Subprodutos do etanol de milho e da soja estão transformando a pecuária brasileira, tornando a produção de carnes mais eficiente, sustentável e competitiva no mercado global
A pecuária brasileira vive um momento de expansão acelerada, impulsionada por fatores que vão além da genética animal e da tecnologia de confinamento. Em 17 de setembro de 2025, durante o 5º Fórum Pecuária Brasil, especialistas destacaram o papel estratégico dos biocombustíveis — especialmente o etanol de milho e os derivados da soja — como motores da produção de carnes no país.
Segundo Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, o farelo de soja e o DDG (grãos secos de destilaria), subprodutos da produção de biocombustíveis, têm sido fundamentais para intensificar a pecuária, permitindo abates mais precoces e carnes de melhor qualidade. Este artigo explora como essa sinergia entre agroenergia e proteína animal está transformando o agronegócio brasileiro.
Produção de carnes ganha força com biocombustíveis
A relação entre biocombustíveis e pecuária não é apenas complementar — é estratégica. O Brasil, que já é referência mundial na produção de carnes, tem ampliado sua capacidade graças ao uso inteligente dos subprodutos gerados na produção de etanol de milho e no esmagamento da soja.
-
Raquel Lyra destaca biometano na segurança energética de Pernambuco
-
Grupo SADA investe R$ 1,1 bilhão na produção de etanol de milho em Minas e Goiás para ampliar oferta de biocombustíveis no Brasil
-
Investimento de R$ 150 milhões inaugura usina no RS capaz de gerar gás para 12,5 mil botijões por dia a partir de lixo
-
PlanET Biogás e RENU Energia se unem para expandir usina de biometano no Paraná
- Etanol de milho: A produção nacional atingiu 11,1 bilhões de litros em 2025, com previsão de crescimento para 16 bilhões até 2026. Esse avanço significa mais DDG disponível, uma fonte rica de proteína para alimentação animal.
- Soja: O esmagamento da oleaginosa duplicou nos últimos 10 anos, com crescimento médio de 3 milhões de toneladas por ano. O farelo gerado é essencial para rações de bovinos, suínos e aves.
Esses insumos têm elevado a eficiência da produção de carnes, tornando o Brasil ainda mais competitivo no mercado internacional.
Subprodutos dos biocombustíveis na nutrição da pecuária
O DDG é um subproduto do processo de fermentação do milho para produção de etanol. Rico em proteína e energia, ele substitui parcialmente o milho e a soja nas rações, reduzindo custos e melhorando o desempenho animal.
- Benefícios:
- Aumento da taxa de ganho de peso dos animais
- Redução do tempo de confinamento
- Melhoria na qualidade da carne
Com a expansão da produção de etanol de milho, o DDG se torna cada vez mais acessível aos pecuaristas, fortalecendo a cadeia da produção de carnes.
Farelo de soja: base da nutrição animal brasileira
O farelo de soja é o principal ingrediente proteico das rações no Brasil. Com o crescimento do esmagamento da soja, há maior disponibilidade desse insumo, o que favorece a pecuária intensiva.
- Dados relevantes:
- O Brasil é o maior exportador mundial de farelo de soja
- A produção interna garante abastecimento estável para o setor pecuário
A soja, portanto, não apenas movimenta o mercado de grãos, mas também sustenta a base da produção de carnes no país.
Exportações de carne em alta: reflexo da eficiência da pecuária
Maurício Velloso, presidente da Assocon (Associação Nacional da Pecuária Intensiva), destacou que a demanda global por carne brasileira segue em alta, mesmo diante de barreiras comerciais.
- Julho de 2025: Exportação recorde de 313,6 mil toneladas de carne bovina
- Agosto de 2025: Segunda maior exportação da série histórica, com receita de R$ 1,6 bilhão — alta de 50% em relação ao mesmo mês de 2024
Esses números mostram que, apesar de tarifas adicionais impostas por países como os Estados Unidos, o Brasil mantém sua relevância no mercado internacional, graças à qualidade e à competitividade da sua produção de carnes.
Pecuária intensiva e sustentabilidade: integração com biocombustíveis
A evolução da pecuária brasileira não se limita à nutrição animal. O setor tem investido em tecnologias sustentáveis que tornam o sistema produtivo mais eficiente e menos agressivo ao meio ambiente.
Agricultura de pasto e confinamento inteligente
- Técnicas como pastejo rotacionado, silagem e fenação aumentam a produtividade por hectare
- Confinamentos brasileiros passaram de aprendizes a referência mundial
Essa transformação garante não apenas sustentabilidade ambiental, mas também econômica, com custos de produção mais baixos e maior retorno para os produtores.
Biocombustíveis como aliados da sustentabilidade pecuária
A integração entre biocombustíveis e pecuária intensiva também contribui para a redução da pegada de carbono. O uso de subprodutos como DDG e farelo de soja evita o desperdício e maximiza o aproveitamento dos recursos agrícolas.
Além disso, a produção de etanol de milho e biodiesel a partir da soja tem se tornado mais eficiente, o que reforça o compromisso do setor com práticas sustentáveis.
Dados que comprovam a sinergia entre pecuária e biocombustíveis
Indicador | Valor Atual (2025) | Projeção para 2026 |
Produção de etanol de milho | 11,1 bilhões de litros | 16 bilhões de litros |
Exportação de carne bovina (jul) | 313,6 mil toneladas | — |
Receita de exportação (ago) | R$ 1,6 bilhão | — |
Crescimento do esmagamento de soja | +3 milhões de toneladas/ano | — |
Esses dados reforçam o papel dos biocombustíveis como alicerce da pecuária moderna e da produção de carnes no Brasil.
O Brasil como referência global em proteína animal e agroenergia
A pecuária brasileira vive uma revolução silenciosa, alimentada por subprodutos de um setor que antes era visto apenas como energético. O etanol de milho e a soja deixaram de ser apenas combustíveis ou commodities — tornaram-se insumos estratégicos para a produção de carnes.
Com o crescimento da produção de biocombustíveis, a pecuária intensiva ganha força, eficiência e sustentabilidade. O Brasil se consolida como líder global não apenas em volume, mas em qualidade e inovação.
A sinergia entre agroenergia e proteína animal é um exemplo claro de como o agronegócio brasileiro pode ser competitivo, sustentável e protagonista no cenário mundial. E tudo indica que essa tendência continuará nos próximos anos, com ganhos para produtores, consumidores e para o meio ambiente.