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O trem do fim do mundo, o posto de comando nuclear móvel da Rússia, um comboio ferroviário disfarçado que carrega mísseis atômicos e que Putin ameaçou reativar

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 21/06/2025 às 15:48
O "trem do fim do mundo": o comboio ferroviário nuclear que a Rússia ameaçou reativar
O “trem do fim do mundo”: o comboio ferroviário nuclear que a Rússia ameaçou reativar
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Projetado para ser um “trem fantasma” carregado de mísseis atômicos, o comboio ferroviário é a versão moderna de uma arma da Guerra Fria que poderia ser reativada a qualquer momento

Nos vastos trilhos que cortam a Rússia, um fantasma da Guerra Fria recusa-se a morrer. É o “trem do fim do mundo”, um comboio ferroviário de aparência comum, mas que esconde em seus vagões mísseis balísticos intercontinentais prontos para um ataque nuclear. Conhecido como BZhRK “Barguzin”, o projeto é a mais recente encarnação de uma arma móvel e quase indetectável, projetada para sobreviver a um primeiro ataque e garantir uma retaliação devastadora.

O desenvolvimento do novo trem começou em 2012, mas foi oficialmente suspenso em 2017, principalmente por razões financeiras. No entanto, o conceito de um comboio ferroviário nuclear nunca foi totalmente abandonado. Em um cenário de tensões crescentes, a ameaça de reativar essa arma, que combina furtividade e poder de fogo, continua sendo uma carta potente na doutrina de dissuasão da Rússia.

O legado soviético, o primeiro trem nuclear e suas falhas

Para entender o novo projeto, é preciso voltar à Guerra Fria. O primeiro comboio ferroviário nuclear, com o míssil RT-23 “Molodets”, foi a resposta soviética à crescente precisão dos mísseis americanos, que ameaçavam destruir seus silos fixos. A ideia era criar um alvo móvel, que pudesse se esconder na imensa malha ferroviária do país.

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O sistema entrou em operação em 1987, mas tinha uma falha fatal: ele não era verdadeiramente secreto. O míssil “Molodets” era tão pesado (mais de 100 toneladas) que o trem precisava de três locomotivas para se mover e de trilhos reforçados para suportar seu peso. Esses fatores eram uma “assinatura” óbvia, que permitia à inteligência ocidental rastreá-lo. O sistema foi desativado em 2005, mas a lição foi aprendida.

O projeto Barguzin, o plano para comboio ferroviário do século XXI

O trem do fim do mundo, o posto de comando nuclear móvel da Rússia, um comboio ferroviário disfarçado que carrega mísseis atômicos e que Putin ameaçou reativar

Por volta de 2012, a Rússia decidiu ressuscitar o conceito, mas de forma muito mais inteligente. O projeto “Barguzin”, desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia Térmica de Moscou, foi projetado para ser um verdadeiro “trem fantasma”.

A chave para a mágica do ‘trem fantasma’ foi a troca do míssil. O novo RS-24 ‘Yars’ era tão mais leve que seu antecessor soviético que o vagão de lançamento, antes uma estrutura monstruosa que denunciava o trem, agora podia ser perfeitamente disfarçado como um vagão refrigerado comum. Com isso, o novo comboio ferroviário nuclear precisaria de apenas uma locomotiva e poderia trafegar em qualquer trilho, tornando-se virtualmente indistinguível dos milhares de trens de carga que cruzam a Rússia diariamente.

Um regimento sobre trilhos, como o comboio nuclear funcionaria

A doutrina operacional do Barguzin era impressionante. Um único trem, ou “regimento”, seria capaz de carregar seis mísseis ICBM do tipo Yars. Cada míssil, por sua vez, pode levar de 3 a 6 ogivas nucleares. Isso significa que um único trem, escondido à vista de todos, teria o poder de fogo para devastar múltiplas cidades ou alvos militares.

A ideia era ter uma “divisão” completa, composta por cinco desses trens, totalizando 30 mísseis. Escondidos na vastidão da rede ferroviária russa, que se estende por onze fusos horários, esses trens seriam um “pesadelo” para os sistemas de vigilância, garantindo a capacidade de retaliação nuclear da Rússia mesmo sob o mais intenso ataque.

O cancelamento em 2017, por que o “trem do fim do mundo” foi colocado no gelo?

Apesar do avanço do projeto, com testes de lançamento bem-sucedidos em 2016, a notícia de sua suspensão veio em 2 de dezembro de 2017. A razão oficial, divulgada pela mídia estatal russa, foi o custo proibitivo. Em um momento de otimização de gastos, o Kremlin decidiu que o projeto era “caro demais”.

Mas o cancelamento não foi apenas por falta de dinheiro, e sim por um excesso de sucesso em outras áreas. Com os mísseis Yars já operando em caminhões e os novos submarinos da classe Borei patrulhando os oceanos, a liderança russa concluiu que já possuía uma capacidade de retaliação ‘suficientemente boa’. O caríssimo comboio ferroviário tornou-se uma apólice de seguro redundante.

O trem que não morreu, por que o ‘fantasma’ nuclear ainda assombra o Ocidente?

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A porta para o “trem do fim do mundo”, no entanto, nunca foi completamente fechada. As autoridades russas sempre se referiram ao projeto como “suspenso” ou “congelado”, não cancelado. Isso o mantém como uma ameaça latente, uma carta que pode ser colocada na mesa a qualquer momento.

Em 2025, com a economia russa focada na guerra da Ucrânia, a reativação do projeto é improvável. No entanto, o conceito do comboio ferroviário nuclear não foi descartado. Ele permanece como um trunfo congelado, um fantasma sobre rodas que a Rússia se recusa a exorcizar e que continua a assombrar os cálculos de defesa do Ocidente.

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Bruno Teles

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