente após 2015.
Modernização, inovação e desafios
A aposta em parcerias com a China, maior potência global em construção de navios, oferece ao Brasil a possibilidade de modernizar seus estaleiros, absorver novas tecnologias e ampliar o acesso a linhas de crédito internacionais.
Essa cooperação, porém, exige negociações criteriosas para garantir transferência efetiva de conhecimento e benefícios concretos para a indústria brasileira.
A reativação dos estaleiros nacionais também poderá fortalecer outras áreas da economia, como a cadeia de suprimentos, logística e fornecimento de componentes, contribuindo para diversificar a base industrial do país.
O apoio governamental, com políticas de incentivo e garantia de conteúdo local, é apontado como fator determinante para que as parcerias com os chineses gerem resultados duradouros e transformem o futuro naval brasileiro.
Diante desse novo ciclo de investimentos e da aposta em parcerias internacionais, cresce a expectativa sobre como a indústria naval nacional irá se posicionar diante dos desafios tecnológicos, das exigências de sustentabilidade e da competição global.
Será que a entrada de gigantes chineses será capaz de impulsionar definitivamente a modernização e a independência do setor naval brasileiro, ou os obstáculos financeiros e regulatórios ainda vão limitar o avanço dessa cadeia estratégica?