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Pesquisadores descobriram que a poeira liberada pelo desgaste de pastilhas de freio pode ser mais tóxica e prejudicial à saúde do que os gases emitidos pela queima de combustível

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 17/02/2025 às 15:04
pastilhas de freio
Foto: Reprodução
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Estudo aponta que partículas liberadas por pastilhas de freio podem ser mais perigosas que os gases da queima de combustível, afetando a qualidade do ar e a saúde.

A poluição atmosférica é um problema global, associado a milhões de mortes prematuras por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Quando pensamos em poluição nas cidades, o escapamento dos veículos, especialmente os movidos a diesel, é comumente apontado como o principal vilão. No entanto, um estudo recente revelou que algo ainda mais tóxico e negligenciado pode estar prejudicando a nossa saúde: a poeira liberada pelo desgaste das pastilhas de freio.

Essa poeira, parte das chamadas “emissões não provenientes do escapamento“, inclui partículas geradas pelo atrito de pneus, freios e do próprio asfalto.

De acordo com os pesquisadores, esse tipo de emissão já ultrapassou as emissões de escapamento em muitos países europeus. O mais alarmante: a poeira das pastilhas de freio mostrou-se mais prejudicial para as células pulmonares do que as partículas oriundas do diesel.

O experimento em laboratório

Para chegar a essa conclusão, os cientistas cultivaram células pulmonares em laboratório, simulando o revestimento interno dos pulmões humanos.

Essas células foram expostas a partículas de poeira de freio e de escapamento de diesel. O resultado surpreendeu: as células expostas à poeira dos freios apresentaram danos significativos, com respostas inflamatórias ligadas a doenças respiratórias graves, como câncer, asma e fibrose pulmonar.

Curiosamente, os testes mostraram que o cobre presente nessas partículas tem papel crucial na toxicidade observada.

Quando a poeira foi tratada para neutralizar o cobre, o impacto nocivo sobre as células pulmonares diminuiu consideravelmente.

Apesar disso, a regulamentação atual no Reino Unido, por exemplo, ainda foca apenas nas emissões do escapamento, ignorando completamente esse tipo de poluente.

Matéria particulada (MP) de desgaste de freio de quatro tipos diferentes de pastilhas de freio, bem como MP de escapamento de diesel foram coletados em um ambiente de laboratório. Dado que PM2,5–0,1 pode atingir os alvéolos, investigamos os efeitos diferenciais dos tipos de MP derivados de veículos em uma cultura submersa de células epiteliais alveolares tipo II. (Parkin et al., 
Particle and Fibre Toxicology , 2025)

O passado tóxico das pastilhas de freio

As pastilhas de freio já foram produzidas com amianto, um material eficaz para lidar com o calor gerado pelo atrito, mas altamente tóxico.

O amianto foi proibido no Reino Unido em 1999 devido à sua ligação com doenças respiratórias graves, como a asbestose e o câncer de pulmão. Com a proibição, surgiram alternativas, como as pastilhas orgânicas sem amianto (NAO, na sigla em inglês).

No entanto, o estudo revelou um dado irônico: a poeira liberada por essas pastilhas NAO, criadas para serem mais seguras, mostrou-se a mais tóxica entre as opções testadas. Ela causou mais danos às células pulmonares que a poeira do escapamento de diesel, desafiando a percepção comum de que os freios seriam um problema secundário.

A análise química dessas partículas revelou altos níveis de metais, especialmente o cobre. O cobre é um metal essencial para diversas funções biológicas, mas, quando inalado em concentrações elevadas, pode provocar inflamações pulmonares e outros danos.

Estudos anteriores já associaram o excesso de cobre no ar com o comprometimento da função respiratória e aumento da mortalidade.

O papel dos veículos elétricos

Com o crescimento da frota de veículos elétricos (VEs), muitos esperavam uma redução significativa na poluição urbana. Embora os VEs eliminem as emissões de escapamento, eles não resolvem o problema das emissões não provenientes do escapamento.

Pelo contrário, a tendência é que essa poluição aumente, já que os VEs, devido às baterias pesadas, costumam ter mais massa, gerando maior desgaste nos pneus, freios e no asfalto.

Embora sistemas de frenagem regenerativa – que desaceleram o veículo usando o motor elétrico – reduzam o uso dos freios tradicionais, os VEs ainda possuem freios por fricção, responsáveis pela emissão dessas partículas tóxicas. Portanto, o rótulo “emissão zero” não reflete toda a realidade ambiental desses veículos.

Regulamentações e inovações no horizonte

A introdução dos padrões de emissões Euro 7, prevista para novembro de 2026, promete estabelecer limites para as emissões de poeira de freio.

Essa mudança pode incentivar a indústria automobilística a desenvolver materiais menos tóxicos e a adotar mecanismos que capturem essas partículas antes que elas se dispersem no ar.

Nos Estados Unidos, estados como Califórnia e Washington já saíram na frente, restringindo o uso de cobre nas pastilhas de freio, principalmente devido a preocupações ambientais com a contaminação de cursos d’água.

Essas regulamentações, embora motivadas pela preservação aquática, também podem trazer benefícios à saúde pública ao reduzir a exposição humana a esse metal.

Um perigo invisível no ar

Estima-se que as emissões não provenientes do escapamento representem cerca de 60% das partículas liberadas por veículos no Reino Unido.

Esse percentual tende a crescer com o aumento da frota elétrica. Essas partículas, invisíveis a olho nu, penetram profundamente no sistema respiratório e podem alcançar a corrente sanguínea, afetando diversos órgãos.

O desafio agora é convencer autoridades e fabricantes a expandirem as regulamentações, considerando essas emissões ocultas e perigosas. A reformulação das pastilhas de freio, com materiais menos nocivos, surge como uma medida urgente e viável.

O ar que respiramos nas cidades está repleto dessas partículas invisíveis, provenientes não apenas dos escapamentos, mas também dos freios, pneus e do desgaste das ruas.

A ciência agora deixa claro: ignorar essas emissões é negligenciar uma ameaça silenciosa à saúde pública. O passo seguinte depende da ação conjunta entre governos, indústrias e a sociedade para enfrentar esse risco ainda pouco conhecido, mas profundamente impactante.

Estudo disponível em particleandfibretoxicology e informações de theconversation.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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