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Ouro urbano brasileiro vira alvo de empresa que aposta R$ 1,9 bilhão em aterro que trata 10 mil toneladas por dia e transforma lixo em energia limpa

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 22/09/2025 às 14:55
Aegea investe R$ 1,9 bilhão na Ciclus e aposta em biogás e economia circular para transformar resíduos em energia limpa.
Aegea investe R$ 1,9 bilhão na Ciclus e aposta em biogás e economia circular para transformar resíduos em energia limpa.
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Empresa de saneamento aposta no lixo como fonte de energia limpa e vê no setor de resíduos sólidos um novo caminho de crescimento bilionário, com foco em biogás, biometano e consolidação de mercado no Brasil.

A Aegea, maior operadora privada de saneamento do país, deu um passo decisivo para entrar no mercado de resíduos sólidos ao anunciar, em 20 de agosto, a compra da Ciclus Ambiental por R$ 1,1 bilhão.

Segundo reportagem publicada pela Bloomberg nesta segunda-feira (22), considerando dívidas, o valor total da transação chega a R$ 1,9 bilhão.

A Ciclus controla a unidade de Seropédica, no Rio de Janeiro, um dos maiores complexos de tratamento da América Latina, que processa 10 mil toneladas diárias e captura 24 mil metros cúbicos de biogás por hora para geração de energia limpa.

Aquisição e ativo estratégico no Rio de Janeiro

A Ciclus Rio foi fundada em 2010 como joint venture entre o grupo Simpar e a Haztec e, desde 2011, opera o aterro sanitário bioenergético de Seropédica.

Em regime de Parceria Público-Privada com o município, a companhia responde por cinco Estações de Transferência de Resíduos e por toda a operação integrada de transbordo, transporte e destinação final do lixo da capital fluminense.

De acordo com a apuração da Bloomberg, 70% dos resíduos do Rio passam pela unidade.

Além do aterro, a Ciclus concentra um portfólio voltado à economia circular.

O biogás gerado no tratamento dos resíduos é purificado em biometano e comercializado a clientes industriais e comerciais por meio de contratos de longo prazo no modelo “take or pay”, que garantem remuneração mínima independentemente do consumo efetivo.

Hoje, 17% da receita da companhia vem dessa atividade.

Aegea investe R$ 1,9 bilhão na Ciclus e aposta em biogás e economia circular para transformar resíduos em energia limpa.  (Foto: Jonne Roriz/Bloomberg)
Aegea investe R$ 1,9 bilhão na Ciclus e aposta em biogás e economia circular para transformar resíduos em energia limpa. (Foto: Jonne Roriz/Bloomberg)

Estratégia da Aegea e a visão sobre resíduos sólidos

Na avaliação da Aegea, resíduos sólidos repetem a história do saneamento de 15 anos atrás: um mercado pulverizado, com espaço para consolidação e ganhos de escala.

O racional por trás da aquisição tem muito a ver com a visão estratégica da Aegea.

O negócio de resíduos sólidos tem características muito parecidas com o saneamento 15 anos atrás”, afirmou o CFO André Pires em entrevista concedida à Bloomberg.

Para ele, trata-se de uma “nova avenida de crescimento”, com sinergias operacionais e comerciais com a base já atendida pela companhia.

Esse encaixe é imediato no Rio de Janeiro.

A Aegea opera a concessão Águas do Rio, responsável por abastecimento de água e esgotamento sanitário em 27 municípios fluminenses, incluindo 124 bairros da capital.

O ambiente institucional é o mesmo e isso gera sinergia imediata”, disse Pires, ao explicar que a estrutura administrativa já montada facilita a integração e reduz custos.

Mercado e regulação dos resíduos sólidos

O executivo destacou que cerca de 33% do lixo coletado no país ainda não tem destinação.

Com isso, a demanda por investimentos em aterros sanitários e triagem deve crescer, ao lado de tecnologias de reciclagem e de captura de gás.

O novo marco do saneamento abriu caminho para incluir tratamento de resíduos em contratos de prestação de serviços, com possibilidade de cobrança tarifária.

Esse desenho, no entanto, não se aplica à Ciclus, cuja atividade atual não abrange coleta, executada pela Comlurb.

Embora existam grupos de maior porte, o setor segue dominado por empresas familiares e regionais.

A Aegea vê um terreno fértil para aquisições e parcerias.

Entendemos que existe uma oportunidade importante para participar deste mercado”, disse Pires.

O jornal Bloomberg também apontou que, nas economias mais desenvolvidas, o processo de reciclagem direta já é predominante, enquanto o Brasil ainda precisa avançar na eliminação dos lixões e na destinação correta do lixo.

Biogás, biometano e economia circular

A aposta em Seropédica não é apenas volumétrica.

O biogás capturado é a peça central para ampliar receitas de baixo carbono.

Também é possível aproveitar essa oportunidade do ponto de vista de economia circular, com a geração de biogás”, afirmou Pires.

Na prática, a estratégia mira elevar eficiência no aproveitamento do gás, maximizar a produção de biometano e ampliar contratos de fornecimento, em vez de priorizar a expansão física do aterro no curto prazo.

O desenho contratual de longo prazo, com cláusulas “take or pay”, reduz volatilidade de caixa e dá previsibilidade a investimentos.

Para a Aegea, que atende mais de 38 milhões de pessoas em saneamento, essa previsibilidade ajuda a compor um portfólio mais resiliente a ciclos econômicos.

Finanças e impacto na alavancagem

No resultado consolidado da Aegea, resíduos ainda têm peso menor que saneamento. Nos 12 meses encerrados em junho, o Ebitda do segmento ficou em aproximadamente R$ 200 milhões.

Mesmo assim, a rentabilidade é considerada atrativa.

Segundo o CFO, os retornos de projetos de resíduos têm sido semelhantes aos dos projetos de saneamento, com uma diferença relevante: o capex é substancialmente inferior por dispensar a construção de novas redes, concentrando-se em manutenção e eficiência.

Do ponto de vista de balanço, a companhia afirma que a operação não altera de forma relevante a alavancagem.

A meta permanece em um teto de quatro vezes dívida líquida sobre Ebitda.

Temos interesse [em aquisições] se tivermos boas oportunidades de crescer, desde que não impactem a nossa alavancagem”, disse Pires, ao ressaltar a combinação de crescimento orgânico e inorgânico como eixo do plano estratégico.

Experiência prévia e sinergias operacionais

A Aegea aposta nas proximidades geográficas e institucionais para capturar ganhos rápidos.

A convivência com licenças ambientais, monitoramento e gestão de riscos já faz parte do dia a dia da companhia, o que, na visão do comando, reduz a curva de aprendizagem.

Já convivemos com esse tema e existe um alinhamento com aquilo que já fazemos”, afirmou o CFO.

Não é a primeira incursão em resíduos. Desde 2023, a empresa opera a Regenera Cariri, que gerencia resíduos sólidos em nove municípios do Ceará, em parceria com a Engep Ambiental.

Essa experiência pavimentou o caminho para a negociação que levou quase dois anos até a conclusão do acordo com a Simpar, com alinhamento dos três acionistas da Aegea — Equipav, GIC e Itaúsa.

Perspectiva do setor de resíduos no Brasil

Ainda há um percurso a ser feito até padrões de reciclagem mais robustos.

O Brasil precisa percorrer o caminho de se livrar dos lixões. Os aterros como destinação correta é o que vamos percorrer”, afirmou Pires.

Para além da destinação adequada, a captura e o uso energético do biogás tendem a ganhar peso na discussão sobre economia circular e metas de descarbonização, abrindo espaço para modelos de negócios que monetizam o gás gerado com o lixo urbano.

Enquanto isso, o cenário de juros altos e incertezas macroeconômicas exige disciplina na alocação de capital.

A Aegea declara que seguirá analisando licitações, leilões e oportunidades de M&As, mas com o compromisso de manter a estrutura de capital sob controle.

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Emilia Wanda Rutkowski
Emilia Wanda Rutkowski
24/09/2025 06:16

Segregaçã0 na fonte, portanto investimento em mobilização do gerador com sensibilização educativa para mudança de comportamento, voalá aterro só para rejeito, como também está na lei nacional. Sem incineração de lixo, com reciclagem de todos os resíduos e aí organicos para composto e biogás. Sem catadores, gestão não é de redíduos, é de lixo! Palavra q não existe na lei.

Ronan Cleber Contrera
Ronan Cleber Contrera
24/09/2025 01:14

Aterro sanitário não é tratamento de resíduos. A Aegea tem uma visão errada da política nacional dos resíduos sólidos.

Lufe Bittencourt
Lufe Bittencourt
22/09/2025 20:44

Excepcional. Biometano é o futuro. No caminho vitorioso.

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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