Conhecida como o ponto mais temido da Trilha Inca, a Passagem da Mulher Morta mistura lenda, altitude extrema e paisagens deslumbrantes, sendo o maior desafio dos 43 km até Machu Picchu
A Passagem da Mulher Morta, ou Warmiwañusqa no idioma quéchua, é o ponto mais alto, e também o mais temido, da lendária Trilha Inca rumo a Machu Picchu. A 4.215 metros acima do nível do mar, esse trecho é famoso por sua beleza estonteante, mas também por desafiar até os caminhantes mais preparados, exigindo resistência física, aclimatação prévia e força de vontade.
De acordo com reportagens, essa parte do trajeto é responsável por grande parte dos abandonos por mal da altitude, mas também é onde muitos celebram o ápice da jornada com emoção, fotos, e até rituais simbólicos de conquista.
Onde a lenda encontra o desafio físico
A Passagem da Mulher Morta não recebeu esse nome por acaso. De acordo com moradores locais e lendas ancestrais, o relevo montanhoso forma a silhueta de uma mulher deitada, figura visível quando se observa o local do fundo do vale. Essa imagem simbólica ganhou força ao longo do tempo, tornando-se parte da mística da Trilha Inca.
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O nome original, Warmiwañusqa, combina os termos quéchuas para “mulher” (warmi) e “morta” (wañusqa). Mas não se trata apenas de folclore: esse é o ponto de maior elevação do percurso, o que transforma essa parte em um verdadeiro teste de superação.
O trajeto até a Passagem da Mulher Morta começa de forma suave, com trilhas ladeadas por florestas nubladas e ruínas incas. Mas à medida que a altitude aumenta, a vegetação diminui, o ar rarefeito toma conta e o calor do dia pode dar lugar a ventos cortantes e até chuva fina.
A 4.215 metros de altura, a dificuldade respiratória é real. Segundo o Bookmundi, os primeiros sintomas do mal da altitude incluem dor de cabeça, náusea, tontura, fadiga intensa e até vômito. Isso pode ocorrer a partir de 2.400 metros e se agravar conforme se sobe.
A recomendação dos especialistas é clara: quem pretende fazer a Trilha Inca deve passar ao menos dois dias em Cusco (3.400m) antes da partida, para aclimatar o corpo. Também é importante evitar álcool, bebidas energéticas e dormir bem.
Entre as soluções tradicionais para aliviar os sintomas estão o chá de coca e o uso de remédios como acetazolamida, mas a única cura comprovada para o mal da altitude é a descida para níveis mais baixos.
Mesmo com todos os desafios, a recompensa visual da Passagem da Mulher Morta é incomparável: o topo oferece vista panorâmica dos Andes peruanos, vales encobertos por nuvens e o verdadeiro senso de conquista, registrado por muitos viajantes em fotos e lágrimas.
O segundo dia mais difícil da Trilha Inca
A Trilha Inca, com seus 43 quilômetros, é dividida em quatro dias. A subida até a Passagem da Mulher Morta ocorre no segundo dia, considerado por muitos o mais duro de todos. O trecho é quase inteiramente de subida, com escadarias de pedra escorregadias e inclinação constante.
Conforme relatado pela G Adventures, esse é o momento em que muitos se questionam por que aceitaram o desafio, mas também o momento em que o espírito da jornada começa a se revelar. O isolamento do local, a altitude e a dificuldade física promovem uma espécie de “batismo de fogo” para os aventureiros.
A trilha se transforma radicalmente ao longo do dia: sai da vegetação densa para campos alpinos áridos. Com poucas árvores e exposição direta ao clima, é comum passar por sol intenso, chuvas e ventos em um intervalo de poucas horas.
A maioria dos grupos faz pausas estratégicas para descansar, alimentar-se com snacks energéticos e beber muita água. Bastões de caminhada são essenciais nesse trecho, tanto para aliviar o impacto nos joelhos quanto para manter o ritmo estável.
É comum ver trilheiros emocionados ao atingir o topo, muitos deles tirando fotos com os braços erguidos, gritando de felicidade ou apenas sentando-se em silêncio para contemplar a paisagem.
Do topo, começa a descida para o acampamento em Pacaymayu, um trecho íngreme, mas revigorante após o esforço da subida. A descida também é exigente, pois força articulações e músculos já exaustos.
A chegada ao acampamento traz sensação de alívio, confraternização entre os membros da expedição e um jantar bem servido, geralmente acompanhado de histórias e planos para o terceiro dia da jornada.
Preparação, fauna e a beleza selvagem do trecho
Vencer a Passagem da Mulher Morta exige preparação muito além do físico. É preciso mentalidade resiliente, planejamento logístico e respeito pelas forças da natureza e da altitude. Muitos trilheiros subestimam os efeitos do ar rarefeito e acabam sofrendo desnecessariamente.
Agências especializadas, como a Inka Trail Expedition Peru, recomendam treino prévio com trilhas locais, foco em resistência cardiovascular, caminhadas longas com carga leve e musculação para fortalecer pernas e joelhos.
Além do desafio, esse é um dos trechos mais bonitos de toda a Trilha Inca. Durante a subida, os viajantes são presenteados com visões da flora andina, orquídeas, bromélias, musgos, e podem encontrar espécies como o beija-flor gigante, alpacas e até o mítico condor-dos-andes voando sobre os penhascos.
O caminho é feito sobre pedras milenares colocadas pelos próprios Incas. O piso irregular, escadas desgastadas pelo tempo e muros baixos de contenção fazem parte da história viva que ainda ecoa por essas montanhas.
Outro elemento que torna a experiência única é o silêncio. Não há trânsito, eletricidade, nem sinal de celular. Apenas o som do vento, da respiração e dos passos sobre a pedra. Uma reconexão rara e poderosa com a natureza e consigo mesmo.
Ao completar o segundo dia e deixar a Passagem da Mulher Morta para trás, a maioria dos aventureiros se transforma. Sentem-se mais fortes, mais conectados à essência da jornada e mais determinados a alcançar Machu Picchu.
A partir daí, o restante da trilha até a Cidade Perdida dos Incas se torna menos temido. O trecho mais duro já ficou para trás, e deixou marcas de superação que cada viajante carrega para a vida.