Petrobras despenca na Bolsa após Magda Chambriard sinalizar reentrada na distribuição de GLP, mercado vê risco à governança
Petroleira perde quase R$ 32 bilhões em valor de mercado após anunciar lucro em linha com o esperado, mas dividendos abaixo das projeções; intenção de voltar à distribuição de GLP também levanta temor de ingerência política
As ações da Petrobras fecharam a sexta-feira em forte queda, reagindo negativamente ao balanço do segundo trimestre e à sinalização de que a estatal pode retomar sua atuação no mercado de gás liquefeito de petróleo (GLP), o conhecido gás de cozinha. Juntos, esses fatores provocaram uma perda de R$ 31,9 bilhões no valor de mercado da companhia.
Os papéis ordinários (PETR3), com direito a voto, recuaram 7,93%, encerrando o pregão cotados a R$ 32,78. Já as ações preferenciais (PETR4), que não oferecem direito a voto mas são mais líquidas, registraram queda de 6,15%, fechando a R$ 30,33. O desempenho refletiu a frustração dos investidores com o valor dos dividendos distribuídos, inferior às expectativas do mercado, e com os possíveis impactos de uma mudança estratégica na atuação da estatal.
-
Nova regra do INSS elimina exigência presencial e corta burocracia que prejudicava milhares de beneficiários
-
O Brasil industrial de duas caras: Enquanto um estado despenca 21%, outro dispara 17%. Saiba quais.
-
Mina bilionária na África pode derrubar liderança no mercado de minério de ferro da Vale e cortar fatia global em 10 pontos
-
Isenção de IR aprovada e não é a de R$5 mil: Entenda o que realmente mudou
Apesar de ter reportado um lucro líquido de R$ 26,65 bilhões no segundo trimestre, valor considerado dentro das previsões, a Petrobras decidiu distribuir apenas R$ 8,66 bilhões em dividendos ordinários. A cifra decepcionou investidores como os da XP Investimentos, que projetavam uma distribuição na casa dos R$ 12,1 bilhões.
Lucro compatível, dividendos abaixo e despesas em alta
Além do impacto causado pela política de dividendos, os números operacionais também deixaram dúvidas. Mesmo com os preços internacionais do barril de petróleo do tipo Brent em queda, as despesas operacionais aumentaram, reduzindo a eficiência da companhia.
A geração de caixa, medida pelo Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), foi de US$ 10,2 bilhões no período. O banco BTG Pactual apontou que houve uma queda de 14% na comparação anual e de 4% em relação ao trimestre anterior. Segundo os analistas do banco, os efeitos negativos foram compensados apenas em parte pelo aumento da produção, mas a alavancagem da empresa aumentou, diminuindo sua flexibilidade financeira.
O Citi também viu o desempenho como abaixo do ideal. Os analistas destacaram o crescimento do capex — os investimentos em ativos fixos — mesmo diante da queda no preço do petróleo, o que acabou pressionando o fluxo de caixa livre e, por consequência, limitando o pagamento de dividendos.
Para a analista Monique Greco, do Itaú BBA, esse último ponto foi determinante: “Os dividendos são um dos principais atrativos da Petrobras para o investidor. Quando esse valor vem abaixo das expectativas, o impacto nos papéis é imediato”, afirmou.
Reentrada no mercado de gás de cozinha gera apreensão
Outro ponto que contribuiu para o tombo das ações foi a sinalização, durante teleconferência com investidores, de que a Petrobras pretende retornar ao setor de distribuição de gás de cozinha, do qual havia se retirado em 2021, após vender a Liquigás à Copagaz. Na época, a operação foi concluída durante o governo de Jair Bolsonaro como parte de um processo de desinvestimento.
A atual gestão, no entanto, parece disposta a reverter essa política. Segundo analistas do Banco Safra, a inclusão do segmento de GLP no novo Plano Estratégico da companhia pode abrir espaço para interferência nos preços de venda, algo que historicamente preocupa o mercado por reduzir a previsibilidade de retorno.
Fontes do setor afirmam que a decisão tem forte influência política. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já criticou diversas vezes os altos preços do botijão de gás e vinha pressionando a Petrobras a buscar formas de tornar o produto mais acessível à população.
Durante a apresentação dos resultados, a presidente da estatal, Magda Chambriard, confirmou a intenção de manter “as portas abertas” para a venda direta de combustíveis — como gás, gasolina e diesel — ao consumidor final por meio de postos. No entanto, ela também admitiu que a Petrobras ainda está limitada por contratos anteriores, que impedem seu retorno direto ao varejo de combustíveis até 2029, desde a venda da BR Distribuidora.
Mesmo assim, a menção à possibilidade de atuar em novos negócios no setor de distribuição — não apenas de GLP, mas também de derivados como diesel e gasolina — deixou o mercado em alerta quanto aos rumos da empresa e sua governança corporativa.