Arranha-céu One Vanderbilt, de 423 metros, usa tanques de água gigantes para “respirar” com o vento e se tornou um ícone da engenharia moderna em Nova York.
Pouca gente imagina que os arranha-céus mais altos do mundo literalmente se movem. O One Vanderbilt, em Nova York — um dos prédios mais modernos e altos do planeta, com 423 metros de altura e 93 andares — é um exemplo vivo da engenharia que permite que uma estrutura de aço e vidro “respire” sem comprometer sua segurança. Segundo dados do Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH) e do Steel Institute of New York, o edifício pode oscilar até 2 metros no topo durante ventos fortes, mas seus ocupantes dificilmente percebem isso.
A explicação está em um sistema sofisticado chamado Tuned Mass Damper (TMD) — um enorme conjunto de tanques com água e contrapesos que estabilizam o edifício quando o vento o empurra. O One Vanderbilt possui um amortecedor de massa sintonizada de cerca de 520 toneladas, desenvolvido para reduzir em até 80% as vibrações e eliminar o desconforto causado pelas rajadas que atingem a cidade de Nova York, onde os ventos chegam a mais de 100 km/h nos dias mais intensos.
A engenharia por trás de um gigante que “respira”
Construído entre 2016 e 2020, o One Vanderbilt está localizado ao lado da Grand Central Station, em Manhattan, e se tornou um dos marcos da revitalização da zona leste da ilha. Com estrutura metálica e fachada de vidro laminado de última geração, o prédio foi projetado pela Kohn Pedersen Fox Associates (KPF), uma das maiores firmas de arquitetura do mundo.
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Para suportar os ventos que sopram a mais de 400 metros de altura, os engenheiros precisaram adotar soluções inéditas. O Tuned Mass Damper — um sistema já usado em torres como o Taipei 101 (Taiwan) e o Shanghai Tower (China) — foi adaptado com precisão milimétrica para o clima de Nova York.
Ele consiste em tanques cheios de água e amortecedores hidráulicos suspensos por cabos de aço. Quando o prédio se inclina para um lado, a massa líquida se move no sentido contrário, compensando o movimento e estabilizando o centro de gravidade da torre. O resultado é uma leve oscilação imperceptível a olho nu, que mantém o prédio estável mesmo durante tempestades.
O desafio de erguer um prédio que se move
Segundo o engenheiro estrutural Ken Lewis, da Severud Associates — empresa responsável pela estrutura do One Vanderbilt —, o maior desafio foi desenvolver um sistema que funcionasse de forma automática e independente, sem interferir nas operações do prédio. “O TMD atua como um coração silencioso da torre. Ele reage em frações de segundo e garante que nada do que ocorre lá fora seja sentido dentro dos escritórios”, explicou em entrevista ao New York Times.
Os testes estruturais foram realizados em túnel de vento na RWDI (Research Wind Design Institute), no Canadá, onde maquetes em escala reduziram os riscos antes da instalação final.
Um colosso sustentável
Além de ser um feito de engenharia, o One Vanderbilt também foi projetado com foco em sustentabilidade. O prédio é certificado LEED Platinum, com sistemas de ventilação inteligente, vidros de alta eficiência térmica e reaproveitamento de água da chuva. O próprio amortecedor hidráulico faz parte desse conceito: sua água pode ser reutilizada em caso de manutenção, evitando desperdício.
Em termos energéticos, o edifício opera com 30% menos consumo do que prédios de mesmo porte e abriga mais de 1,5 milhão de metros quadrados de área útil, onde funcionam escritórios de grandes empresas financeiras e de tecnologia.
A sensação de estar dentro de um gigante vivo
Quem visita o mirante Summit One Vanderbilt, no topo do edifício, não imagina que o piso de vidro sob os pés está, literalmente, se movendo alguns centímetros com o vento. Essa leve oscilação é o resultado natural da flexibilidade estrutural — e o que torna o prédio mais seguro.
A torre foi projetada para se mover e não resistir totalmente ao vento, uma filosofia moderna que garante durabilidade e conforto. Caso fosse completamente rígida, as forças externas poderiam causar rachaduras ou danos ao longo do tempo. Em vez disso, o One Vanderbilt “dança” com o vento — uma demonstração de como a engenharia moderna aprendeu a trabalhar com a natureza, não contra ela.
Outros prédios que “se mexem” pelo mundo
O fenômeno não é exclusivo de Nova York. Os arranha-céus mais altos do planeta também utilizam sistemas semelhantes:
- Taipei 101 (Taiwan) — possui uma esfera de 660 toneladas pendurada por cabos, visível aos visitantes, que move-se de forma oposta ao vento;
- Shanghai Tower (China) — conta com um TMD de 1.000 toneladas, considerado o maior do mundo, instalado entre os últimos andares;
- Burj Khalifa (Dubai) — utiliza um sistema de geometria espiralada que dispersa o vento, reduzindo a necessidade de amortecedores mecânicos.
Essas tecnologias tornaram possível a era dos “superarranha-céus”, construções que ultrapassam 300 metros e redefinem o conceito de estabilidade urbana.
Um símbolo da engenharia moderna
O One Vanderbilt não é apenas um prédio — é um marco da engenharia que une estética, ciência e sustentabilidade. Seus tanques de água silenciosos e sistemas automatizados permitem que uma estrutura de mais de 1,6 milhão de toneladas de aço e concreto mantenha o equilíbrio com a delicadeza de um pêndulo.
No coração da cidade que nunca dorme, o arranha-céu que se mexe com o vento mostra que, às vezes, a força de uma construção está justamente na sua capacidade de se mover.