Guiana investe quase R$ 5,5 bilhões em obra de 500 km que ligará a capital Georgetown à fronteira com Roraima, transformando comércio, logística e acesso ao território do Essequibo
A Guiana, atualmente o país que mais cresce no mundo, anunciou a construção de uma rodovia de aproximadamente 500 quilômetros que ligará sua capital, Georgetown, à cidade de Lethem, na fronteira com o Brasil, em Roraima. A obra, orçada em quase 1 bilhão de dólares — cerca de 5,4 bilhões de reais —, promete reduzir drasticamente o tempo de transporte de mercadorias: de 21 dias pelo rio Amazonas para apenas 48 horas por via terrestre.
Crescimento econômico impulsiona projeto
O investimento ocorre em meio a um crescimento econômico sem precedentes. A Guiana multiplicou por seis o tamanho de sua economia em dez anos, passando de 4,2 bilhões de dólares em 2015 para 24 bilhões em 2024, segundo o Banco Mundial. Desde 2020, o país registra taxas anuais acima de dois dígitos, chegando a 63% em 2022, 34% em 2023 e 43% em 2024. Essa expansão está diretamente ligada às imensas reservas de petróleo descobertas no país, hoje as maiores per capita do mundo.
A nova rodovia, chamada de estrada Linden-Lethem, também conhecida como “El Sendero”, atravessa a floresta tropical e planícies do território guianense. Atualmente, o trajeto leva cerca de 15 horas em estradas de terra, com dificuldades agravadas pelas chuvas e pela poeira nos períodos secos. Caminhoneiros relatam que veículos frequentemente ficam atolados, tornando a logística cara e demorada.
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Integração com o brasil e escoamento estratégico
De acordo com o ministro de Obras Públicas da Guiana, Juan Edghill, a rodovia representará um “ponto de inflexão para o futuro da Guiana”. A estrada se conectará à ponte Takatu, já existente, que liga a cidade de Lethem, na fronteira, ao município de Bonfim, em Roraima. Isso permitirá acesso direto ao mercado brasileiro, estimado em mais de 20 milhões de consumidores no norte do país.
Além disso, a rodovia será integrada ao porto de águas profundas de Palmyra, ainda em construção, próximo à fronteira com o Suriname. Com essa estrutura, exportadores brasileiros terão alternativa logística para acessar o Atlântico em apenas dois dias, sem depender da rota fluvial pelo Amazonas, que hoje leva três semanas.
Impactos estratégicos no essequibo
Segundo o portal Exame, uma fonte ligada ao projeto, citada pela Agência France-Presse (AFP), afirmou que a estrada também terá função estratégica, facilitando o transporte de tropas e equipamentos militares para a região do Essequibo — território administrado pela Guiana, mas reivindicado pela Venezuela há décadas. O ministro Edghill ressaltou que “o Essequibo faz parte da Guiana”, destacando que ali estão comunidades indígenas, áreas de mineração e grande parte da atividade florestal.
A disputa territorial entre Guiana e Venezuela tem se intensificado desde as descobertas de petróleo na região, transformando o Essequibo em um dos pontos mais sensíveis da geopolítica sul-americana.
Impactos sociais e econômicos locais
Enquanto o governo celebra os benefícios da integração regional, moradores ao longo da rota vivem expectativa e incertezas. Michelle Fredericks, proprietária de uma barraca de fast food em Kurupukari, será diretamente afetada, já que a nova ponte passará pelo local de seu comércio. Mesmo assim, ela se mostra otimista: “Não se pode lutar contra o progresso. É assim que a vida é”, declarou à AFP, destacando que espera atrair mais visitantes com a redução no tempo de viagem.
Caminhoneiros que utilizam a atual estrada de terra também enxergam a obra como fundamental. Muitos relatam que, na época das chuvas, os custos de transporte aumentam devido aos atrasos e atolamentos. Com a nova rodovia pavimentada e cerca de 50 pontes planejadas, a expectativa é que o tráfego seja constante e mais seguro.
Conclusão prevista e desafios da obra
O projeto foi dividido em quatro trechos e terá dezenas de obras de engenharia complexas, incluindo 50 pontes ao longo do percurso. O prazo mais otimista aponta que a rodovia poderá estar concluída até 2030, caso não haja atrasos financeiros ou climáticos.
Segundo informações da AFP, a Guiana aposta que a rodovia será decisiva para consolidar sua posição como potência emergente na América do Sul, ampliando sua presença no comércio regional e reforçando sua soberania sobre o Essequibo.
Diante desse projeto bilionário e da promessa de transformar a logística entre a Guiana e o Brasil, você acredita que a nova rodovia será apenas um vetor econômico ou também se tornará um fator estratégico na disputa territorial do Essequibo?