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Países inteiros podem ficar sem petróleo devido a acontecimentos recentes que colocam em risco o abastecimento global de energia

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 23/06/2025 às 15:22
petróleo - energia
Países inteiros podem ficar sem petróleo devido a acontecimentos recentes que colocam em risco o abastecimento global de energia
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Mais de 70% do petróleo que abastece as duas potências asiáticas depende de uma única rota marítima no Golfo Pérsico — agora sob ameaça de bloqueio pelo Irã

O Estreito de Ormuz, uma faixa de água com menos de 50 km de largura entre o Irã e Omã, tornou-se mais uma vez um epicentro de tensão global. A crescente instabilidade no Oriente Médio e as recentes declarações do Parlamento iraniano sobre um possível bloqueio da passagem colocaram Japão e Coreia do Sul em modo de emergência.

As duas nações asiáticas figuram entre os maiores importadores de petróleo do mundo — e mais de 70% desse petróleo vem do Oriente Médio. O ponto crítico é que a quase totalidade desses carregamentos passa por Ormuz, tornando esse gargalo marítimo uma vulnerabilidade estratégica para as economias orientais.

Japão: reservas para 250 dias, mas alerta total

O Japão, que importa mais de 90% do seu petróleo do Oriente Médio, já vinha demonstrando preocupação com os desdobramentos no Golfo. De acordo com o governo japonês, cerca de 80% dos navios petroleiros que abastecem o país cruzam diariamente o Estreito de Ormuz.

Em resposta à possível paralisação, Tóquio ativou seu plano de contingência energética, garantindo que o país possui reservas estratégicas de petróleo suficientes para cobrir a demanda nacional por 250 dias. Ainda assim, o governo reconhece que um fechamento prolongado da passagem afetaria não só o abastecimento, mas também os preços e a estabilidade econômica.

Empresas como Nippon Yusen e Mitsui, gigantes do transporte marítimo japonês, determinaram que seus navios petroleiros reduzam o tempo de exposição na região e intensificaram a vigilância, com monitoramento em tempo real e compartilhamento de dados com embarcações aliadas.

Segundo a Agência de Recursos Naturais e Energia do Japão, o país também estuda reforçar seus acordos de fornecimento com nações fora do Oriente Médio, numa tentativa de diversificar as rotas de importação de hidrocarbonetos.

“Precisamos diversificar urgentemente nossas fontes e rotas de abastecimento. A dependência de uma única passagem nos torna vulneráveis a qualquer instabilidade geopolítica”, afirmou Kingo Hyashi, presidente da Federação de Companhias Elétricas do Japão, em entrevista à imprensa local.

Mapa do Golfo Pérsico com destaque para a localização do Estreito de Ormuz, ponto estratégico por onde passa grande parte do petróleo que abastece diversas nações asiáticas e ocidentais.

Coreia do Sul: pronta para liberar suas reservas

A Coreia do Sul, por sua vez, também adotou medidas rápidas e rigorosas. O país importa cerca de 70% do seu petróleo do Oriente Médio, e praticamente todo esse volume cruza o Estreito de Ormuz. A KNOC (Corporação Nacional de Petróleo da Coreia) iniciou nesta semana uma operação de monitoramento 24 horas do mercado internacional de petróleo e está pronta para liberar parte de suas reservas estratégicas, caso o pior cenário se concretize.

Atualmente, a Coreia do Sul conta com estoques suficientes para manter o abastecimento interno por 206,9 dias, número acima do recomendado pela Agência Internacional de Energia (AIE). Além disso, o país firmou acordos de armazenamento conjunto com sete empresas internacionais, assegurando prioridade na aquisição de até 23,13 milhões de barris em situações emergenciais.

Segundo nota da KNOC, o sistema de resposta por estágios já foi ativado, e todas as instalações de armazenamento foram inspecionadas. A entidade também coordena ações com empresas privadas do setor energético e busca novos fornecedores em países africanos e latino-americanos, como Angola e Brasil.

Impactos globais e corrida por rotas alternativas

A possibilidade de um bloqueio total ou parcial de Ormuz já provoca efeitos nos mercados internacionais. O barril do petróleo Brent ultrapassou os US$ 89 nesta segunda-feira, e especialistas alertam que uma escalada no conflito pode fazer o preço romper a barreira dos US$ 100 nas próximas semanas. As bolsas asiáticas, por sua vez, fecharam em baixa, refletindo o nervosismo dos investidores.

Além de Japão e Coreia, países como Índia e Cingapura também monitoram a situação com apreensão. A ONG International Crisis Group alertou que o uso do Estreito como instrumento de pressão política por parte do Irã eleva o risco de uma nova crise energética global.

Enquanto isso, os EUA reforçaram a presença militar no Golfo, alegando necessidade de garantir a livre navegação no estreito. A 5ª Frota Naval norte-americana, baseada no Bahrein, intensificou suas patrulhas na região.

“A ameaça ao livre fluxo de petróleo por Ormuz é uma ameaça direta à economia global. Toda a cadeia logística está em risco”, declarou o analista de energia Jason Bordoff, da Universidade Columbia.

Conclusão: uma crise que reacende o debate sobre energia

A tensão em torno do Estreito de Ormuz expõe novamente a fragilidade da segurança energética global. A dependência de regiões politicamente instáveis, somada à concentração das rotas marítimas, obriga países como Japão e Coreia do Sul a repensarem suas matrizes energéticas e investirem em soluções alternativas, como gás natural liquefeito, renováveis e mesmo energia nuclear.

Ainda que ambos os países tenham reservas suficientes para resistir a curto prazo, a incerteza geopolítica acende o alerta sobre a necessidade de reduzir a exposição a riscos externos. O futuro da energia passa também por diversificação e diplomacia.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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