BNDES financiou R$ 3,9 bilhões no Metrô de Caracas, R$ 1,6 bilhão na ponte sobre o Orinoco e outros projetos que somam R$ 8 bilhões — e a Venezuela não pagou nada
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se tornou protagonista de uma das maiores polêmicas financeiras envolvendo recursos públicos brasileiros. Entre o fim da década de 1990 e 2017, a instituição aprovou financiamentos que somaram aproximadamente R$ 8 bilhões para projetos de infraestrutura na Venezuela. O objetivo declarado era apoiar empresas nacionais de engenharia em obras internacionais e, ao mesmo tempo, fortalecer as relações entre os dois países. No entanto, mais de sete anos depois do vencimento das primeiras parcelas, a realidade é dura: a Venezuela não pagou absolutamente nada desse valor.
Como funcionavam os financiamentos
Um dos pontos mais importantes — e muitas vezes pouco compreendido — é a forma como o BNDES opera nessas linhas de crédito. O BNDES não repassa recursos ao exterior. Os financiamentos são liberados em reais, na forma de crédito para empresas brasileiras de engenharia, à medida que realizam os serviços. A responsabilidade de pagamento, com juros e em moeda estrangeira, recai sobre o país contratante — neste caso, a Venezuela.
Na prática, isso significa que construtoras brasileiras, como Odebrecht e Andrade Gutierrez, receberam os recursos por obras executadas em território venezuelano. O governo local, por sua vez, deveria reembolsar o Brasil posteriormente.
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As obras financiadas
O dinheiro liberado pelo BNDES permitiu que empresas brasileiras assumissem projetos de grande porte na Venezuela. Entre eles, destacam-se:
- Metrô de Caracas (linhas 3 e 4) e Metrô de Los Teques: juntos, esses projetos receberam aproximadamente R$ 3,9 bilhões. As obras ampliariam a malha urbana de transporte na capital venezuelana.
- Segunda ponte sobre o Rio Orinoco: projeto estratégico de integração viária, com custo total de R$ 6,5 bilhões, dos quais cerca de R$ 1,6 bilhão foram financiados pelo BNDES.
- Usina siderúrgica e estaleiro: instalações industriais de grande porte também receberam apoio, totalizando bilhões em contratos executados por construtoras brasileiras.
Essas obras foram entregues ou parcialmente executadas, mas os compromissos financeiros assumidos pela Venezuela simplesmente não foram honrados.
A dívida bilionária
De acordo com dados oficiais do BNDES, até março de 2024 havia aproximadamente R$ 4,1 bilhões em atraso e outros R$ 2,3 bilhões a vencer. Somados, os valores chegam aos R$ 8 bilhões contratados, todos inadimplidos. Em termos práticos, significa que o governo venezuelano não pagou nenhum centavo do que recebeu como financiamento.
A inadimplência já ultrapassa sete anos e se transformou em um dos maiores calotes internacionais da história do banco.
O papel do FGE e do SCE
Para evitar que empresas brasileiras arcassem com o prejuízo, os contratos foram segurados pelo Seguro de Crédito à Exportação (SCE), custeado pelo Fundo Garantidor de Exportações (FGE). Dessa forma, quando a Venezuela deixou de pagar, o SCE indenizou as companhias nacionais.
Segundo o BNDES, mesmo após cobrir o calote, o FGE continua superavitário, com saldo positivo superior a R$ 4,5 bilhões. Isso mostra que o mecanismo foi suficiente para proteger as empresas e preservar a imagem do banco, embora a dívida com o Brasil siga em aberto.
Impacto político e críticas
O episódio reacendeu discussões sobre o papel do BNDES em financiar obras fora do país. Críticos argumentam que recursos desse porte poderiam ter sido aplicados em saneamento, habitação e educação no Brasil, áreas que ainda sofrem com carências históricas. Já defensores da política lembram que a estratégia tinha como objetivo fortalecer a presença internacional das construtoras nacionais e abrir novos mercados, garantindo emprego e renda para o Brasil.
Mesmo assim, os dados oficiais não deixam espaço para dúvidas: a Venezuela não pagou nenhum valor dos financiamentos recebidos. E enquanto não houver negociação ou renegociação efetiva, o país seguirá listado como devedor inadimplente.
O calote que não se apaga
Mais de R$ 8 bilhões em financiamentos foram usados para erguer metrôs, pontes e fábricas em território venezuelano com o selo de empresas brasileiras. No entanto, todo esse esforço foi transformado em um gigantesco passivo financeiro. O BNDES cumpriu sua parte ao apoiar as companhias nacionais e assegurar que recebessem pelos serviços. Mas a conta ficou com o Brasil, que até hoje aguarda um pagamento que nunca chegou.
O caso se consolidou como um exemplo de risco político e econômico das operações internacionais de crédito. Para o banco, virou símbolo de como a diplomacia pode abrir portas, mas também deixar cicatrizes profundas quando não há garantias efetivas de retorno.
Este artigo foi elaborado com base em informações oficiais disponibilizadas pelo BNDES em seu portal de transparência. Para acessar os dados completos, consulte: BNDES – Exportação de bens e serviços.
Uma vergonha! O Brasil deveria imputar esse ônus para quem autorizou essas obras com dinheiro nosso, doe a quem doer.
Os golpes do PT escoando nosso dinheiro pelo ralo, financiando os companheiros deles de esquerda pelo mundo a fora.
Com as sanções dos EUA à Venezuela, estrangulada economicamente a décadas seria de se estranhar que tivessem conseguido honrar o empréstimo! A inadimplência daquele país não é por livre escolha, mas única opção!
🤣🤣 que piada, a Venezuela não paga por que tem um ditador caloteiro no governo
Ah, não. Chega de ideologia barata. Fomos saqueados, inclusive a Sra, Dona Flávia, a quemcoube, juntamente com tantos outros cidadãos honestos, pagarmos as contas pelos impostos que de forma ordeira, legal e pacífica, pagamos. Imputar ao bloqueio a única razão não é justo nem honesto. Daí a César o que é de César. Quem emprestou e quem garantiu é que deve se responsabilizar pelo negocio, que se sabia de extrondoso e propalado risco. Isso para se ater apenas à Venezuela. Tem muito mais sob o tapete.