Projeto europeu LIFE NIMBUS transforma resíduos de esgoto em biometano e mostra como a economia circular pode reduzir emissões e abastecer o transporte público.
A cidade de Barcelona, na Espanha, está testando uma solução de transporte público que até pouco tempo atrás parecia saída da ficção científica: um ônibus movido a biometano gerado a partir de fezes humanas. O projeto faz parte da iniciativa europeia LIFE NIMBUS, que tem como objetivo demonstrar como a economia circular pode transformar resíduos em energia limpa e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões do setor de mobilidade urbana.
Como funciona o combustível de dejetos humanos
O processo começa nas estações de tratamento de esgoto, que recebem diariamente milhões de litros de resíduos de cerca de 1,5 milhão de pessoas. Durante o tratamento, os dejetos são submetidos a um processo de digestão anaeróbica, em que micro-organismos decompõem a matéria orgânica e produzem biogás.
Esse biogás passa por um processo de purificação, que remove impurezas e concentra o metano. O resultado é o biometano, um combustível renovável com poder energético semelhante ao gás natural, mas com uma pegada de carbono muito menor.
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No caso de Barcelona, o biometano gerado é comprimido e armazenado para abastecer o ônibus experimental da Transports Metropolitans de Barcelona (TMB), que já percorreu mais de 40 mil quilômetros em rotas urbanas.
Impacto ambiental positivo
De acordo com os responsáveis pelo projeto, o uso do biometano pode reduzir em até 85% as emissões de CO₂ em comparação com um ônibus movido a diesel. Além disso, o aproveitamento do lodo de esgoto evita que toneladas de resíduos sejam descartadas sem reaproveitamento, fechando o ciclo da chamada economia circular.
Na prática, o ônibus não apenas transporta passageiros com eficiência, mas também ajuda a combater dois grandes problemas urbanos: o descarte de resíduos orgânicos e a poluição atmosférica.
Tecnologia desenvolvida em parceria
O projeto LIFE NIMBUS é resultado de uma ampla cooperação. Participam dele empresas e instituições como a Aigües de Barcelona, a Universitat Autònoma de Barcelona (UAB), a Cetaqua e a própria TMB.
Cada parceiro contribui em uma parte do processo: desde a pesquisa científica, passando pela engenharia de purificação do biogás, até a integração do combustível no transporte público.
Essa colaboração mostra como soluções sustentáveis dependem de inovação coletiva e de investimentos que vão além de fronteiras nacionais.
Um ônibus que já roda na prática
O veículo em teste não é apenas um protótipo de laboratório: ele já está circulando pelas ruas de Barcelona, transportando passageiros em rotas convencionais. Até agora, percorreu mais de 40 mil quilômetros, provando que o biometano é um combustível viável para o transporte coletivo urbano.
A expectativa é de que, com o sucesso da experiência, mais ônibus movidos a resíduos humanos sejam incorporados à frota da cidade nos próximos anos.
Economia circular aplicada ao transporte
O diferencial do projeto é a aplicação do conceito de economia circular: resíduos que antes eram descartados como lixo agora são transformados em insumo energético.
Com isso, a cidade não só reduz a dependência de combustíveis fósseis, como também aproveita um recurso que nunca falta em grandes centros urbanos: o esgoto produzido diariamente pela população.
Um modelo para o futuro das cidades
Barcelona é reconhecida internacionalmente por suas iniciativas de mobilidade sustentável, e o ônibus movido a fezes humanas reforça esse protagonismo. A experiência pode servir de modelo para outras cidades do mundo, inclusive no Brasil, que enfrenta grandes desafios na gestão de resíduos e na busca por alternativas ao diesel no transporte público.
Se iniciativas semelhantes forem adotadas em larga escala, o impacto positivo pode ser gigantesco: menos poluição, mais eficiência e aproveitamento inteligente de recursos que antes eram vistos apenas como problema.
O ônibus movido a biometano de fezes humanas em Barcelona mostra que inovação e sustentabilidade podem caminhar juntas. Ao transformar resíduos em energia limpa, o projeto LIFE NIMBUS prova que até o que parecia inviável pode se tornar parte da solução para cidades mais verdes e eficientes.