1. Início
  2. / Economia
  3. / Obras financiadas pelo BNDES em Cuba incluem rodovias, portos e já somam quase de R$ 2 bilhões de prejuízo aos cofres públicos brasileiros
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

Obras financiadas pelo BNDES em Cuba incluem rodovias, portos e já somam quase de R$ 2 bilhões de prejuízo aos cofres públicos brasileiros

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 15/08/2025 às 13:03
BNDES financiou R$ 3,3 bilhões em obras em Cuba. Parte do valor segue sem pagamento, gerando inadimplência e atenção de órgãos de controle.
BNDES financiou R$ 3,3 bilhões em obras em Cuba. Parte do valor segue sem pagamento, gerando inadimplência e atenção de órgãos de controle.
  • Reação
  • Reação
  • Reação
  • Reação
  • Reação
6 pessoas reagiram a isso.
Reagir ao artigo

Financiamentos do BNDES para obras em Cuba somam bilhões e envolvem porto estratégico e rodovias, mas parte do valor segue sem pagamento, gerando inadimplência e atenção de órgãos de controle.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiou cerca de R$ 3,3 bilhões em obras de infraestrutura em Cuba, incluindo um porto e trechos de rodovias.

Parte desses valores continua sem quitação, com inadimplência acumulada de aproximadamente US$ 297 milhões até março de 2024, conforme checagem feita nesta sexta-feira (15) pela equipe do CPG no site do BNDS.

Os contratos foram estruturados no âmbito do programa de exportação de bens e serviços de engenharia do Brasil para o exterior, ativo desde 1998.

Ao contrário da percepção corrente de que o dinheiro “saiu do país”, os desembolsos ocorreram exclusivamente em reais, no Brasil, e foram pagos às empresas brasileiras que executaram as exportações de bens e serviços.

O devedor é o país importador — no caso, Cuba —, responsável por reembolsar o financiamento com juros, em dólar ou euro, conforme previsto contratualmente.

O crédito cobre somente itens de origem brasileira usados nas obras, não incluindo compra de bens no exterior nem pagamento de mão de obra local.

BNDES financiou R$ 3,3 bilhões em obras em Cuba. Parte do valor segue sem pagamento, gerando inadimplência e atenção de órgãos de controle. (Foto: Reprodução/static.jornalpelicano)
BNDES financiou R$ 3,3 bilhões em obras em Cuba. Parte do valor segue sem pagamento, gerando inadimplência e atenção de órgãos de controle. (Foto: Reprodução/static.jornalpelicano)

Como as operações foram definidas

A seleção das operações de exportação, a escolha dos países e as principais condições contratuais — como valor, prazo, equalização de juros, seguros e mitigadores de risco soberano — foram estabelecidas pela administração direta do Governo Federal.

Com essas diretrizes, cada pedido chegava ao BNDES para enquadramento e análise técnica antes da liberação do crédito.

No conjunto do programa, foram realizadas 148 operações, com prazo médio de 11 anos e 2 meses para amortização.

Participação de Cuba no total desembolsado

Entre 1998 e 2017, o programa de exportação de serviços de engenharia desembolsou cerca de US$ 10,5 bilhões para projetos em 15 países.

Desse montante, 89% se concentraram em seis destinos: Angola (US$ 3,2 bilhões), Argentina (US$ 2 bilhões), Venezuela (US$ 1,5 bilhão), República Dominicana (US$ 1,2 bilhão), Equador (US$ 0,7 bilhão) e Cuba (US$ 0,65 bilhão).

A maior parte dos desembolsos ocorreu entre 2007 e 2015, período que respondeu por 88% do total.

Até setembro de 2022, somados principal e juros, retornaram aos cofres públicos US$ 12,8 bilhões, relativos a contratos com diferentes países.

Ainda assim, persistem atrasos relevantes, sobretudo em três mercados, entre eles Cuba.

BNDES financiou R$ 3,3 bilhões em obras em Cuba. Parte do valor segue sem pagamento, gerando inadimplência e atenção de órgãos de controle. (Foto: Reprodução/blogdothame.blog)

Pagamentos em aberto e risco soberano

Cuba figura no grupo de países com inadimplência perante o programa.

Os valores vencidos e não pagos alcançaram US$ 297 milhões até março de 2024.

No agregado das nações com atraso — Venezuela, Moçambique e Cuba —, o montante inadimplente somou US$ 1,2 bilhão, com outros US$ 431 milhões ainda por vencer.

Esses números ilustram a exposição do programa ao risco soberano, mitigado por garantias e instrumentos definidos nos contratos.

O que foi financiado em Cuba

Os recursos apoiaram empreendimentos de infraestrutura logística na ilha, com foco em um porto e rodovias.

O objetivo declarado desse tipo de financiamento é promover a exportação de bens e serviços de engenharia produzidos no Brasil, criando demanda para a cadeia doméstica.

Nas operações, o BNDES libera pagamentos conforme a comprovação das exportações, etapa a etapa da obra.

Em caso de atraso de pagamento por parte do importador soberano, aplicam-se as cláusulas de proteção previstas contratualmente.

Concentração em grandes empreiteiras

As exportações de serviços de engenharia apoiadas pelo programa tiveram forte concentração em grandes construtoras brasileiras.

Cinco empresas responderam por 98% do volume financiado: Odebrecht (76%), Andrade Gutierrez (14%), Queiroz Galvão (4%), Camargo Corrêa (2%) e OAS (2%).

Os pedidos de apoio eram apresentados ao BNDES após a celebração dos contratos comerciais entre as empresas e os contratantes estrangeiros e depois da aprovação do governo.

À época, não havia vedação legal específica à contratação dessas companhias no âmbito do programa.

Regras de compliance e retenção de recursos

Com o surgimento de controvérsias envolvendo exportadoras de engenharia, o BNDES acordou com o Ministério Público Federal, em 2016, a exigência de Termo de Compliance com regras de governança mais rígidas como condição para novos desembolsos.

A partir dessa medida, o banco reteve cerca de US$ 11 bilhões que ainda seriam liberados em 47 operações ativas, enquanto as empresas se adequavam às exigências e as autoridades analisavam os contratos.

As operações envolvendo Cuba seguiram o mesmo padrão de revisão aplicado ao conjunto do programa.

YouTube Video
BNDES financiou R$ 3,3 bilhões em obras em Cuba. Parte do valor segue sem pagamento, gerando inadimplência e atenção de órgãos de controle.

Transparência contratual e acesso a informações

A política de transparência passou por mudanças importantes.

Em 2012, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior classificou os contratos de financiamento à exportação de bens e serviços de engenharia para Cuba e Angola como “secretos”, por conterem informações consideradas estratégicas.

A classificação foi revogada em 2015, e os extratos dos contratos — com valor, taxa de juros, prazo e garantias — passaram a ser divulgados.

Atualmente, segundo o banco, os instrumentos contratuais estão disponíveis na íntegra para consulta pública.

Situação atual e próximos passos

No momento, as operações de exportação de serviços de engenharia permanecem sob análise de órgãos de controle e de instâncias legislativas, entre eles TCU, CGU e CPIs no Congresso.

O BNDES indica a intenção de retomar a política de apoio a exportações de serviços, mas com regras atualizadas, reforçando compliance e avaliação de risco soberano.

Enquanto isso, os pagamentos em aberto de Cuba seguem como ponto de atenção para a gestão de crédito, com a expectativa de que os fluxos contratuais sejam regularizados conforme as condições pactuadas.

Com os valores ainda vencidos e as revisões regulatórias em curso, você concorda que o Brasil continue financiando obras em outros países como Cuba ou acredita que o risco de calote é alto demais para justificar esse investimento?

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x