Enquanto o mundo celebrava a Páscoa, cristãos na Palestina enfrentaram bloqueios, violência e limitações impostas por forças israelenses em meio à guerra e ocupação
A celebração da Páscoa de 2025 foi marcada por tristeza, violência e severas restrições para os cristãos palestinos na Faixa de Gaza, na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental. Em meio à guerra e à ocupação, milhares enfrentaram obstáculos para exercer sua fé em locais sagrados.
Celebração limitada em meio à destruição na faixa de Gaza
Na Faixa de Gaza, onde o exército israelense bloqueou por quase 50 dias a entrada de ajuda e alimentos, a celebração cristã se concentrou na Igreja Ortodoxa Grega de São Porfírio, na Cidade de Gaza.
O ambiente era de luto e receio. Famílias cancelaram encontros religiosos e sociais com medo de novos ataques aéreos, como os que já mataram dezenas de pessoas no enclave.
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A própria igreja de São Porfírio foi bombardeada em outubro de 2023, pouco após o início da guerra. Na ocasião, ao menos 18 palestinos deslocados que buscavam refúgio no local morreram.
Israel declarou que o alvo do ataque eram “terroristas”. Desde o início da guerra, mais de 51.000 palestinos foram mortos por ações militares israelenses.
Apelo do Papa por cessar-fogo em Gaza
Durante uma breve aparição no Vaticano, o Papa Francisco renovou seu pedido por um cessar-fogo em Gaza diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro. Ele também fez um apelo pela libertação de prisioneiros ainda mantidos por grupos armados palestinos.
A fala do Papa ganhou destaque em meio ao silêncio internacional. Sua mensagem foi vista como um raro gesto de solidariedade à comunidade cristã palestina e à população civil em Gaza.
Fé bloqueada na Cisjordânia ocupada
Na Cisjordânia, a situação também foi marcada por fortes restrições. Autoridades israelenses impediram que muitos cristãos acessassem locais religiosos importantes.
Houve confrontos com a polícia israelense nas proximidades da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém Oriental. Relatos apontam até agressões contra fiéis e um padre.
Segundo o pesquisador Fathi Nimer, da organização Al-Shabaka, a Cidade Velha de Jerusalém foi transformada em um “posto militar avançado”, com mais presença de soldados e policiais do que fiéis. “Há dezenas de postos de controle”, disse ele, relatando abusos, insultos e violência verbal.
Estima-se que somente 6.000 palestinos da Cisjordânia tenham recebido autorização para participar dos cultos de Páscoa este ano. Nem mesmo o representante do Vaticano na Palestina conseguiu permissão para entrar na igreja.
Restrições atingem cristãos históricos
Mitri Raheb, pastor e teólogo palestino de Belém, afirmou que nem mesmo líderes religiosos puderam participar das cerimônias. “Eu mesmo, como pastor, não tenho autorização para ir na Semana Santa, que é a semana mais importante para os cristãos ao longo do ano porque Jesus foi crucificado e ressuscitou em Jerusalém”, declarou.
Raheb destacou ainda que a comunidade palestina-cristã está presente na região há mais de 2.000 anos, mas hoje não consegue mais celebrar livremente. Ele relatou aumento nos ataques contra o clero e religiosos cristãos por colonos israelenses nos últimos meses.
Para ele, a repressão faz parte de uma tentativa mais ampla de enfraquecer a cultura e identidade palestinas. “Israel está basicamente dizendo que tem uma reivindicação exclusiva sobre Jerusalém e toda a Palestina”, afirmou.
Complexo de Al-Aqsa também sob pressão
Além das restrições aos cristãos, os muçulmanos também enfrentam tensões crescentes em Jerusalém. Colonos e políticos israelenses, com apoio de soldados armados, invadem com frequência o complexo da Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islã.
Essas ações desafiam o acordo de status quo que impede que não muçulmanos realizem cultos no local. Mesmo assim, há relatos de rituais talmúdicos sendo promovidos no interior do complexo, gerando tensão e protestos.
O Papa Tawadros II, líder da Igreja Ortodoxa Copta do Egito, também se manifestou. Durante celebrações da Páscoa, condenou com veemência o ataque de Israel contra Gaza e disse que os palestinos estão sendo submetidos às formas mais cruéis de injustiça em seu cotidiano.
A fala do líder religioso reforçou o sentimento de que as comunidades cristãs palestinas estão sendo excluídas e atacadas em meio a um conflito que continua sem solução à vista.
Com informações de Al Jazeera.