Em meio a derrota eleitoral na província de Buenos Aires e ao escândalo envolvendo Karina Milei, o Banco Central da Argentina interveio pela primeira vez desde abril e vendeu US$ 53 milhões para conter o dólar dentro da banda cambial.
A Argentina viveu, nesta quarta-feira (17), a primeira intervenção direta no câmbio desde a adoção do regime de bandas em abril. O Banco Central (BCRA) vendeu US$ 53 milhões após o dólar atingir o teto da banda em 1.474,50 pesos no mercado atacadista, acionando o mecanismo pactuado com o FMI, segundo informaram veículos locais e agências internacionais.
A movimentação ocorre um dia após a derrota do governo Milei nas eleições legislativas da província de Buenos Aires e em meio a pressões políticas e judiciais causadas por áudios e denúncias que citam a irmã do presidente, Karina Milei.
Intervenção “no gatilho” da banda cambial
O BCRA entrou vendedor quando a cotação tocou o limite superior da banda de flutuação, parâmetro que, pelo acordo com o FMI, se amplia 1% ao mês e autoriza o banco a atuar quando o teto é alcançado. A venda de US$ 53 milhões foi descrita como a primeira desde que o esquema passou a vigorar em abril de 2025, num esforço para defender o peso e evitar movimentos bruscos de desvalorização. Infobae, Buenos Aires Herald e Reuters detalharam a dinâmica do dia e a regra do programa com o Fundo.
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Para investidores, o gesto sinaliza mudança tática em um governo que prometia mínima intervenção. O Financial Times e a Bloomberg destacaram o caráter simbólico: ao acionar reservas, Milei tenta reduzir a volatilidade sem abandonar o arcabouço liberal, mas reconhece que a política cambial precisa de “amortecedores” em meio à incerteza.
Embora pequena, a operação ocorre num contexto de reservas pressionadas e crescimento frágil, o que torna cada dólar relevante para âncorar expectativas e evitar que o câmbio contamine preços e importações. Segundo a nota do FMI sobre o EFF de US$ 20 bilhões, o desenho da banda justamente prevê “intervenções gatilhadas” como instrumento de estabilização.
Choque político e perda de confiança
A decisão veio após a derrota da Liberdade Avança na província de Buenos Aires em 7 de setembro — um revés considerado medular para o humor dos mercados, dada a relevância eleitoral e fiscal do distrito. Reuters e Buenos Aires Herald reportaram vantagem superior a 13 pontos para o peronismo, reforçando a leitura de governabilidade mais difícil para o Planalto argentino.
A esse quadro somam-se os áudios e a disputa judicial em torno de Karina Milei, secretária-geral da Presidência. Matérias de Reuters, WSJ, El País e Infobae relatam o impacto do caso nas expectativas e a discussão sobre supostos pedidos de propina no órgão de políticas para pessoas com deficiência (ANDIS), algo que o governo nega. O tema elevou a temperatura política e adicionou incerteza ao radar dos investidores.
Com crescimento desaquecido e aperto monetário já testado, a “valorização defensiva” do dólar acabou por exigir a ação direta do BCRA. Para analistas ouvidos por agências internacionais, intervenções pontuais podem conter picos de estresse, mas erodem reservas se o fluxo de capitais não melhorar.
Riscos e limites da estratégia
A intervenção no teto evita a ruptura do regime e manda mensagem de compromisso com o programa do FMI, que prevê uma banda móvel e transparente. Ao mesmo tempo, expõe o dilema entre defender o peso e preservar reservas, sobretudo enquanto a confiança não se recompõe e a política segue ruidosa.
Se o câmbio permanecer pressionado, o governo pode ser levado a novos leilões, elevando o custo de manter o dólar dentro da banda. A normalização dependerá de melhoras fiscais, recomposição de reservas e alívio do risco político após o ciclo eleitoral. Como apontaram FT e Reuters, esse equilíbrio é frágil e sensível a surpresas. Qualquer novo choque (judicial, eleitoral ou externo) pode reacender a demanda por dólar.
Para empresas e consumidores, a contenção de saltos cambiais ajuda a mitigar repasses e preservar cadeias de importação em bens essenciais. Mas a volatilidade ainda é elevada, e o impacto sobre juros, crédito e atividade segue no radar do mercado.
Você acha que a intervenção foi um recuo necessário para evitar uma nova corrida cambial ou um sinal de fraqueza que pode encorajar ataques ao peso? Deixe seu comentário e diga se você concorda com o uso das reservas neste momento.