ANP interditou a estrutura em Iguatemi (MS) no dia 10 de setembro de 2025, após constatar falhas graves de segurança; oito distribuidoras são investigadas por ligação com o crime organizado.
A Operação Carbono Oculto revelou um esquema de combustíveis “fantasma” em Mato Grosso do Sul que coloca em xeque a credibilidade da fiscalização no setor. Segundo informações confirmadas pelo G1, a base da Ecológica Distribuidora de Combustíveis Ltda., localizada em Iguatemi, funcionava apenas no papel. Ela era usada como fachada por 24 distribuidoras, das quais oito já estão sob investigação formal.
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) interditou o local em 10 de setembro de 2025, após identificar irregularidades graves. Embora registrada como ativa, a base não apresentava movimentação real de combustíveis desde junho de 2024, descumprindo a Resolução ANP nº 950/2023, que prevê suspensão de autorização para unidades inativas por mais de 90 dias consecutivos.
Como funcionava a base “fantasma”
Na prática, a estrutura era utilizada como “barriga de aluguel” — termo usado no setor para designar instalações alugadas apenas para simular cumprimento de normas.
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Assim, as distribuidoras conseguiam autorizações em Mato Grosso do Sul, onde os custos operacionais são menores, mas atuavam de fato em São Paulo e outros estados, sem manter a infraestrutura necessária.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) aponta ainda a participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no esquema.
O grupo teria usado a base para infiltrar-se no mercado de combustíveis e lavar dinheiro por meio de fintechs, ampliando o risco de contaminação da economia legal pelo crime organizado.
Falhas técnicas que justificaram a interdição
O relatório da ANP mostra números preocupantes.
O volume de líquido gerador de espuma (LGE), essencial para conter incêndios, era de apenas 1,55 m³, bem abaixo do mínimo exigido de 8 m³.
A bacia de contenção, que deve evitar vazamentos de combustível, tinha profundidade de 1,5 metro, quando o projeto aprovado previa 2,15 metros.
Essas falhas significavam risco real de incêndio e explosão, o que levou à interdição imediata.
Segundo a ANP, cinco distribuidoras já perderam autorização de funcionamento e outras 19 estão em processo administrativo de revogação.
Consequências para o mercado e para o país
O caso traz três impactos principais. Primeiro, evidencia que 24 distribuidoras burlaram regras de segurança e operação, minando a confiança no sistema regulatório.
Segundo, mostra como o crime organizado se aproveita de brechas no setor de energia para movimentar grandes valores com aparência de legalidade.
Terceiro, pode afetar a oferta regional de combustíveis, já que empresas terão de migrar para bases regulares, o que tende a pressionar custos e preços.
O uso de fintechs para ocultar recursos amplia a complexidade da investigação, exigindo cooperação entre ANP, Banco Central, Ministério Público e órgãos de segurança.
O risco sistêmico vai além da energia e alcança o mercado financeiro.
O que ainda não foi revelado
Apesar das descobertas, ainda existem lacunas importantes.
O G1 não divulgou os nomes das 24 distribuidoras envolvidas, nem quais fintechs estariam sendo usadas para a lavagem de dinheiro.
Também não há informações sobre o montante total movimentado, valores declarados falsamente ou bloqueios de ativos.
Esses pontos indicam que a investigação está em andamento e que novos desdobramentos podem ampliar a dimensão do escândalo.
A interdição da base de Iguatemi expõe como fraudes estruturais, falhas de segurança e infiltração do crime organizado podem corroer a confiança no setor de combustíveis brasileiro.
O episódio é um alerta para a necessidade de fiscalização mais rígida e integração entre órgãos reguladores e de segurança.
E você, acredita que casos como o dos combustíveis “fantasma” mostram fragilidade na regulação ou representam apenas uma exceção isolada? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem vive essa realidade no dia a dia.