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O verdadeiro custo dos Atacarejos no Brasil: quem paga a conta da economia?

Publicado em 15/07/2025 às 10:17
O verdadeiro custo dos Atacarejos no Brasil
O verdadeiro custo dos Atacarejos no Brasil
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Por trás dos preços baixos e galpões gigantes, existe um impacto profundo na economia local, nos pequenos comércios e na infraestrutura das cidades que revela o verdadeiro custo dos atacarejos no Brasil.

Nos últimos anos, o atacarejo se consolidou como o formato de varejo que mais cresce no país, transformando a paisagem urbana com seus galpões imensos e a promessa de economia no carrinho de compras. Para milhões de brasileiros que buscam fazer o dinheiro render mais, essas lojas se tornaram a principal opção. No entanto, é preciso analisar o verdadeiro custo dos atacarejos no Brasil, um cálculo que vai muito além da etiqueta de preço.

Enquanto celebramos a geração de empregos e a aparente economia, um efeito colateral silencioso se desenrola: pequenos mercados fecham as portas, supermercados tradicionais entram em crise e municípios arcam com custos de infraestrutura para acomodar esses gigantes. Muitas vezes, essa expansão é impulsionada por generosos incentivos fiscais, criando uma competição desigual que levanta uma questão fundamental: quem realmente ganha com esse modelo?

Como o atacarejo conquistou o Brasil

O verdadeiro custo dos Atacarejos no Brasil: quem paga a conta da economia?
Como o atacarejo conquistou o Brasil?

O modelo de atacarejo, um híbrido que vende tanto para o consumidor final quanto para pequenos comerciantes, não é novo, mas sua explosão é um fenômeno recente. Impulsionado pela crise econômica de 2014, que reduziu o poder de compra da população, o formato ganhou tração ao oferecer uma estrutura enxuta e preços agressivos. Sem luxo, sem ar-condicionado (inicialmente) e com produtos empilhados em paletes, a lógica era simples: máxima eficiência para garantir o menor preço.

Nos últimos cinco anos, mais de 1.000 novas lojas foram abertas, e hoje, segundo dados da consultoria NielsenIQ, mais de 43 milhões de lares brasileiros já frequentam o atacarejo. Grandes redes como Assaí e Grupo Mateus reportam faturamentos bilionários e crescimentos exponenciais. O modelo evoluiu, incorporando padaria, açougue e climatização, criando um “hiperatacarejo” que agora atrai não apenas as classes C, D e E, mas também os consumidores de maior renda. Dados da NielsenIQ mostram que 75% dos consumidores de renda alta frequentam o formato, buscando otimizar o orçamento doméstico.

A competição desigual: incentivos fiscais e o “canibalismo” de mercado

Um dos pilares que explica a expansão acelerada e revela o verdadeiro custo dos atacarejos no Brasil é a vantagem tributária. Em diversos estados, como Minas Gerais e Espírito Santo, essas redes se beneficiam de regimes especiais de ICMS, com alíquotas que podem chegar a apenas 1% em operações específicas. Supermercados de bairro e redes tradicionais, que não têm acesso aos mesmos benefícios, enfrentam uma concorrência desleal.

Esse desequilíbrio gera um “canibalismo de mercado”. O número de lojas aumenta, mas a base de consumidores permanece a mesma, resultando em uma guerra de preços que esmaga as margens de lucro dos menores.

A rede de supermercados Dia, por exemplo, vendeu suas operações no Brasil em meio a uma crise atribuída, em parte, à forte concorrência com o atacarejo.

A rede Hirota, em São Paulo, fechou unidades Express e um supermercado tradicional, com seu diretor afirmando em entrevista que “a competição está de fato terrível. Os atacarejos estão invadindo os bairros”.

Dados da empresa Varejo 360 mostraram que a receita de supermercados paulistas caiu em termos reais em 2023, mesmo com um cenário de melhora na inflação e no emprego, evidenciando a pressão do modelo de atacarejo.

A conta que a cidade paga

O verdadeiro custo dos Atacarejos no Brasil: quem paga a conta da economia?

A chegada de um atacarejo é frequentemente celebrada como sinônimo de progresso, mas raramente se discute o custo para a infraestrutura pública. Essas lojas exigem vias largas para o tráfego de caminhões, acessos logísticos adaptados e reforço na iluminação e segurança, despesas que recaem sobre o município. Como se instalam em áreas mais periféricas, muitas vezes forçam o poder público a investir recursos para criar uma estrutura que atende, primariamente, a um empreendimento privado.

Bernard Appy, atual secretário extraordinário da Reforma Tributária, já alertava sobre como benefícios fiscais distorcem a logística nacional, fazendo com que empresas instalem centros de distribuição onde o custo econômico é maior, apenas para aproveitar um incentivo. Isso gera tráfego e desgaste de vias públicas, um custo socializado para beneficiar um negócio privado.

Além disso, existe o risco futuro da saturação. Nos Estados Unidos, o fenômeno dos “elefantes brancos” — imensas estruturas comerciais abandonadas — já é uma realidade urbana. Embora o Brasil ainda viva o auge do atacarejo, a pergunta que fica é: o que acontecerá com esses galpões gigantes quando o modelo se esgotar ou for superado?

A economia no caixa tem um preço

É inegável que os atacarejos trouxeram benefícios, oferecendo uma alternativa de compra mais acessível para milhões de famílias e servindo como ponto de abastecimento para pequenos comerciantes. Contudo, o verdadeiro custo dos atacarejos no Brasil é complexo e multifacetado. Ele se manifesta na dificuldade dos pequenos negócios, na pressão sobre as contas públicas e em um modelo de desenvolvimento urbano que prioriza grandes estruturas em detrimento do comércio local.

A livre concorrência é saudável, mas ela precisa ser justa. Quando o jogo é desigual, com vantagens fiscais que beneficiam apenas os maiores, o resultado não é o desenvolvimento sustentável, mas a concentração de mercado. A economia que o consumidor sente no caixa é, em parte, subsidiada por custos invisíveis que são pagos por toda a sociedade.

E você, como percebe o impacto dos atacarejos na sua cidade? Acredita que a economia para o consumidor compensa os custos para a comunidade e para os pequenos comerciantes? Deixe sua opinião nos comentários!

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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