Projeto bilionário de mineração submarina na Papua-Nova Guiné fracassa após 25 anos, deixando dívidas e virando exemplo mundial de fiasco tecnológico.
No fim da década de 1990, a promessa parecia revolucionária: explorar riquezas minerais escondidas a milhares de metros de profundidade no fundo do oceano. A empresa canadense Nautilus Minerals lançou um projeto ousado na Papua-Nova Guiné, chamado Solwara 1, com o objetivo de extrair cobre, ouro e outros metais preciosos diretamente do leito marinho.
Era o início de uma corrida tecnológica que poderia inaugurar uma nova era da mineração global. Com financiamentos bilionários, apoio de governos e investidores, a expectativa era clara: transformar os oceanos na próxima fronteira de exploração mineral.
Mas o que prometia ser uma virada histórica se transformou em um dos maiores fracassos da mineração mundial.
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Bilhões investidos, nenhum grama de minério
Foram mais de 25 anos de investimentos, pesquisas e tentativas. O projeto consumiu bilhões de dólares na criação de máquinas submersíveis, robôs de escavação e embarcações especiais.
O objetivo era ambicioso: perfurar o fundo do oceano a profundidades superiores a 1.600 metros, triturar rochas vulcânicas e bombear os minérios para a superfície. O minério estimado era riquíssimo: cobre de alta pureza e ouro em quantidades comerciais.
Porém, na prática, nenhum grama de minério chegou a ser extraído. A tecnologia falhou repetidamente, os custos dispararam e os prazos foram descumpridos ano após ano.
As promessas e o colapso
A Nautilus Minerals garantia que o Solwara 1 seria apenas o primeiro de uma série de projetos no Pacífico, capazes de transformar a mineração oceânica em uma nova fonte de riqueza global.
Mas, em 2019, a realidade bateu à porta: o projeto foi oficialmente cancelado. A empresa entrou em colapso financeiro, deixando dívidas que superaram os US$ 350 milhões e sem entregar nenhuma tonelada de minério.
O caso passou a ser citado por ambientalistas, economistas e engenheiros como exemplo de como a busca por avanços tecnológicos sem base consolidada pode resultar em tragédias financeiras.
Impactos ambientais e a reação internacional
Além do fracasso econômico, o projeto gerou intensas críticas ambientais. Cientistas alertavam que a mineração em alto-mar poderia devastar ecossistemas desconhecidos, destruir habitats marinhos e liberar substâncias tóxicas nas águas profundas.
A pressão internacional cresceu, e diversos países passaram a exigir uma moratória sobre a mineração submarina. Organizações como a Greenpeace e a Deep Sea Conservation Coalition reforçaram os alertas, afirmando que os riscos ambientais superavam qualquer promessa de lucro.
O colapso da Nautilus reforçou o argumento dos ambientalistas: se a tecnologia não conseguiu sequer iniciar a produção, qual seria o real impacto caso tivesse funcionado?
O sonho que virou pesadelo para a Papua-Nova Guiné
Para a Papua-Nova Guiné, país que cedeu sua costa para o experimento, o projeto foi um desastre. O governo investiu cerca de US$ 120 milhões na Nautilus Minerals, esperando retorno em forma de royalties, empregos e crescimento econômico.
No entanto, quando a empresa quebrou, o país ficou com a dívida e nenhum benefício. O episódio é lembrado até hoje como um pesadelo financeiro que comprometeu recursos públicos e deixou lições amargas sobre o risco de apostar em promessas tecnológicas não testadas.
Um dos maiores fiascos da mineração global
O caso do Solwara 1 entrou para a história como um dos maiores fiascos da mineração mundial. O contraste é evidente: enquanto empresas de mineração terrestre ainda conseguem extrair lucros mesmo em projetos problemáticos, a Nautilus Minerals não conseguiu produzir absolutamente nada em mais de duas décadas de tentativas.
O fracasso foi tão retumbante que especialistas passaram a chamá-lo de “Titanic da mineração”, uma metáfora perfeita para um projeto bilionário que acabou afundando antes mesmo de zarpar.
O futuro da mineração submarina
Apesar do fracasso da Nautilus, outros países e empresas continuam estudando formas de explorar os fundos oceânicos. A demanda crescente por minerais como cobalto, níquel, cobre e terras raras — essenciais para baterias e tecnologias de energia limpa — mantém o tema na pauta global.
A Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA), ligada à ONU, estuda regulamentações para o setor. Mas o colapso do projeto na Papua-Nova Guiné serve como alerta: a mineração oceânica ainda está longe de ser economicamente viável ou ambientalmente segura.
Lições de um colapso bilionário
O naufrágio do projeto Solwara 1 deixa algumas lições claras:
- Tecnologia sem maturidade pode gerar perdas bilionárias.
- Promessas de inovação não substituem viabilidade prática.
- O risco ambiental pode anular até mesmo ganhos potenciais.
- Governos devem ter cautela ao investir dinheiro público em apostas de alto risco.
Mais do que uma falha empresarial, o episódio é um lembrete de que nem todo “Eldorado” tecnológico é real.
O ouro do fundo do mar que nunca chegou à superfície
Após 25 anos de promessas, bilhões investidos e um rastro de dívidas, o projeto de mineração submarina na Papua-Nova Guiné terminou sem produzir absolutamente nada.
O que seria o “futuro da mineração” virou apenas um exemplo histórico de como o excesso de otimismo pode naufragar diante das barreiras técnicas, financeiras e ambientais.
No fim, o episódio confirma: o ouro do fundo do mar pode até existir, mas ainda está muito distante de se transformar em riqueza real. E para a Nautilus Minerals e a Papua-Nova Guiné, o sonho virou apenas um símbolo de fracasso.