Empresários de diversos setores relatam dificuldades para contratar mão de obra no Ceará, associando o fenômeno ao impacto dos programas de transferência de renda do governo federal. Dados e relatos mostram como a situação afeta grandes obras e diferentes segmentos econômicos.
A falta de trabalhadores nas obras da Ferrovia Transnordestina e em outros setores estratégicos da economia cearense tem despertado atenção e preocupação entre empresários da indústria, construção civil, agropecuária e comércio.
Em meio à crescente dificuldade para preencher vagas, representantes do setor produtivo apontam o programa Bolsa Família como um dos fatores que contribuem para a redução da oferta de mão de obra, especialmente em regiões onde antes havia grande disponibilidade de operários.
A informação foi publicada originalmente pelo colunista Egídio Serpa no site Diário do Nordeste.
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Impacto do Bolsa Família e benefícios sociais
De acordo com apuração do Diário do Nordeste, o Bolsa Família atualmente atende cerca de 20,49 milhões de famílias em todo o Brasil, conforme informações atualizadas pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República em junho de 2025.
Para ingressar no programa, é necessário que a renda mensal por pessoa da família não ultrapasse R$ 218.
O valor médio repassado pelo governo aos beneficiários chega a R$ 666 mensais, representando um investimento anual de aproximadamente R$ 13,64 bilhões.
Lançado em 2003, durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o programa tem como principal objetivo combater a pobreza e promover inclusão social, exigindo como contrapartida a frequência escolar de crianças e adolescentes, acompanhamento pré-natal de gestantes e a regularização das carteiras de vacinação.
Além do Bolsa Família, a política social do governo federal contempla benefícios complementares como o Auxílio Gás, que atendeu 5,3 milhões de famílias em junho de 2025, com um adicional de R$ 108 para a compra do botijão de gás de 13 quilos.
O investimento anual nessa iniciativa chega a R$ 579 milhões.
Já o programa Primeira Infância, também citado pelo Diário do Nordeste, beneficiou 8,7 milhões de crianças de zero a seis anos, oferecendo um adicional de R$ 150 por criança e movimentando R$ 1,23 bilhão por ano.
Empresários relatam dificuldades na contratação
Segundo empresários entrevistados pelo Diário do Nordeste, a presença massiva desses programas sociais tem gerado discussões sobre seus impactos na dinâmica do mercado de trabalho local.
José Carlos Pontes, presidente financeiro do Grupo Marquise, relatou que empresas têm enfrentado dificuldade inédita para contratação formal de trabalhadores em canteiros de obras e fábricas.
Conforme suas declarações, trabalhadores apresentam resistência em aceitar empregos com carteira assinada, optando pela informalidade.
O industrial Osterno Júnior, do setor moveleiro de Marco, no Norte do Ceará, destacou que a falta de mão de obra já obriga empresas a buscar trabalhadores em cidades vizinhas e a negociar parcerias com prefeituras para viabilizar o transporte de colaboradores.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, ele afirmou que, na região do Baixo Acaraú, a escassez ameaça inclusive a produção de acerola orgânica, que é um importante produto de exportação.
Diversos setores afetados pela falta de mão de obra
A gravidade do cenário não se limita ao setor industrial.
Outras áreas, como construção civil, logística, serviços e agropecuária, também relatam dificuldades de contratação.
O empresário Otacílio Valente, CEO da Construtora Colmeia, reafirmou em coluna recente a extensão do problema, que afeta cadeias produtivas diversas e lança dúvidas sobre a sustentabilidade das operações em médio e longo prazos no estado.
Debates sobre a “porta de saída” dos programas sociais
Especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste explicam que o Bolsa Família e programas como o Auxílio Gás e o Primeira Infância cumprem papel fundamental no combate à pobreza e no apoio a famílias em situação de vulnerabilidade, mas ressaltam a importância da chamada “porta de saída” dos programas.
Esta consiste em ações efetivas de qualificação profissional, intermediação de empregos e estímulo ao empreendedorismo, previstas em lei, mas que ainda não foram implementadas de forma estruturada no Brasil.
O jornal também apontou que o crescimento do número de beneficiários pressiona as contas públicas.
Dados do Instituto Nacional do Seguro Social mostram que, desde 2014, há mais pessoas recebendo aposentadorias e pensões do que contribuindo para o sistema previdenciário.
A ampliação dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, apesar dos avanços sociais, exige ajustes para evitar que se torne um desincentivo à formalização do emprego, segundo empresários e especialistas do setor produtivo.