Em uma descoberta surpreendente, paleontólogos encontraram fósseis de peixes com cerca de 15 milhões de anos em impressionante estado de conservação
Paleontólogos na Austrália fizeram uma descoberta surpreendente: fósseis de peixes com cerca de 15 milhões de anos, tão bem preservados que ainda é possível ver o que eles comeram antes de morrer.
A revelação dos paleontólogos veio durante uma escavação no sítio de McGraths Flat, perto da cidade de Gulgong, em Nova Gales do Sul.
A equipe de pesquisadores não esperava encontrar nada naquele dia. Tinham acabado de sair de outro local, sem sucesso. Mas, por acaso, decidiram examinar algumas pedras.
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Um achado por acaso
O cientista Jochen Brocks, da Universidade Nacional Australiana, foi quem abriu a rocha que trouxe a surpresa.
Dentro dela, havia um peixe fossilizado quase intacto. Tinha tecido mole, esqueleto articulado e detalhes visíveis. A equipe não reconheceu a espécie de imediato.
Curiosos, continuaram escavando. Encontraram mais dezenas de fósseis iguais. Todos muito bem preservados.
Tanto que os pesquisadores conseguiram observar larvas de mosquito, insetos e até moluscos que estavam no estômago dos peixes.
Um deles ainda tinha um pequeno parasita preso à cauda, o glochidium, uma forma juvenil de mexilhão de água doce.
Nova espécie identificada
Os fósseis pertencem a uma nova espécie de peixe, chamada Ferruaspis brocksi. O nome foi escolhido em homenagem a Jochen Brocks, o cientista que fez a descoberta. “Ferru” vem do latim para ferro. Já “aspis” é um termo comum em nomes de peixes fósseis.
Esses peixes viveram na época do Mioceno, num tempo em que o interior de Nova Gales do Sul era uma floresta tropical úmida. Hoje, essa mesma região é majoritariamente árida e usada para agricultura.
Ferruaspis brocksi era um peixe pequeno, de água doce, pertencente ao grupo dos Osmeriformes. Esse grupo inclui espécies como o smelt australiano e o grayling australiano. Mas até agora, nunca havia sido encontrado um Osmeriformes fossilizado na Austrália.
F. brocksi poderia ter parecido em vida.
Alex Boersma
Surpresa no tipo de preservação
Os fósseis foram encontrados dentro de um mineral chamado goethita, rico em ferro. Isso surpreendeu os cientistas.
Normalmente, não se espera encontrar fósseis bem preservados em rochas com tanto ferro. A descoberta pode abrir novas possibilidades de pesquisa.
“Costumamos pensar que rochas ricas em ferro não guardam bons fósseis”, disse Kate Trinajstic, paleontóloga da Universidade Curtin, que não participou do estudo. “Isso abre uma nova área de investigação.”
A qualidade da preservação também permitiu estudos detalhados. Os cientistas usaram um microscópio eletrônico de varredura para analisar os peixes.
Encontraram melanossomas — células que produzem melanina, o pigmento responsável pela cor. Isso permitiu descobrir o padrão de coloração do peixe: duas listras laterais, barriga clara e dorso escuro.
Um registro inédito
É a primeira vez que melanossomas fossilizados são usados para reconstruir o padrão de cor de um peixe extinto. Antes, esse tipo de estudo só tinha sido feito com penas de aves fósseis.
Além disso, os fósseis podem ajudar a entender melhor a história evolutiva dos Osmeriformes na Austrália.
Como não havia registros anteriores no país, os cientistas não sabiam ao certo quando esse grupo chegou à região. Agora, há uma pista concreta.
Segundo os pesquisadores, a presença desses fósseis também ajuda a reconstituir os ecossistemas do passado. O período em que os peixes viveram foi uma fase de transição climática na Austrália.
“Na época em que esses peixes morreram e foram preservados, o clima do continente estava mudando”, disse Michael Frese, coautor do estudo e virologista da Universidade de Canberra. “É como uma lição de história geológica sobre o que acontece quando o clima muda de forma profunda.”
Um passo para novos achados
O artigo com a descoberta foi publicado no Journal of Vertebrate Paleontology. Os fósseis estão sob estudo e continuam revelando detalhes.
A chance de encontrar fósseis tão bem preservados em rochas ricas em ferro pode mudar a forma como se buscam evidências do passado. Cientistas já consideram olhar com mais atenção para regiões com goethita.
Foi um acaso que virou achado. E o achado pode abrir portas para entender melhor a vida que existiu há milhões de anos — e como ela foi afetada por mudanças no clima.