Mesmo com o avanço das energias limpas, a demanda por petróleo continuará crescendo até 2050, segundo a Opep, impulsionada por países em desenvolvimento e setores como transporte e aviação.
A demanda por petróleo impulsiona a economia global desde o início do século XX. Ainda que as tecnologias renováveis avancem, o petróleo permanece essencial para setores estratégicos como mobilidade, indústria e geração de energia.
De acordo com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o consumo global continuará subindo de forma consistente nas próximas décadas. Conforme o relatório divulgado em 10 de julho, a projeção indica que o mundo atingirá cerca de 123 milhões de barris por dia (bpd) até 2050.
Comparando com o consumo atual de aproximadamente 102 milhões de bpd, o crescimento estimado é de 20%. Além disso, a Opep deixa claro que “não há pico de demanda de petróleo no horizonte”, contrariando análises que apostavam na redução do consumo até meados de 2030 ou 2040.
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A trajetória histórica da demanda por petróleo
Para entender esse panorama, é necessário revisitar o passado. Desde o final do século XIX, quando o uso industrial do petróleo se intensificou, sua importância só aumentou.
Inicialmente impulsionado pela indústria automobilística e, em seguida, pela aviação, o petróleo ganhou protagonismo. Ao longo do século XX, especialmente nos países industrializados como Estados Unidos e Europa Ocidental, o petróleo se consolidou como motor do desenvolvimento.
Ele movimentou veículos, alimentou fábricas, aqueceu casas e impulsionou o comércio global. Entretanto, a partir dos anos 1970, com as crises do petróleo e a criação da Opep, o mercado passou a se comportar de forma mais sensível às questões políticas e econômicas.
Posteriormente, nas décadas seguintes, países como China e Índia começaram a puxar a demanda global. Atualmente, essa tendência permanece forte.
Além disso, o crescimento populacional, particularmente em regiões como Ásia e África, contribui diretamente para o aumento da demanda energética. Quanto mais a população cresce, mais transporte, energia e produtos industrializados se tornam necessários.
Isso eleva o consumo de petróleo.
O papel dos países em desenvolvimento no crescimento da demanda
Segundo a Opep, os principais responsáveis pela expansão da demanda por petróleo nas próximas décadas serão Índia, Oriente Médio, África e países da Ásia fora da OCDE. Juntos, esses grupos representarão um aumento de 22,4 milhões de bpd até 2050, sendo a Índia responsável por 8,2 milhões de bpd.
Essas regiões compartilham diversas características estruturais. Entre elas, destacam-se a urbanização crescente, a industrialização acelerada, o aumento da frota de veículos e o fortalecimento da classe média.
Por consequência, a necessidade por combustíveis fósseis se intensifica. Em contraste, os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como Estados Unidos, Japão e Alemanha, tendem a reduzir o consumo em 8,5 milhões de bpd até 2050.
Isso ocorre porque esses países têm políticas ambientais mais rigorosas, maior penetração de veículos elétricos e investimentos crescentes em eficiência energética.
Ainda assim, substituir completamente o petróleo continua sendo um desafio. Afinal, a transição energética exige grandes investimentos em infraestrutura, mudanças culturais, tempo e estabilidade econômica.
Por esse motivo, a redução do petróleo ocorrerá de forma gradual — e não imediata.
Setores que impulsionarão o consumo até 2050
De acordo com o relatório da Opep, os setores que mais vão impulsionar a demanda por petróleo até 2050 são: transporte rodoviário, aviação e indústria petroquímica. Juntos, eles devem representar um acréscimo de mais de 14 milhões de bpd.
Estima-se que a frota de veículos no planeta passará de 1,7 bilhão em 2024 para 2,9 bilhões em 2050. Embora os carros elétricos estejam em expansão, os veículos com motor a combustão continuarão predominando.
Em 2050, cerca de 72% da frota mundial ainda utilizará combustíveis fósseis. Ao mesmo tempo, o crescimento do setor petroquímico, especialmente em países em desenvolvimento, manterá alta a demanda por petróleo como matéria-prima.
Afinal, plásticos, fertilizantes, solventes e medicamentos ainda dependem intensamente de derivados do petróleo. Portanto, mesmo com incentivos à sustentabilidade e ao uso de materiais recicláveis, o mundo ainda se manterá dependente dessa fonte energética.
Produção em expansão para atender à demanda crescente
Enquanto a demanda por petróleo cresce, os países produtores já se organizam para ampliar a oferta. Segundo a Opep, Estados Unidos, Brasil e Canadá devem expandir suas produções em 5,6 milhões de bpd até 2050.
Isso será possível graças ao uso intensivo de tecnologias como fraturamento hidráulico e exploração do pré-sal. Paralelamente, os países da Opep pretendem aumentar sua produção em 15 milhões de bpd, o que elevará sua participação de 48% para 52% do mercado global.
Esse movimento reforça a liderança da organização na regulação do equilíbrio entre oferta e demanda. Entretanto, diversos fatores geopolíticos influenciam a produção.
Conflitos armados, embargos econômicos, mudanças nos governos e crises climáticas podem alterar estratégias e capacidades dos países produtores.
Por esse motivo, será essencial combinar investimento, diplomacia e planejamento estratégico para manter o fornecimento estável e contínuo.
Petróleo seguirá como protagonista da matriz energética
Apesar da crescente adesão às fontes renováveis, o petróleo continuará como base energética nas próximas décadas. A Opep destaca que não se vê no horizonte um ponto de inflexão capaz de provocar uma queda definitiva na demanda por petróleo.
Isso se explica, sobretudo, pela dificuldade em substituir os combustíveis líquidos em setores como transporte pesado, navegação, aviação e indústria petroquímica.
Ainda que inovações surjam, nenhuma fonte alternativa consegue competir com o petróleo em densidade energética e escala de produção.
Além disso, muitos produtos essenciais à vida moderna — como tecidos sintéticos, cosméticos, medicamentos, tintas e isolantes — derivam diretamente do petróleo.
Substituí-los por alternativas sustentáveis exigirá tempo, pesquisa e adaptação industrial.
Portanto, mesmo que o mundo caminhe para a neutralidade de carbono, o petróleo manterá sua função central, especialmente nas próximas três décadas.
A trajetória da demanda por petróleo nos próximos anos se revela clara: o mundo continuará consumindo mais, não menos. Impulsionado por países em desenvolvimento e setores difíceis de eletrificar, o consumo deve alcançar 123 milhões de bpd até 2050, segundo a Opep.
Embora o mundo esteja se mobilizando para reduzir emissões e diversificar a matriz energética, ainda dependeremos do petróleo para manter nossas economias em funcionamento.
Desse modo, será necessário encontrar formas de torná-lo mais eficiente, menos poluente e compatível com os compromissos climáticos globais.
Portanto, o desafio não está apenas em reduzir o uso do petróleo, mas em adaptá-lo à nova realidade: um mundo que exige energia em abundância, mas também sustentabilidade e responsabilidade ambiental.