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Parte da carne que não irá mais para os EUA deve seguir do Brasil Central rumo ao Uruguai e Argentina após tarifaço histórico

Escrito por Felipe Alves da Silva
Publicado em 16/08/2025 às 09:58
Caminhões transportando carne bovina do Brasil para Argentina e Uruguai após tarifaço dos Estados Unidos.
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Medida norte-americana pressiona pecuaristas do Centro-Oeste e abre espaço para Argentina abastecer mercado dos EUA enquanto compra proteína mais barata do Brasil

A decisão dos Estados Unidos de elevar em 50% as tarifas sobre a carne bovina do Brasil pode alterar de forma significativa as rotas de exportação do setor. Segundo especialistas, parte dos embarques que não terá mais como destino o mercado norte-americano pode ser direcionada para Uruguai e Argentina, evitando o aumento da oferta interna e aliviando a pressão sobre os preços pagos ao pecuarista.

Brasil Central ganha papel estratégico

De acordo com o professor Júlio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro) da UFRGS, a estratégia pode favorecer principalmente o escoamento de cortes mais baratos produzidos no Centro-Oeste brasileiro. A venda para os países vizinhos daria fôlego ao produtor e impediria a concentração dessa carne no mercado interno.

“O Brasil já é fornecedor do Uruguai. É possível que a Argentina siga um pouco esse caminho comprando carnes mais econômicas do Brasil Central, que não concorre com a carne do Rio Grande Sul, que é de um preço maior porque tem uma outra qualidade. Isso, pelo menos no curto prazo, contribui para ‘desafogar’ parte da carne que não irá mais para os Estados Unidos”, explicou Barcellos, em entrevista ao Correio do Povo, destacando que a mudança tende a se consolidar ao menos no curto prazo.

Argentina mira espaço nos Estados Unidos

A reconfiguração logística abre também uma oportunidade para a Argentina. O país pode ampliar seus embarques para os Estados Unidos, ocupando o espaço deixado pelo Brasil. Essa estratégia, no entanto, tende a pressionar a oferta doméstica de proteína, o que pode refletir em alta de preços para o consumidor argentino.

Barcellos lembra que o presidente Javier Milei retirou tarifas que limitavam a exportação de carne. Dessa forma, frigoríficos argentinos podem aproveitar o preço mais alto do mercado internacional, exportar e, ao mesmo tempo, importar carne brasileira a valores mais baixos, especialmente do Centro-Oeste.

Impactos para o Rio Grande do Sul

No caso do Rio Grande do Sul, o coordenador do NESPro reforça que os Estados Unidos não figuram entre os principais destinos da carne produzida no Estado. Mesmo assim, o tarifaço repercutiu localmente porque o setor é altamente interligado e há fluxo constante de carne de outros estados para o mercado gaúcho.

Segundo ele, a prioridade para o Rio Grande do Sul é ampliar a rastreabilidade do rebanho, fortalecer os controles de fronteira e investir em produtividade para reduzir custos e manter a competitividade da carne premium. “O importante é garantir que o custo médio seja cada vez mais baixo e a carne gaúcha siga destacada pela qualidade”, afirmou.

Nova configuração do comércio regional

A medida dos EUA, portanto, não só impacta diretamente os pecuaristas brasileiros, como também pode reorganizar o comércio de carne na América do Sul. Enquanto a Argentina reforça sua presença no mercado norte-americano, o Brasil tende a consolidar sua posição como fornecedor para países vizinhos, especialmente em cortes de menor valor agregado.

A informação foi divulgada pelo Correio do Povo, que destacou ainda a preocupação do governo argentino com a inflação interna e os reflexos para o abastecimento popular diante da abertura das exportações.

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Felipe Alves da Silva

Profissional com formação militar pelo Exército Brasileiro e experiência em gestão administrativa e logística no setor industrial. Escreve sobre defesa, segurança, geopolítica, indústria automotiva, ciência e tecnologia. Sugestões de pauta: fa06279@gmail.com

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