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Painéis solares chineses já respondem por 68% das importações brasileiras em 2024 e seguem dominando o mercado em 2025 — enquanto Europa acusa dumping e perda de espaço

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 25/08/2025 às 11:11
Painéis solares chineses já respondem por 68% das importações brasileiras em 2024 e seguem dominando o mercado em 2025 — enquanto Europa acusa dumping e perda de espaço
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Painéis solares da China dominam 68% das importações brasileiras e seguem em alta em 2025, enquanto Europa denuncia dumping e perda de mercado.

O Brasil se tornou uma potência mundial em energia renovável, mas o avanço impressionante da energia solar no país tem um detalhe que incomoda concorrentes internacionais: o domínio absoluto da China sobre o fornecimento de equipamentos. Em 2024, 68% de todos os módulos solares importados pelo Brasil vieram da China, equivalentes a 22,5 GW de potência, consolidando o gigante asiático como principal fornecedor e levantando questionamentos sobre dependência tecnológica e vulnerabilidade estratégica.

Em 2025, a tendência se mantém. Mesmo com uma queda de 33% no volume de importações no primeiro quadrimestre, devido a ajustes logísticos e à desaceleração momentânea de projetos, os chineses continuam detendo a maior parte do mercado, deixando fabricantes europeus em segundo plano. O resultado é um cenário em que o Brasil acelera sua transição energética, mas se vê cada vez mais atrelado a uma cadeia global comandada por Pequim.

Como a China conquistou hegemonia global em energia solar

O domínio da China sobre o setor não é fruto do acaso. Desde os anos 2000, Pequim apostou em uma política agressiva de incentivos e subsídios às fábricas de painéis solares, garantindo escala de produção sem paralelo no mundo.

Hoje, mais de 80% da capacidade global de fabricação de módulos fotovoltaicos está concentrada em território chinês, espalhada por megafábricas nas províncias de Jiangsu, Anhui e Xinjiang.

Essa estratégia permitiu à China reduzir custos de produção em até 30% frente aos concorrentes europeus e americanos. Além disso, a integração vertical — desde a mineração de silício até a manufatura final — transformou o país no epicentro da cadeia produtiva da energia solar.

Para países emergentes como o Brasil, que buscam expandir sua matriz elétrica renovável rapidamente, essa oferta barata e abundante se tornou praticamente irresistível.

O Brasil no centro da transição energética

No Brasil, a energia solar deixou de ser coadjuvante e se transformou em protagonista. Entre 2019 e 2025, a capacidade instalada saltou de 4 GW para mais de 40 GW, colocando o país no ranking dos dez maiores geradores de energia solar do mundo.

A popularização dos sistemas fotovoltaicos em telhados, fazendas solares no interior e megaprojetos no Nordeste consolidou uma nova etapa da matriz elétrica.

Grande parte dessa expansão só foi possível graças à importação de módulos chineses a preços acessíveis. Painéis vindos de Pequim custam até 30% menos que os de concorrentes europeus, permitindo que cooperativas rurais, pequenas empresas e até famílias de baixa renda conseguissem investir em sistemas próprios.

Em termos práticos, a China foi responsável por acelerar um movimento que, de outra forma, levaria décadas para alcançar a escala atual.

A Europa reage: acusações de dumping e alerta de perda de espaço

Na União Europeia, o cenário é visto com preocupação. Fabricantes locais denunciam que os painéis chineses são vendidos abaixo do custo real de produção — prática conhecida como dumping. Segundo entidades do setor, isso inviabiliza a concorrência e ameaça a sobrevivência de empresas europeias, que não conseguem competir com os preços subsidiados de Pequim.

Bruxelas já iniciou discussões sobre tarifas antidumping e barreiras comerciais para conter a entrada de módulos chineses no mercado europeu.

Mas os efeitos dessa política podem ir além das fronteiras do bloco. Se medidas restritivas forem ampliadas, países parceiros como o Brasil podem enfrentar pressões para diversificar fornecedores, sob risco de se tornarem ainda mais dependentes da China.

O dilema brasileiro: energia limpa ou soberania industrial?

Para o Brasil, o cenário é paradoxal. De um lado, os painéis chineses garantem a expansão acelerada da energia solar, viabilizando projetos em larga escala e fortalecendo a matriz elétrica renovável. De outro, o país praticamente não desenvolveu uma indústria nacional competitiva de equipamentos fotovoltaicos, tornando-se refém das importações.

Hoje, existem fábricas no Brasil que montam módulos, mas a maioria depende de insumos chineses e não alcança escala para competir em preços. A falta de incentivo governamental e de crédito barato dificulta a criação de uma cadeia industrial robusta. Com isso, a cada nova usina solar instalada, a dependência de fornecedores estrangeiros cresce.

Geopolítica da energia: a disputa entre China, Europa e EUA

O domínio chinês no setor solar não é apenas um fenômeno econômico, mas um instrumento de geopolítica global. Ao controlar a cadeia produtiva de equipamentos essenciais para a transição energética, Pequim garante influência sobre países em desenvolvimento e pressiona concorrentes diretos.

A Europa acusa perda de espaço e busca medidas de proteção. Os Estados Unidos, por sua vez, já anunciaram restrições a painéis fabricados em Xinjiang, alegando questões de direitos humanos e segurança nacional.

Nesse tabuleiro, o Brasil ocupa uma posição estratégica: é um mercado emergente de enorme potencial, com sol abundante e demanda crescente por energia limpa. Quem dominar esse mercado, dominará parte importante do futuro energético global.

O avanço da energia solar é inegável. Em 2025, milhares de residências, empresas e fazendas brasileiras colhem os frutos de uma eletricidade mais limpa e barata, em grande parte graças aos módulos importados da China. Mas a pergunta que paira no ar é: até quando essa dependência será sustentável?

Se por um lado os contratos bilionários com a China permitem crescimento rápido, por outro o país pode estar abrindo mão de desenvolver sua própria indústria tecnológica. Em um cenário de tensões geopolíticas, isso pode se tornar uma vulnerabilidade.

No fim, o Brasil se vê diante de um dilema: celebrar a vitória do acesso à energia limpa ou reconhecer a armadilha da dependência estrutural de um único fornecedor global? A resposta determinará se o país será apenas consumidor ou também protagonista na corrida mundial pela transição energética.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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