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Assim foi a atuação da Inquisição no Brasil entre 1536 e 1821

Publicado em 02/07/2025 às 15:06
Inquisição, Brasil, Perseguição
A imagem mostra uma ilustração antiga da sede do Tribunal do Santo Ofício em Lisboa, onde muitos brasileiros foram julgados pela Inquisição: Wikimedea Commons
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No Brasil colonial, a Inquisição perseguiu milhares de pessoas por judaísmo, feitiçaria e “sodomia”, deixando um legado de repressão e medo

Quando se fala em Inquisição, muita gente pensa em mulheres queimadas na fogueira ou hereges torturados na Europa medieval. Mas o tribunal da Igreja Católica também atuou no Brasil.

Durante o período colonial, milhares de pessoas foram perseguidas, denunciadas e punidas por práticas como feitiçaria, judaísmo e “sodomia”.

A Inquisição Portuguesa foi oficialmente criada em 1536, com autorização do rei João III e do papa Paulo III. Seu alvo principal eram os “cristãos-novos”, judeus convertidos à força ao cristianismo.

Mas o tribunal também perseguia outras condutas consideradas heréticas. O Brasil não teve um tribunal fixo como os da Espanha, mas a colônia foi alcançada pelo poder do Santo Ofício.

As visitações no Brasil colonial

No fim do século 16, começaram as chamadas “visitações”. Agentes da Inquisição vinham de Portugal para colher denúncias.

Padres locais colaboravam com o trabalho. Editais eram afixados nas igrejas, listando comportamentos proibidos. Quem se autodelatasse nos primeiros 30 dias podia receber penas menores.

O clima de medo se espalhava. Vizinhos denunciavam vizinhos. Filhos acusavam os próprios pais. Algumas denúncias eram filtradas no Brasil, mas os casos mais graves eram enviados para Lisboa.

Os réus eram presos, interrogados, torturados e perdiam seus bens. Mesmo inocentes costumavam confessar para tentar escapar de castigos mais pesados.

Os julgamentos terminavam nos “autos de fé”, com punições públicas — incluindo a fogueira, quando a sentença era de morte, aplicada pelo poder civil.

Milhares de vítimas brasileiras

A historiadora Anita Novinsky estima que mais de mil pessoas foram levadas do Brasil para julgamento em Lisboa. Pelo menos 20 foram executadas. Outras milhares sofreram punições físicas, espirituais e sociais.

A perseguição aos cristãos-novos

As perseguições atingiram vários grupos. Os cristãos-novos foram maioria entre os processados. Muitos mantinham a fé judaica em segredo, prática conhecida como criptojudaísmo. Guardar o sábado ou evitar carne de porco podia levantar suspeitas e gerar denúncias.

Um dos casos mais conhecidos é o de Ana Rodrigues. Ela foi presa em 1593, aos 80 anos. Era matriarca de uma família no Recôncavo Baiano.

Foi levada para Lisboa e morreu na prisão, antes de ser julgada. Mesmo assim, seus restos foram condenados. Os ossos foram desenterrados e queimados publicamente.

Condenações por “sodomia”

A Inquisição também condenava o que chamava de “sodomia”. Esse termo abrangia qualquer prática sexual fora dos padrões cristãos.

A portuguesa Felipa de Souza foi acusada por se relacionar com mulheres. Em 1591, foi julgada em Salvador, sentenciada e exilada. Hoje, seu nome é lembrado por movimentos LGBT.

Acusações de feitiçaria e racismo religioso

Queimadas como bruxas, as mulheres foram minoria no Brasil. Mas as acusações de feitiçaria eram frequentes.

Muitas envolviam mulheres negras, indígenas e mestiças. Chás, rezas, benzimentos e amuletos eram vistos como ameaça à doutrina. Essa repressão marca as origens do racismo religioso no país.

Há registro de pelo menos 15 processos formais em Lisboa contra mulheres acusadas de bruxaria no Brasil.

A maioria era negra ou indígena. Outras denúncias não viraram processo, mas alimentaram o medo e o controle constante.

Joana e Custódia: ritual transformado em crime

Um dos episódios mais marcantes ocorreu em 1760. Joana e Custódia, mulheres escravizadas no Piauí, confessaram ter participado de um “sabá”.

Esse termo, no imaginário cristão europeu, era usado para descrever reuniões de bruxas com rituais demoníacos.

O relato do jesuíta responsável falava em blasfêmias e invocações. Mas os elementos citados indicam que o ritual era afro-indígena, tradicional, e foi demonizado pela visão religiosa dominante.

Naquele período, a Inquisição já estava em decadência. O avanço do pensamento iluminista e a influência do Marquês de Pombal começaram a enfraquecer o tribunal.

Em 1821, o Tribunal do Santo Ofício foi oficialmente extinto. Mas o medo, o controle e a exclusão social deixaram cicatrizes profundas.

Boa parte dos documentos da Inquisição foi preservada em Portugal, na Torre do Tombo. Só nos últimos anos esses arquivos começaram a ser mais estudados.

A história da Inquisição no Brasil ainda está sendo descoberta. Mas o que já se sabe revela um período de silêncio forçado, vigilância constante e repressão religiosa.

Com informações de Super Interessante.

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Romário Pereira de Carvalho

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