Maior fazenda de ciclo completo do Brasil mantém rebanho de 120 mil cabeças com estratégias de suplementação, logística e tecnologia de ponta para enfrentar períodos de seca com eficiência e sustentabilidade
A Fazenda Nova Piratininga, localizada entre Goiás e Tocantins, tornou-se referência na pecuária nacional ao gerir um rebanho de 120 mil cabeças de gado em meio à seca. Com mais de 202 mil hectares de área, a propriedade é considerada a maior fazenda de ciclo completo do Brasil. O desafio de manter a produção durante a estiagem exige um planejamento rigoroso que envolve nutrição, logística e integração com agricultura.
O programa Giro do Boi recebeu o médico-veterinário Pedro Vinicius Souza Alves, gerente de pecuária da fazenda, que explicou como a operação garante que cada animal seja alimentado mesmo quando a pastagem perde vigor. A estratégia, segundo ele, está baseada em planejamento antecipado de suplementação, silagem e feno, sempre com foco no uso racional do pasto como principal recurso.
Planejamento nutricional garante eficiência
O ciclo de suplementação é organizado antes do início do ano-safra, que vai de setembro a agosto. O orçamento anual define o volume de silagem, feno e rações que serão produzidos. As categorias de animais recebem suplementações diferenciadas: novilhas mais leves recebem ração equivalente a 0,5% do peso vivo, enquanto as mais pesadas recebem 0,3%. Já aquelas que atingem o peso ideal para a estação de monta recebem apenas sal mineral com ureia durante a seca.
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A propriedade é dividida em áreas com forrageiras específicas, como humidícola em regiões baixas e andropogon e massai em áreas altas. Essa divisão aumenta a eficiência na utilização do solo e melhora o desempenho animal. Segundo Pedro Alves, “o suplemento é sempre um complemento, o pasto continua sendo a base da operação”.
Tecnologia e logística integradas
Manter 1.200 pastos abastecidos exige uma logística complexa. Para isso, a Nova Piratininga utiliza caminhões automatizados que distribuem o suplemento em rotinas diárias, semelhantes às práticas de confinamento. O sal mineral, por sua vez, é oferecido a cada dois dias.
A fazenda também opera um confinamento estático de 18 mil cabeças e uma área de semiconfinamento, que permite criar intensivamente bezerros e terminar vacas de descarte, aumentando a eficiência na produção de carne. Além disso, 13 mil hectares estão destinados à agricultura, garantindo autossuficiência na produção de grãos e volumosos para alimentação animal.
A informação foi divulgada pelo Canal Rural, que destacou ainda a participação da propriedade em protocolos de qualidade, como o 1953, destinado a certificar a entrega de carcaças dentro de padrões exigidos pela indústria frigorífica.
Sustentabilidade e bem-estar animal
O sucesso da Nova Piratininga também está ligado a práticas sustentáveis e ao foco no bem-estar. Segundo os gestores, os 420 colaboradores da fazenda trabalham alinhados a princípios de manejo consciente, que valorizam tanto os animais quanto a equipe.
Entre as práticas de destaque estão:
- Bem-estar animal: protocolos de manejo que reduzem o estresse em etapas como a desmama.
- Sustentabilidade: integração lavoura-pecuária com produção de silagem e feno para reduzir impactos ambientais.
- Reciclagem: vacas vazias são terminadas em semiconfinamento, garantindo aproveitamento econômico e ambiental.
Essas medidas tornam a produção mais previsível e reduzem custos, especialmente durante períodos críticos de estiagem. A irrigação com pivôs centrais também reforça a autossuficiência agrícola da propriedade.
Produção de referência nacional
Com operações concentradas em Goiás e Tocantins, a Nova Piratininga envia machos para abate em Mozarlândia e fêmeas para Goiânia, garantindo fornecimento constante de carne ao mercado. A propriedade é reconhecida pela sua capacidade de manter alto padrão de produtividade mesmo em condições climáticas adversas, resultado direto de gestão planejada e uso de tecnologias adaptadas à realidade brasileira.
O caso da Nova Piratininga evidencia como a pecuária de grande porte no país pode se modernizar sem perder eficiência. A combinação entre planejamento orçamentário, integração agrícola e tecnologias de manejo mostra que é possível enfrentar os desafios da seca com estratégias bem estruturadas e foco em resultados.