Uma nova tecnologia promete transformar sistemas de ventilação comuns em armas contra o aquecimento global, capturando CO₂ diretamente do ar e removendo até 596 milhões de toneladas por ano com baixo custo e mínima energia.
À medida que as emissões de carbono continuam a aumentar em todo o planeta, cientistas reforçam um consenso: reduzir não é mais suficiente — é preciso reverter. Nesse cenário, uma inovação promissora surge como alternativa eficiente e acessível: filtros instalados diretamente em sistemas de ventilação que capturam CO₂ do ar com baixíssimo consumo de energia e potencial para remover até 596 milhões de toneladas anuais em escala global.
Captura passiva e instalação simples
A tecnologia aposta em algo já presente em quase todos os edifícios modernos: os sistemas HVAC — sigla para aquecimento, ventilação e ar-condicionado.
A equipe de pesquisadores responsável pelo projeto desenvolveu um filtro de ar formado por nanofibras de carbono revestidas com um polímero chamado PEI, capaz de capturar dióxido de carbono de forma passiva sem comprometer o fluxo de ar.
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A principal vantagem dessa abordagem é a simplicidade. Em vez de construir grandes plantas industriais de captura direta de ar (DAC), caras e intensivas em energia, a solução distribui a tarefa por bilhões de pontos menores. Assim, escritórios, residências e fábricas podem contribuir diretamente para a remoção de CO₂ da atmosfera sem precisar de reformas complexas.
Regeneração solar e eficiência impressionante
Um dos maiores desafios das tecnologias atuais de captura de carbono está na regeneração — processo que libera o CO₂ capturado para armazenamento ou reutilização. Em sistemas tradicionais, essa etapa exige altas temperaturas e grandes quantidades de energia.
A nova tecnologia supera esse obstáculo ao permitir que os filtros sejam regenerados com calor solar direto, a cerca de 80 °C, ou com pulsos elétricos curtos de um a dois segundos.
Essa característica reduz drasticamente o gasto energético e facilita a adoção em áreas urbanas, onde a eficiência é crucial. Quando regenerado com energia solar, o sistema alcança 92% de eficiência líquida na captura de carbono, praticamente sem impacto no consumo energético do edifício.
Custos competitivos em comparação às usinas DAC
Além da eficiência, o custo da operação torna a tecnologia atraente. Pesquisadores calculam que a remoção de uma tonelada de CO₂ custaria cerca de US$ 362 utilizando calor solar. Caso a regeneração seja feita com eletricidade, o valor subiria para US$ 821 por tonelada.
Ainda assim, esses números se mantêm dentro da faixa atual das usinas DAC, que variam de US$ 100 a US$ 1.000 por tonelada, dependendo do acesso a fontes de energia barata.
Com incentivos fiscais e créditos de carbono, como os implementados nos Estados Unidos pela Lei de Redução da Inflação, o custo poderia cair ainda mais.
Essa faixa torna o investimento viável para empresas, prefeituras e edifícios comprometidos com metas de neutralidade climática.
Impacto global e desafios logísticos
A adoção em larga escala poderia gerar um impacto expressivo. Estimativas indicam que, somente nos Estados Unidos, a aplicação dos filtros em sistemas de ventilação eliminaria cerca de 25 milhões de toneladas de CO₂ por ano. Em nível global, o número poderia chegar a 596 milhões de toneladas — volume comparável às emissões anuais de países como Austrália ou Coreia do Sul.
O principal obstáculo para alcançar esse potencial não está na ciência, mas na logística. Produzir e distribuir filtros em massa e organizar sua manutenção e regeneração periódica exigem planejamento e infraestrutura.
Ainda assim, os desafios parecem mais administráveis do que erguer grandes instalações industriais de captura direta.
Startups como Heirloom e CarbonBuilt já exploram esse caminho, testando soluções descentralizadas em edifícios residenciais. Cidades como Copenhague e São Francisco também avaliam incluir tecnologias de captura passiva em seus códigos de construção sustentável.
Transformando edifícios em aliados do clima
Embora a nova tecnologia não resolva a crise climática sozinha, ela representa um passo importante rumo a soluções mais acessíveis, distribuídas e eficazes. Incorporar filtros de captura de CO₂ aos sistemas de ventilação existentes traria várias vantagens:
- Descarbonizar prédios sem reformas estruturais profundas.
- Transformar residências, fábricas e escritórios em aliados no combate às mudanças climáticas.
- Complementar políticas públicas com ações cotidianas.
- Reduzir a dependência de megainfraestruturas industriais.
- Facilitar a adesão da população sem exigir mudanças drásticas no estilo de vida.
Quando combinada a estratégias como eletrificação, eficiência energética e expansão das fontes renováveis, a tecnologia pode acelerar a criação de cidades que não apenas reduzem suas emissões, mas também removem carbono da atmosfera.
Uma possibilidade real de mudança
A ideia de transformar cada edifício em um agente ativo na captura de carbono parece, à primeira vista, utópica. No entanto, os avanços recentes mostram que essa visão já é tecnicamente possível.
O próximo passo envolve decisões políticas, investimentos estratégicos e incentivos adequados para escalar a produção e tornar os filtros parte integrante dos ambientes urbanos.
Se implementada em larga escala, a tecnologia pode redefinir o papel das construções humanas no equilíbrio climático global — de meros consumidores de energia a protagonistas na restauração da atmosfera. E, diante da urgência da crise ambiental, soluções assim não são apenas desejáveis: são indispensáveis.
Estudo disponível em Sciense.