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Orcas selvagens estão oferecendo peixes a humanos: cientistas veem tentativa de conexão

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 02/07/2025 às 09:36
Orcas
Foto: Reprodução
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Orcas selvagens têm surpreendido pesquisadores ao oferecer presas a humanos, gesto que pode revelar tentativa de criar laços entre espécies.

Em uma tarde de 2015, o pesquisador Jared Towers navegava na costa de Alert Bay, na Colúmbia Britânica. Observava orcas se alimentando de aves marinhas, quando algo inusitado aconteceu. Akela, uma jovem orca fêmea, surgiu à tona com uma ave mole entre os dentes.

Ela nadou até Towers, deixou a ave perto dele e ficou parada. Em seguida, seu irmão, Quiver, repetiu o gesto. As duas observaram o humano por instantes, pegaram novamente as aves e se afastaram.

A cena despertou uma pergunta imediata: será que aquilo realmente havia acontecido?

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Desde então, Towers e sua equipe passaram a investigar esse tipo de comportamento entre orcas selvagens.

Presente ou experimento?

Towers se uniu às pesquisadoras Ingrid Visser, da Nova Zelândia, e Vanessa Prigollini, do México.

O grupo registrou 34 episódios semelhantes entre 2004 e 2024.

As situações seguiam critérios rígidos. A orca deveria se aproximar voluntariamente, liberar um item — geralmente uma presa recém-abatida — e aguardar a reação do humano.

As oferendas não eram simples. Em um caso, um jovem macho na Nova Zelândia carregava uma arraia sobre a cabeça.

Em outro, uma orca norueguesa ofereceu uma água-viva a um mergulhador.

No total, foram entregues 18 espécies diferentes, incluindo raias, pássaros, tartarugas marinhas, focas e até parte de uma baleia-cinzenta.

Mesmo com as recusas, as baleias não desistiam. Em 76% das interações, elas recuperaram o item após a recusa humana.

Algumas tentavam oferecer de novo. Para Towers, isso mostra que as orcas estavam testando, explorando, talvez aprendendo.

Altruísmo ou curiosidade?

As orcas são mamíferos marinhos conhecidos por sua inteligência e comportamento social.

Vivem em grupos coesos, compartilham alimentos e usam estratégias de caça em equipe.

Essa estrutura social inclui transmissão de conhecimentos, como vocalizações e técnicas de caça — o que os cientistas chamam de cultura cetácea.

Compartilhar com humanos, no entanto, é raro no reino animal.

O estudo propõe que essas interações podem ser sinais de “altruísmo generalizado”, quando um animal realiza um ato de generosidade com outra espécie, sem ganho evidente.

Outros animais já demonstraram esse tipo de atitude, como alguns primatas, golfinhos e aves.

Lori Marino, neurocientista da Universidade de Nova York, aponta que as orcas podem estar projetando em humanos a mesma boa vontade que expressam entre si.

Reconhecimento de consciência

Alguns cientistas sugerem que as orcas podem estar reconhecendo os humanos como seres conscientes.

Isso se refere à “teoria da mente“, ou seja, a capacidade de entender que o outro possui pensamentos e intenções próprios.

Essa habilidade é desenvolvida por humanos na infância, mas também já foi observada em chimpanzés, gaios-do-mato e golfinhos.

Se as orcas estão mesmo praticando atos intencionais de interação, isso pode indicar que também fazem parte desse seleto grupo de animais com capacidades cognitivas complexas.

Por que agora?

As orcas são predadoras com hábitos variados. Algumas caçam peixes, outras focas ou tubarões.

Algumas até atacam baleias. Muitas vezes, sobram presas após a caçada. Isso cria oportunidades para usar os restos em experimentações sociais, segundo Towers.

A curiosidade parece ser o principal motivador. Em 97% dos casos registrados, as orcas observavam o comportamento humano após a entrega.

Quando o item era devolvido, algumas baleias insistiam, reapresentando a oferenda.

O comportamento não parece estar ligado apenas à alimentação, mas a um processo de aprendizado. A entrega da presa pode ser uma forma de reduzir incertezas sobre o outro, provocar reações e gerar estímulo mental.

Diferenças entre grupos

Nem todas as populações de orcas apresentaram esse comportamento. Os casos registrados vieram de grupos que caçam na superfície e dependem da visão. Não foram observadas ofertas em grupos que caçam no fundo do mar, com auxílio de ecolocalização.

Isso sugere que pistas visuais e jogos sociais têm papel importante nessas interações. Em 38% dos registros, as baleias estavam brincando com as presas antes de entregá-las. Viravam, arremessavam, rodavam os itens no ar ou na água.

O perfil das orcas variava: adultos, jovens e até filhotes. Algumas ofereciam mais de uma vez, o que levanta a hipótese de que se trate de um comportamento aprendido e talvez transmitido entre gerações.

Um novo traço cultural?

Muitas das baleias que participaram das interações pertencem a mesmas matrilinhagens — grupos liderados por fêmeas e baseados em laços familiares. Isso reforça a possibilidade de que o comportamento seja cultural, emergindo dentro de certos grupos e se espalhando por meio da observação e repetição.

Towers considera essa hipótese bastante plausível. O oferecimento de presas, nesse contexto, pode ser mais do que brincadeira: uma tentativa de relacionamento, uma forma de experimentar vínculos entre espécies.

Encontros com humanos

As orcas não são novatas em interações com humanos. No passado, já ajudaram baleeiros australianos a capturar baleias de barbatanas em troca de restos. Também aprenderam a roubar peixes de linhas de pesca ou danificar embarcações.

Mas o gesto de oferecer, de forma direta e aparentemente intencional, é novo.

Os autores do estudo propõem que isso pode representar uma combinação de comportamentos: cultura, curiosidade, aprendizado e construção de laços. No entanto, eles também fazem um alerta importante.

Atenção sem romantizar

Apesar da natureza intrigante desses encontros, os cientistas pedem cautela. As orcas são animais poderosos, imprevisíveis e selvagens. Interpretar mal os gestos ou tentar incentivar essas interações pode ser perigoso.

Ainda assim, os eventos não devem ser ignorados. Podem representar uma nova forma de conexão cognitiva entre duas espécies muito diferentes, mas igualmente complexas.

Towers evita conclusões definitivas. Mas permanece atento aos sinais.

“Nem sempre é fácil interpretar o que uma orca está pensando”, diz ele. “Mas quando uma delas nada até você e deixa uma foca cair aos seus pés, é difícil não sentir que ela está tentando dizer alguma coisa.”

As descobertas foram publicadas no Journal of Comparative Psychology.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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