Novo plástico supramolecular resiste ao uso diário e se decompõe na água do mar, oferecendo uma solução inovadora para reduzir a poluição e proteger os oceanos
O plástico é parte da vida moderna. Presente em embalagens, produtos e construções, ele facilita o dia a dia, mas também se tornou um grande problema ambiental. Nos oceanos, o plástico sufoca animais, destrói habitats e pode durar séculos.
Quando se degrada, muitas vezes vira microplástico, que entra na cadeia alimentar e ameaça a vida marinha e humana. Apesar de campanhas de reciclagem e proibições, o problema dos microplásticos persiste.
Agora, cientistas podem ter encontrado uma solução: um novo tipo de plástico que desaparece na água salgada. Publicado na revista Science, o estudo apresenta os chamados “plásticos supramoleculares”.
-
A Lua esconde um tesouro abundante que vale US$ 20 milhões o quilo — e os cientistas estão prontos para extraí-lo
-
Ameaça à Starlink? Cientistas chineses estudam formas de destruir satélites de Elon Musk em caso de conflito
-
TV como você conhece está com os dias contados: nova geração com 8K, inteligência artificial e conectividade total chega ao Brasil
-
Torre de vigia romana de 1.800 anos é achada e expõe tática militar
Esses materiais são resistentes, versáteis e, o mais importante, se dissolvem no oceano sem deixar microplásticos. A descoberta pode ajudar a combater um dos maiores desafios ambientais da atualidade.
Como o novo plástico é feito
O segredo está na composição simples, mas eficiente. O plástico é formado por dois ingredientes principais: hexametafosfato de sódio e sulfato de guanidínio. O primeiro é encontrado em alimentos e produtos de limpeza. O segundo é um composto à base de sal.
Quando esses dois compostos são dissolvidos em água, criam uma rede molecular densa, unida por forças chamadas “pontes salinas”.
Depois de formar a rede, ela pode ser seca e moldada em filmes, recipientes e até mesmo objetos impressos em 3D. Assim, é possível fabricar diversos produtos plásticos a partir dessa estrutura.
A inovação está na reação à água salgada. Ao entrar em contato com o oceano, as ligações moleculares se rompem.
O material se desintegra e volta a ser substâncias simples, que bactérias marinhas conseguem digerir sem problemas. Filmes plásticos finos podem se dissolver em poucas horas. Pedaços mais espessos desaparecem em alguns dias.
Diferenças em relação aos plásticos convencionais
Uma vantagem importante é que o novo plástico não precisa de condições especiais para se decompor. Plásticos biodegradáveis tradicionais geralmente exigem calor ou compostagem industrial para quebrar suas estruturas.
Já o plástico supramolecular reage naturalmente ao ambiente marinho, onde o lixo plástico costuma se acumular.
Mesmo fora do oceano, ele não se transforma em um problema de longo prazo. Se enterrado no solo, por exemplo, o material se decompõe naturalmente em compostos orgânicos. Isso evita o acúmulo de resíduos sólidos que demorariam centenas de anos para desaparecer.
Além de ecológico, o novo plástico também é seguro. Ele não é tóxico, não é inflamável e não gera emissões de CO₂. Em temperaturas acima de 120°C, pode ser remodelado, assim como os termoplásticos convencionais.
Qualidade e resistência comprovadas
Apesar de ser projetado para desaparecer, o material é surpreendentemente resistente. De acordo com Takuzo Aida, do Centro RIKEN de Ciência da Matéria Emergente, a estrutura reversível do plástico não compromete sua força ou estabilidade.
Testes mostraram que ele suporta calor e pressão tão bem quanto muitos plásticos tradicionais. Além disso, sua capacidade de ser dissolvido e refeito facilita a reciclagem.
Os componentes principais podem ser recuperados e usados para produzir novos plásticos, criando um ciclo de reaproveitamento que reduz ainda mais o impacto ambiental.
O potencial é vasto. Desde embalagens de alimentos até sacolas de supermercado, muitas aplicações diárias poderiam adotar o material. O plástico também é promissor para impressão 3D, oferecendo uma alternativa sustentável para a fabricação de objetos complexos.
Próximos desafios para adoção
Apesar dos resultados promissores, o caminho para o uso em larga escala ainda é longo. As linhas de produção precisam ser adaptadas para fabricar os novos plásticos. Indústrias acostumadas aos plásticos tradicionais terão que se convencer das vantagens ambientais e comerciais.
Os custos de produção, a durabilidade em condições extremas e a adaptação dos processos de reciclagem são pontos que precisam de mais estudos. Testes adicionais devem ser realizados para comprovar a eficácia do material em diferentes cenários.
Outro fator importante será o apoio de políticas públicas. Incentivos governamentais podem acelerar a aceitação do novo plástico pelo mercado. Regulamentações específicas também podem ser criadas para estimular o uso de materiais que se dissolvem de maneira segura no meio ambiente.
Um novo conceito de plástico
A descoberta dos plásticos supramoleculares marca uma mudança de perspectiva. Em vez de criar materiais projetados para durar para sempre, os cientistas agora buscam desenvolver produtos úteis por um tempo limitado e que depois desaparecem sem causar danos.
Essa nova abordagem pode redefinir a maneira como a sociedade lida com o lixo plástico. Ao apostar em soluções que respeitam os ciclos naturais, a ciência oferece uma nova esperança para um futuro com oceanos mais limpos e menos poluição.
Se os desafios de produção e aceitação forem superados, o plástico que se dissolve na água pode ser um divisor de águas na luta contra a crise global do plástico.