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“Ou sustento minha família ou tiro CNH”: trabalhador revela realidade de quem não consegue pagar mais de R$ 4 mil em uma habilitação

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 21/10/2025 às 18:55
Trabalhador relata que não consegue pagar a CNH por ser cara e demorada, reforçando apoio à proposta que flexibiliza autoescolas
Trabalhador relata que não consegue pagar a CNH por ser cara e demorada, reforçando apoio à proposta que flexibiliza autoescolas
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Com custo acima de R$ 4 mil e espera de quase um ano, trabalhador desabafa que precisa escolher entre sustentar a família ou tirar a CNH — e defende mudanças no sistema.

A proposta do governo federal de retirar a obrigatoriedade de frequentar autoescolas para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) desencadeou uma intensa discussão nacional que extrapolou o Congresso e ganhou força entre os próprios cidadãos.

A medida, que pretende permitir a formação de condutores por meio de ensino a distância (EAD) e aulas práticas com instrutores independentes, dividiu opiniões entre parlamentares, profissionais do setor e motoristas comuns.

Na Câmara dos Deputados, o debate foi marcado por críticas severas. O deputado Coronel Meira (PL-PE) classificou a proposta como “um crime contra a segurança no trânsito”, alegando que ela colocaria vidas em risco e provocaria a demissão de até 300 mil trabalhadores do setor de autoescolas.

O parlamentar defende o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) nº 800/2025, criado para barrar as mudanças, e argumenta que o governo ignora alternativas mais seguras, como cursos subsidiados para inscritos no CadÚnico e a redução parcial das horas de aula, sem abolir a supervisão profissional.

Leitores do CPG expuseram experiências pessoais, críticas ao sistema e propostas alternativas.

“Cobram para não reprovar”: leitores denunciam custos abusivos e suspeitas de fraude

Entre os comentários mais compartilhados está o de um leitor do interior paulista, que relatou um suposto esquema de cobrança para evitar reprovações. Segundo ele, “o que torna caro a CNH aqui em várias cidades de SP é o valor que eles cobram pra não reprovar na aula prática — por volta de R$ 1.800 por categoria. Se você não paga, é reprovado várias vezes”.

A denúncia expressa um sentimento recorrente entre candidatos à habilitação: a percepção de que reprovações sucessivas são utilizadas como forma de aumentar o lucro.

O relato encontrou eco entre outros leitores, que afirmam já ter passado por experiências semelhantes.

Esses testemunhos reforçam uma crítica antiga ao modelo atual — a falta de transparência e o poder concentrado nas mãos dos CFCs (Centros de Formação de Condutores), que detêm o monopólio da formação.

Muitos acreditam que abrir o processo a instrutores autônomos e ampliar o uso de plataformas online poderia reduzir custos e ampliar o acesso, especialmente para trabalhadores de baixa renda.

“As burocracias são absurdas”: pedidos por livre concorrência e menos exigências

Outro leitor foi direto ao ponto: o problema, segundo ele, está na burocracia imposta pelo próprio Estado.

Em seu comentário, sugeriu que o governo “deixe de exigir dois diretores nos CFCs, dois carros e duas motos, e permita a livre concorrência — o mercado resolve o preço”.

Ele defendeu que, em vez de eliminar o papel das autoescolas, o governo poderia simplificar regras e modernizar a frota de veículos, com mais carros automáticos e menos exigências administrativas. “As burocracias para se ter um CFC são absurdas e tudo tem custo. Chega um ponto que ninguém aguenta mais, ainda mais neste governo com imposto sobre imposto”, completou.

Esse tipo de argumento ganhou força entre empreendedores e instrutores que enxergam o setor como um negócio sufocado pela regulação. Segundo eles, a proposta de flexibilização poderia, inclusive, estimular uma concorrência saudável e tornar o ensino mais acessível, sem eliminar a segurança.

“Vai gerar empregos, não desemprego”: apoio à flexibilização e novos modelos de formação

Nem todos os leitores veem a proposta com pessimismo. Para parte do público, o projeto representa uma oportunidade de inovação e inclusão econômica.

Um deles escreveu: “Não vai gerar desemprego, vai gerar empregos, porque tem muitos bons motoristas que poderão se cadastrar no site do Detran, depois de passar pelo curso de instrutor, e dar aulas como segunda fonte de renda”.

O comentário reflete uma visão mais otimista sobre a reestruturação do setor. Para esse grupo, o modelo atual é excludente, e a flexibilização é uma forma de democratizar o direito de dirigir, aproximando o processo de outras profissões regulamentadas em que o cidadão pode atuar de maneira autônoma após certificação.

Dirigir é um direito que todo cidadão de bem deve ter. As autoescolas não podem ser um obstáculo, e sim uma opção. Os instrutores que já existem podem continuar, mas de forma autônoma”, escreveu outro participante da discussão.

Entre o custo e a sobrevivência: o dilema dos trabalhadores

Em contraposição, as falas do deputado Coronel Meira e de representantes das autoescolas ressaltam o impacto sobre os 300 mil profissionais do setor, incluindo instrutores, atendentes e examinadores.

O parlamentar afirma que “flexibilizar essas etapas significa colocar motoristas despreparados nas ruas”, e argumenta que a medida pode agravar o número de acidentes — o Brasil já figura entre os países com mais mortes no trânsito.

Leitores, porém, afirmam que o problema da segurança não está na sala de aula, mas na fiscalização precária e nas estradas mal conservadas. Um deles relatou: “Eu tenho veículo, mas não tenho CNH porque ou trabalho pra sustentar a família ou tiro habilitação. É caro e demora quase um ano. O sistema não pensa em quem precisa trabalhar”.

Essas falas evidenciam uma tensão social: para milhões de brasileiros, a habilitação é pré-requisito para conseguir emprego, especialmente em setores como transporte, entrega e logística.

Ao mesmo tempo, o custo elevado — que pode ultrapassar R$ 4 mil em algumas regiões — torna-se uma barreira quase intransponível.

“Autoescola ensina a passar no exame, não a dirigir”

Um dos comentários mais curtidos resume um sentimento comum: “Autoescola não ensina ninguém a dirigir, ensina a passar no exame do Detran”.

O leitor, que afirmou ter gasto mais de R$ 5 mil para tirar as categorias A e B, diz que ainda precisou pagar aulas extras após ser reprovado. “É covardia com a gente que é mais pobre”, escreveu.

Para ele, o ensino deveria se adaptar aos novos tempos: “Assim como o telemarketing e as locadoras mudaram com a tecnologia, o sistema de habilitação precisa evoluir”.

Essa analogia com transformações tecnológicas foi usada também por defensores da proposta dentro do governo, que argumentam que a digitalização do ensino e o uso de instrutores independentes podem tornar o processo mais ágil, sem comprometer a segurança — desde que haja certificação rigorosa e fiscalização do Detran.

A percepção pública: entre a indignação e a esperança

A leitura geral dos comentários revela um padrão de indignação com o sistema atual e uma busca por alternativas que unam acessibilidade, transparência e qualidade.

Mesmo entre os que apoiam o PDL nº 800/2025, há o reconhecimento de que o modelo vigente precisa de revisão estrutural.

Em síntese, a sociedade parece dividida em três blocos principais:

  1. Os céticos, que temem aumento de acidentes e defendem a manutenção das autoescolas como garantia de segurança;
  2. Os reformistas, que apoiam a flexibilização com critérios — exigindo certificação de instrutores e plataformas seguras de ensino;
  3. Os indignados, que denunciam práticas abusivas e veem nas autoescolas uma “máquina de arrecadar dinheiro”.

Em comum, todos reconhecem que o atual modelo de formação está distante da realidade social e econômica do país.

Um debate que vai além do trânsito

Enquanto o governo defende modernização e inclusão, o Congresso se mobiliza para frear o projeto e manter a obrigatoriedade. Mas fora dos gabinetes, a discussão ganhou contornos mais amplos: fala-se sobre desigualdade, oportunidades de emprego e o custo de ser cidadão no Brasil.

Seja pela indignação com os preços, pela esperança de um sistema mais justo ou pelo medo de um trânsito mais perigoso, o tema reacendeu um debate profundo sobre o papel do Estado e o equilíbrio entre liberdade individual e responsabilidade coletiva nas ruas do país.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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