Às vésperas da cúpula do BRICS, que reunirá o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul em Brasília na próxima semana, investimentos massivos e geração de empregos no Brasil estão na maior escala de otimismo do governo
Acadêmicos e especialistas nas relações Brasil – China e empresários dos dois países se mostraram otimistas com a ampliação das relações bilaterais e expansão dos negócios bilaterais. Infraestrutura, pré-sal e a bioeconomia estão como principais focos da China no País. Por outro lado, a crescente urbanização chinesa tem alterado hábitos de consumo, especialmente nos alimentos, gerando oportunidades para as exportações do agronegócio brasileiro.
Essas são algumas das conclusões de três painéis de debates promovidos pelo CEBRI (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), durante o seminário internacional “Parceria Brasil-China: Tendências e Oportunidades”, patrocinado pela Vale e em parceria com a Academic Center for China Economic Practice and Thought (ACCEPT) da Universidade de Tsinghua e o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), no Museu do Amanhã, no Rio, nesta quarta (07.11).
“O CEBRI vem olhando com especial atenção para a China, na relação comercial entre os países, e nas oportunidades de avançar nessas parcerias, em especial por meio de políticas de inovação e sustentabilidade da China”, destacou Anna Jaguaribe, Membro do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e Diretora do Instituto de Estudos Brasil-China (IBRACH). O evento faz parte da programação paralela à XI Cúpula do BRICS.
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O evento abordou as principais tendências nas transformações em curso na China, em especial diante da crescente urbanização, o avanço do consumo e transição demográfica. Para os representantes chineses, Chen TaoTao, Diretora do Centro de América Latina da Universidade de Tsinghua (ambiente de negócios, capacidades de novas multinacionais chinesas), e Pepe Zhang, Diretor Associado do Atlantic Council, as mudanças expressivas pelas quais o País vem passando com a urbanização, do interior para a costa, a partir das oportunidades surgidas com a chegada dos grandes investimentos em logística portuária nos últimos 40 anos. Isso ocorre de maneira inversa à América Latina, que foi colonizada a partir da costa e a expansão se deu rumo ao interior. Segundo eles, há a necessidade de infraestrutura para atender a essa migração, há intensa geração de empregos, especialmente na produção de tecnologia, e consequentemente há mudanças no comportamento de consumo em produtos, como alimentos, por exemplo, que deixam de ser cultivados no campo e passam a ser importados.
Para o ex-embaixador brasileiro na China, Marcos Caramuru, e Conselheiro do CEBRI, ao mesmo tempo que há uma imensa concorrência para o estrangeiro que quer fazer negócio na China, por conta da verticalização da economia, qualidade e inovação desenvolvidas no mercado local, há uma avenida de oportunidades, na medida em que no crescimento do PIB da China, a participação do consumo está em torno de 70%, e os investimentos em 30%. “O consumo está crescendo e esse consumo é liderado pelo jovem urbano, que ao contrário dos seus pais e avós, está disposto a se endividar”, comentou, destacando que a urbanização atual está hoje em torno de 60% enquanto a da América Latina está em 80%.
Presentes ao seminário promovido pelo CEBRI para discutir as tendências e desafios, a BRF e a Suzano são duas empresas que estão atuando com força no mercado chinês, uma focada nas exportações de alimentos e outra nas exportações de papel e celulose. Em comum entre ambas, está a capacidade previamente construída de atender as exigências do consumidor chinês, como a tecnologia da rastreabilidade, as regras rígidas ambientais em referência à produção na origem e o controle intenso e todo o processo de produção. “A China focou esforços em políticas públicas ambientais muito disciplinadas, que já tem gerado efeitos positivos em água, solo, ar, e exigem os mesmos esforços dos seus fornecedores”, avaliou o diretor de Relações Institucionais da Suzano, Pablo Machado.
O evento também tratou das convergências e possibilidades de trabalho conjunto nos ecossistemas de inovação, conectividade e digitalização, com a participação de Paulo Dallari, diretor de Relações Institucionais da 99, no Brasil, empresa que foi adquirida pela chinesa Didi Chuxing, e especialistas brasileiros no financiamento dessas novas tecnologias. Para o superintendente da Área de Operações e Canais Digitais do BNDES, Marcelo Porteiro, a tecnologia tem poder disruptivo para mudar a atuação das pequenas empresas. “Isso por vezes é dificultado por falta de mecanismos financiáveis, e é aí que o Banco pretende atuar, possibilitando o desenvolvimento dessas pequenas empresas, seja por meio incentivos a startups ou outros meios.”
Adriano Proença, Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Membro do Conselho Científico do Instituto de Estudos Brasil-China (IBRACH), um dos principais especialistas no estudo da “sinocentria”, o movimento forte que trouxe investimentos chineses ao Brasil, a sinergia entre os dois países pode trazer ao Brasil a experiência do longo prazo. Os ciclos de planejamento são de longuíssimo prazo e esse talvez seja o diferencial chinês que pode servir de referência para o Brasil rumo ao desenvolvimento sustentável. Celina Bottino, Diretora de Projetos do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS-Rio), destacou que além do planejamento de longo prazo, há a preocupação com a inclusão social em todas as estratégias de desenvolvimento e nos investimentos de infraestrutura.
Fonte: CEBRI