Com o avanço da tecnologia automotiva, oficinas independentes enfrentam dificuldades crescentes para consertar carro novo, presos a sistemas eletrônicos controlados por montadoras e a altos custos de acesso a dados técnicos essenciais.
Nos últimos anos, o carro novo passou a representar não apenas um meio de transporte moderno, mas também um computador sobre rodas. Equipados com sensores, softwares e módulos de controle eletrônico, os veículos atuais exigem diagnósticos digitais complexos que antes eram feitos com ferramentas simples e experiência de oficina.
Mas esse avanço tem um custo alto para os pequenos reparadores. Oficinas independentes em todo o país relatam dificuldade crescente para consertar modelos modernos, já que muitas informações técnicas, códigos de falha e sistemas de desbloqueio são restritos pelas próprias montadoras. Sem acesso completo, muitos mecânicos precisam recorrer a concessionárias para concluir reparos que antes eram rotineiros.
A nova dependência tecnológica e as barreiras impostas pelas montadoras
O mecânico Agnaldo, dono de uma oficina de médio porte, afirma que mesmo com scanners modernos, ainda precisa pagar taxas anuais em euro para acessar diagnósticos eletrônicos de determinadas marcas.
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Cada atualização de software ou liberação de código depende da autorização da montadora, o que encarece o serviço e limita a competitividade das oficinas menores.
“Eu tenho que pagar todo ano para conseguir o código de acesso e liberar o sistema do carro. Se não pago, o scanner simplesmente não entra”, explica.
Segundo ele, o custo desses pacotes pode ultrapassar o valor de vários reparos médios por mês.
Para as pequenas oficinas, esse gasto é inviável, o que acaba excluindo profissionais do mercado e concentrando o poder técnico nas mãos das montadoras.
Quando o cliente precisa voltar à concessionária
O cenário se repete em diferentes cidades do país. José Roberto, proprietário de uma oficina de bairro, conta que precisou encaminhar um veículo de volta à concessionária após não conseguir solucionar um problema eletrônico.
“O scanner identificava o código, mas não dava acesso à correção. Só o sistema da montadora podia liberar o reparo”, relata.
Casos como esse têm se tornado comuns, principalmente em veículos com sistemas de injeção digital, sensores de emissão e módulos de segurança.
Os diagnósticos exigem leitura criptografada, e sem a chave digital fornecida pelo fabricante, a oficina não consegue concluir o conserto.
O resultado é um serviço mais caro para o consumidor e um mercado cada vez mais fechado para os reparadores independentes.
O argumento da segurança e a disputa pelo direito de consertar
As montadoras alegam que as restrições de acesso às informações técnicas servem para proteger os sistemas de segurança dos veículos, evitando manipulações que possam comprometer a integridade eletrônica e digital dos carros.
Porém, especialistas do setor afirmam que esse controle também tem impacto econômico, já que limita a concorrência e dificulta a livre manutenção.
A discussão sobre o chamado “direito de reparar” movimento que defende o acesso livre às informações de conserto vem ganhando força em diversos países.
No Brasil, ainda não há regulamentação específica, mas mecânicos e associações de reparadores pressionam por leis que garantam acesso justo a dados técnicos e softwares, argumentando que o consumidor deve poder escolher onde realizar o reparo de seu veículo.
O desafio de equilibrar tecnologia e acesso justo
Enquanto a indústria automotiva avança para carros cada vez mais inteligentes e conectados, as pequenas oficinas correm o risco de desaparecer, sufocadas por custos e barreiras técnicas.
O conserto de um carro novo que antes dependia de um bom mecânico, hoje depende também de login, senha e autorização digital.
Para muitos profissionais, o futuro do setor depende de uma mudança de postura: ou as montadoras abrem parte das informações técnicas, ou a cadeia de manutenção automotiva ficará restrita a grandes grupos, reduzindo empregos, concorrência e a própria autonomia do consumidor.
E você, ainda confia o conserto do seu carro novo à oficina do bairro ou acredita que os modelos atuais deixaram isso no passado?