Em 1991, após um ataque covarde a militares brasileiros na fronteira com a Colômbia, o Exército executou uma retaliação exemplar conhecida como Operação Traíra.
A imensa fronteira brasileira na Amazônia sempre foi um desafio para o controle. Vizinho dos maiores produtores de drogas do mundo e rota para o tráfico internacional, o local é palco constante de conflitos. Em 1991, um ataque das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) a um posto militar brasileiro exigiu uma resposta rápida e enérgica: a Operação Traíra.
Fronteira, garimpo ilegal e a pressão sobre as Farc
O Brasil possui uma fronteira extensa e de difícil vigilância, especialmente na região amazônica. Essa área é estratégica para organizações criminosas, servindo como corredor para o tráfico de drogas vindo de países vizinhos e também como palco para atividades como o garimpo ilegal. O ouro extraído ilegalmente movimenta muito dinheiro e poder.
Na região do Rio Traíra, fronteira com a Colômbia, o Exército Brasileiro mantinha bases para ocupar o território e coibir crimes. Uma ação específica, a Operação Jatuarana, visava acabar com o garimpo ilegal que ocorria em áreas abandonadas por uma mineradora. Essa operação estava sendo bem-sucedida, incomodando grupos que lucravam com a atividade, incluindo as Farc.
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As Farc, um grupo guerrilheiro colombiano de orientação comunista surgido nos anos 60, evoluíram para o crime organizado, envolvendo-se com sequestros e narcotráfico. Na época, pressionadas financeiramente por ações do governo colombiano, viram no garimpo de ouro na fronteira uma fonte vital de recursos. O Exército Brasileiro se tornou um obstáculo direto a esses interesses.
O ataque surpresa ao destacamento brasileiro no Rio Traíra
Sob o comando do grupo “Comando Simón Bolívar”, cerca de 40 guerrilheiros das Farc atacaram o acampamento militar brasileiro Traíra. A base era simples, feita com materiais locais, e não oferecia grande proteção. No momento do ataque, numa terça-feira por volta do meio-dia, os cerca de 17 militares brasileiros estavam em atividades rotineiras, como cozinhar e buscar lenha, e foram pegos de surpresa.
O ataque foi brutal. Três militares brasileiros foram mortos, incluindo um soldado conhecido como Sansão, e outros ficaram feridos. Os guerrilheiros roubaram todo o armamento, munição, equipamentos de comunicação (rádios), binóculos, coletes e até uniformes e documentos oficiais. O roubo dos rádios foi crítico, pois deixou os sobreviventes completamente isolados na selva.
A reação imediata: mobilização para a Operação Traíra
Os militares sobreviventes permaneceram incomunicáveis até a chegada de um pelotão de revezamento na sexta-feira seguinte. Somente então a notícia do ataque chegou ao comando em Manaus e, rapidamente, a Brasília. O então presidente Fernando Collor, informado pelas Forças Armadas, contatou o presidente colombiano César Gaviria. Gaviria, ocupado no combate a Pablo Escobar, autorizou a entrada e ação do Brasil em território colombiano para caçar os responsáveis.
A resposta brasileira foi imediata. Ainda na tarde de sexta-feira, foi dada a ordem para que oficiais e sargentos de unidades especiais no Rio de Janeiro permanecessem aquartelados ou retornassem imediatamente. Em poucas horas, estavam todos reunidos, sem saber o motivo exato. Foram transportados para Brasília e, de lá, embarcaram em aeronaves sob sigilo total. O Comando de Operações Terrestres (COTER) assumiu a coordenação. A missão, inicialmente chamada de Operação Jatuarana II, ficou conhecida como Operação Traíra.
A caçada na selva
Dentro do avião, o comandante da tropa recebeu um envelope com as ordens, a serem abertas apenas em voo. A missão era clara: retaliar o ataque das Farc. A força-tarefa era composta por tropas de elite com diversas especialidades: paraquedismo, infiltração, reconhecimento, contraterrorismo e guerra na selva, incluindo especialistas da própria Amazônia. Contaram com apoio de aeronaves Tucano e helicópteros. O Comando Militar da Amazônia e o Comando da Fronteira de Solimões (terra natal de alguns dos mortos) também participaram, adicionando um elemento de vingança pessoal à missão.
Após se infiltrarem na selva colombiana, os militares brasileiros interceptaram uma embarcação suspeita. Interrogando os guerrilheiros capturados, descobriram a localização do acampamento Farc responsável pelo ataque: a cinco horas de subida de rio e mais duas horas de caminhada mata adentro. No dia 8 (a contagem exata dos dias após o início da mobilização pode variar na fonte, mas foi rápida), as forças brasileiras executaram um ataque preciso, destruindo o acampamento guerrilheiro.
Posteriormente, em outra incursão no dia 20, localizaram um segundo acampamento com cerca de 150 guerrilheiros, mas também com mulheres e crianças (famílias dos combatentes) e prisioneiros. Diante da presença de civis, a liderança militar brasileira decidiu cancelar o ataque direto.
A Operação Traíra foi considerada um sucesso. Embora não tenha erradicado a presença das Farc ou o crime na fronteira – uma tarefa complexa dada a vastidão e falta de civilização na área –, ela deixou um recado claro: atacar o Exército Brasileiro teria consequências severas. A operação reforçou a reputação dos militares brasileiros especializados em guerra na selva e demonstrou a capacidade de resposta rápida do Brasil em defesa de sua soberania.