A Petrobras firmou um contrato histórico com a Índia para exportar 6 milhões de barris de petróleo, fortalecendo a presença brasileira no mercado asiático e ampliando o comércio com um dos principais membros do Brics.
A Petrobras assinou contrato com a estatal Bharat Petroleum Corporation Limited (BPCL), da Índia, para fornecer até 6 milhões de barris de petróleo ao longo de um ano.
O anúncio foi feito nesta quinta-feira (16) pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, durante missão oficial em Nova Délhi.
Segundo ele, o entendimento amplia a presença do Brasil no mercado asiático e fortalece a corrente de comércio com um parceiro estratégico do Brics.
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Contrato e escopo do fornecimento
Pelos termos divulgados publicamente, trata-se de um acordo anual, com possibilidade de prorrogação, voltado ao suprimento de óleo bruto brasileiro para refinarias indianas.
Alckmin classificou o acerto como uma demonstração de confiança na estatal e na economia brasileira.
Em seu relato, a aquisição pela Índia reforça a previsibilidade de escoamento da produção nacional e tende a abrir espaço para novos compromissos comerciais na área de energia.
A Petrobras não detalhou oficialmente cronograma de carregamentos, rotas ou especificações de blend.
Até o momento, o governo informou apenas o volume total previsto e o prazo do compromisso.
Fontes ouvidas pela pasta de Minas e Energia apontam que as entregas ocorrerão no curso do contrato, sem especificar portos de origem no Brasil ou janelas de embarque.
Índia: demanda elevada e diversificação
A Índia figura entre os maiores importadores de petróleo do mundo e busca diversificar fornecedores para reduzir riscos geopolíticos e garantir competitividade às suas refinarias.
Nesse contexto, a aproximação com o Brasil atende a uma estratégia de abastecimento que combina compras spot e contratos de termo, com a BPCL atuando como uma das principais compradoras estatais.
Para o Brasil, a venda se soma ao esforço de consolidar o país como fornecedor de óleo do pré-sal para mercados emergentes.
Após sucessivos recordes, o petróleo consolidou-se como um dos principais itens da pauta exportadora brasileira, o que dá ao acordo relevância econômica e logística.
Comércio bilateral: números atualizados
Enquanto o texto político ressalta a ampliação do intercâmbio, os dados oficiais mais recentes indicam que a corrente de comércio Brasil–Índia somou US$ 12,1 bilhões em 2024, com o país asiático entre os principais fornecedores do mercado brasileiro e também um destino relevante para exportações nacionais.
A estimativa do governo é elevar esse fluxo nos próximos anos, com base em novos entendimentos em energia, biocombustíveis, fármacos, tecnologia e agronegócio.
Além da agenda privada, as equipes técnicas discutem ajustes e ampliação do acordo comercial entre o Mercosul e a Índia, com foco na redução gradual de tarifas e na simplificação de regras para bens industriais e agroindustriais.
A sinalização é de que os dois lados pretendem acelerar o calendário de conversas para capturar oportunidades de investimento e de integração de cadeias.
O que muda para Petrobras e para o Brasil
Para a Petrobras, contratos de médio prazo com refinadores asiáticos ajudam a dar previsibilidade ao escoamento de volumes, complementando vendas spot e melhorando a gestão comercial do portfólio de óleos.
A demanda indiana tem apetites distintos por qualidades de cru, e o pré-sal — frequentemente com elevado teor de diesel após refino — costuma ter boa aceitação nas refinarias mais modernas.
No plano macro, acordos desse tipo contribuem para equilíbrio da balança comercial e para a entrada de divisas.
Ao mesmo tempo, impõem desafios logísticos: coordenação de janelas de atracação, disponibilidade de navios adequados e compatibilidade de padrões de carga e descarga nos terminais brasileiros e indianos.
A Transpetro, subsidiária logística da Petrobras, é responsável por parte significativa da operação de movimentação de petróleo no país.
Missão oficial e próximos passos
A agenda que levou o vice-presidente a Nova Délhi incluiu reuniões com autoridades locais e encontros com empresários de ambos os países.
O objetivo, segundo o governo brasileiro, é ampliar o fluxo de comércio e investimentos com a Índia e destravar frentes de cooperação em setores de alta intensidade tecnológica.
Foram citados ainda temas como transição energética, descarbonização de cadeias e estímulos a projetos em biocombustíveis, área em que o Brasil busca difundir expertise e padrões regulatórios.
Além do contrato com a BPCL, a comitiva discutiu iniciativas de facilitação comercial e possibilidades de parcerias industriais.
O Itamaraty e o MDIC trabalham na retomada de fóruns bilaterais e em mecanismos de monitoramento do comércio para acompanhar metas e remover entraves técnicos, alfandegários e sanitários.
A expectativa é que o resultado dessa coordenação apareça em novos anúncios setoriais ao longo dos próximos meses.
Contexto político e institucional
A cooperação reforça o eixo Sul–Sul em um momento de reconfiguração de cadeias globais e de busca por segurança energética.
Brasil e Índia integram o Brics e mantiveram agendas de alto nível em 2025.
Vale registrar que a presidência brasileira do G20 ocorreu em 2024, com cúpula realizada no Rio de Janeiro; neste ano, o fórum passou a outro país, mas as discussões sobre comércio, clima e energia seguem orientando a diplomacia econômica brasileira.
Embora o título destaque “acordo bilionário”, o governo não divulgou valores; o montante final depende de preço do barril, qualidade do óleo, prazos e custos logísticos.
Em termos de referência, a escala de 6 milhões de barris em um ano é material para o balanço de exportações, mas o cálculo financeiro só pode ser feito com parâmetros comerciais precisos, que não foram informados.