Movimento de desdolarização ganha força com ouro em recordes, compras agressivas de bancos centrais e busca por reserva de valor em meio a incertezas geopolíticas e monetárias, segundo análises de Raul Sena
A desdolarização deixou de ser hipótese distante para virar comportamento observável nos cofres públicos. Com o ouro em novas máximas e autoridades monetárias ampliando estoques, cresce a percepção de que parte do mundo quer reduzir a dependência do dólar e reforçar reserva de valor em um ambiente de tensões e inflação. Segundo Raul Sena, empreendedor e CEO fundador do Investidor Sardinha, o apetite oficial por metal precioso reflete um “aumento do muro” contra riscos sistêmicos.
No pano de fundo, estão fatores históricos e recentes. Da criação do sistema de Bretton Woods ao fim do padrão-ouro, os Estados Unidos ganharam flexibilidade para emitir moeda enquanto o dólar se consolidou como referência global. O rali do ouro soma medo geopolítico, inflação importada e um ciclo de compras recordes por bancos centrais, ingredientes que sustentam a narrativa de desdolarização em curso.
Ouro em recorde e por que isso importa
O ouro não é apenas um ativo decorativo.
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Raul Sena enfatiza que o metal funciona como reserva de valor universal, com uso industrial e histórico monetário singular.
Em épocas de estresse, investidores e Estados buscam proteção em um bem escasso, divisível e aceito globalmente.
No presente ciclo, o metal volta ao topo enquanto as incertezas crescem.
Para o analista, quando países “aumentam o muro” comprando ouro, bilionários e famílias tendem a imitá-los, reforçando a demanda.
Esse comportamento tem efeito de retroalimentação nos preços e amplia o debate sobre desdolarização.
Bancos centrais comprando sem parar e o elo com a desdolarização
Segundo Raul Sena, as compras oficiais foram recordes entre 2022 e 2023, acima de mil toneladas, com países como China, Rússia e emergentes elevando rapidamente suas reservas.
O objetivo é reduzir exposição ao dólar e criar colchões de segurança para choques geopolíticos, sanções e volatilidade cambial.
Esse movimento não significa o fim do dólar, mas sinaliza diversificação acelerada.
O ouro vira “moeda neutra” entre blocos em disputa, enquanto a desdolarização progride como processo gradual, guiado por política e custos de financiamento público.
Do padrão-ouro ao dólar global: o contexto que explica o hoje
Do padrão-ouro clássico ao acordo de Bretton Woods, quando o dólar foi ancorado no metal e as demais moedas ancoradas no dólar.
Na década de 1970, o fim da conversibilidade do dólar em ouro ampliou a liberdade de emissão nos EUA, ao passo que o mundo manteve a moeda americana como reserva.
Com o tempo, a expansão da base monetária e episódios de crise reforçaram o apelo do ouro a cada choque.
Transferências de inflação para fora dos EUA e o acúmulo de tensões geopolíticas alimentam a atual preferência dos bancos centrais por metal físico e, por consequência, a retórica de desdolarização.
O que o investidor deve ler desse movimento
Ouro é reserva de valor, não um investimento produtivo. O papel do metal é proteger poder de compra em cenários adversos, não maximizar retorno.
Por isso, a alocação deve ser pensada como seguro, levando em conta patrimônio, liquidez e objetivos.
Na prática, diversificação por classes e geografias reduz dependência de um único cenário. Em ambientes de desdolarização, a carteira que equilibra risco, reserva e crescimento tende a atravessar melhor ciclos de choque.
Sena destaca que tamanho de posição e horizonte contam mais do que tentativas de “acertar o topo”.
Riscos, contrapesos e leituras incorretas
Nem toda alta do ouro implica catástrofe, ressalta Raul Sena.
Muitas vezes o mercado precifica apenas mais incerteza, não um colapso. Por outro lado, ignorar a sinalização dos bancos centrais pode custar caro em crises.
O equilíbrio está em reconhecer o papel do metal sem transformar a carteira em aposta única.
Outro alerta é confundir desdolarização com substituição instantânea do dólar.
Trata-se de um processo plural, com caminhos por ouro, acordos bilaterais e outros instrumentos, cada qual com trade-offs e limitações.
O rali do ouro reflete desdolarização gradual, medo geopolítico e a busca urgente por reserva de valor. Para investidores e formuladores de política, o recado é ajustar o portfólio e as reservas para um mundo mais fragmentado, sem cair em extremos.
Você concorda que a desdolarização já está em marcha ou vê apenas um ciclo de proteção temporária? Como você está distribuindo sua reserva de valor hoje e que papel o ouro deveria ter na carteira brasileira? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem vive isso na prática.