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O setor agropecuário é responsável por 60% da energia renovável utilizada no Brasil, afirma FGV

Escrito por Paulo H. S. Nogueira
Publicado em 15/07/2025 às 14:46
Três trabalhadores com capacete fazem manutenção em painéis solares com turbinas eólicas ao fundo sob céu azul.
Profissionais realizam manutenção em painéis solares durante o dia, com turbinas eólicas compondo o cenário de energia limpa.
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Descubra como o agro é o principal responsável pela energia renovável utilizada no Brasil e sua importância estratégica para a matriz energética nacional.

A energia renovável utilizada no Brasil sempre teve um papel de destaque na matriz energética nacional. Desde muito cedo, o país aproveitou seus vastos recursos naturais e condições climáticas favoráveis. Assim, tornou-se uma referência global quando se fala em fontes limpas e sustentáveis.

Embora muitos pensem primeiro em hidrelétricas ou parques eólicos, o setor agropecuário também se destaca como um dos grandes protagonistas dessa trajetória.

Segundo um estudo recente da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgado pelo Observatório de Bioeconomia da instituição, o agronegócio brasileiro gera 60% da energia renovável consumida no país.

Portanto, esse dado surpreende e evidencia como o campo contribui de maneira decisiva para a transição energética brasileira — um processo essencial para reduzir emissões e combater as mudanças climáticas.

Uma história de protagonismo energético

Para entender a importância atual do agro, é fundamental voltar no tempo. O Brasil possui uma história estratégica no uso de energia renovável, principalmente desde o século XX, quando investiu na construção de grandes usinas hidrelétricas.

Dessa forma, o país consolidou uma matriz energética muito mais limpa que a média global.

Na década de 1970, diante da crise do petróleo, o governo criou o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Com isso, estimulou a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar.

Como resultado, o Brasil se posicionou como líder mundial no uso de biocombustíveis.

Ao longo das décadas seguintes, mesmo com o avanço de fontes fósseis como o petróleo e o gás natural, o país manteve um alto índice de renovabilidade.

Conforme dados do Balanço Energético Nacional (BEN), 49% da matriz energética brasileira provém de fontes limpas — o que é muito superior à média global, estimada em torno de 15%.

No entanto, segundo a FGV, sem a atuação do setor agropecuário, esse índice cairia para cerca de 20%.

Dessa forma, fica evidente que a produção rural não apenas movimenta a economia, mas também sustenta uma matriz energética mais verde e equilibrada.

As condições naturais e estruturais do agro

O agronegócio brasileiro reúne condições naturais e estruturais únicas que favorecem o uso de fontes limpas.

Por exemplo, o clima tropical impulsiona o cultivo de culturas com alto potencial energético, como a cana-de-açúcar.

Além disso, a baixa necessidade de irrigação em muitas regiões contribui para reduzir o consumo de eletricidade nas lavouras.

Ao mesmo tempo, a produtividade por hectare é alta, e os produtores adotam tecnologias ajustadas às características do solo, do relevo e do clima brasileiros.

Por isso, o campo alcança índices crescentes de eficiência energética.

De forma complementar, muitas propriedades aproveitam resíduos da produção agrícola para gerar energia.

Por meio de biodigestores, é possível transformar restos orgânicos em biogás, que abastece máquinas ou se converte em eletricidade.

Paralelamente, o etanol e o biodiesel, produzidos a partir da cana e da soja, substituem combustíveis fósseis no transporte e nas máquinas agrícolas.

Adicionalmente, a energia solar também ganha força no campo. Pequenas e médias fazendas vêm instalando painéis solares para reduzir custos com eletricidade e conquistar maior autonomia energética.

Dessa maneira, o acesso à energia renovável se amplia, enquanto o agro se torna cada vez mais sustentável.

A dependência do diesel e seus riscos

Apesar de todos esses avanços, o setor ainda enfrenta um desafio significativo: a alta dependência do diesel.

Em 2022, conforme a FGV apontou, 73% da energia usada diretamente nas atividades agropecuárias veio de combustíveis fósseis.

Entre eles, o diesel continua sendo o mais utilizado.

Consequentemente, essa dependência torna o setor vulnerável a fatores externos, como crises internacionais, variações no preço do petróleo e instabilidades logísticas.

Todos esses fatores afetam diretamente os custos de produção e reduzem a margem de lucro dos produtores rurais.

Diante desse cenário, o setor precisa ampliar seus investimentos em soluções alternativas, como tratores híbridos, veículos elétricos adaptados ao campo e o uso do óleo vegetal hidrotratado (HVO).

Em diversas regiões do Brasil, essas tecnologias já estão em fase de testes e apresentam bons resultados.

Além disso, iniciativas públicas e privadas que incentivam essa transição ganham cada vez mais espaço.

Parcerias entre universidades, governos e cooperativas também podem acelerar o uso de energias limpas nos maquinários agrícolas.

Indicadores de eficiência energética no campo

O estudo da FGV também analisou a eficiência energética do setor rural, utilizando o indicador GJ/USD1000.

Esse índice mede quanta energia se consome para gerar mil dólares em valor bruto da produção agropecuária.

Em 2022, o Brasil registrou uma intensidade energética de 1,9 GJ por mil dólares, número que se aproxima da média mundial de 1,7 GJ.

Por esse motivo, o país apresenta uma competitividade energética moderada, mas com boas perspectivas de avanço.

De modo geral, cadeias produtivas com maior valor agregado — como frutas, café, carnes e produtos industrializados — costumam gerar mais valor com menor consumo de energia.

Por outro lado, setores menos sofisticados enfrentam desafios maiores de eficiência.

Portanto, melhorar esse indicador exige gestão consciente dos recursos, capacitação técnica e acesso à tecnologia.

Programas de extensão rural, que ensinam boas práticas energéticas, já mostram impacto positivo e tendem a se expandir com apoio público e privado.

Fontes e credibilidade da pesquisa

Para garantir precisão nos resultados, a FGV baseou sua análise em fontes confiáveis.

O estudo utilizou dados do Balanço Energético Nacional (BEN), da FAO, do IBGE e da EPE.

Além disso, o relatório incorporou modelagens internacionais, como o GTAP-Power, uma versão estendida da base GTAP voltada à análise da eletricidade.

Essa abordagem metodológica permite comparações entre o Brasil e o cenário energético global com segurança.

Graças a essas fontes e métodos, o estudo oferece um panorama robusto e útil tanto para formuladores de políticas públicas quanto para investidores, produtores e pesquisadores.

O campo como protagonista da transição energética

A atuação do setor agropecuário na produção e no uso de energia renovável comprova que o Brasil segue no rumo certo.

No entanto, a transição energética exige continuidade, foco e articulação entre diferentes agentes.

Portanto, para garantir o progresso, o país precisa de políticas públicas consistentes, acesso a crédito verde, incentivos à inovação e apoio técnico.

Assim, será possível ampliar o uso de fontes limpas, sem comprometer a competitividade da produção agrícola.

Com uma das maiores biodiversidades do planeta e vasto potencial em biomassa, o Brasil ocupa posição estratégica no cenário global da sustentabilidade.

Nesse contexto, o agronegócio não apenas alimenta o mundo, mas também fornece a base energética limpa para que o país cresça com responsabilidade ambiental.

O futuro da energia renovável utilizada no Brasil não depende apenas de grandes obras ou megaprojetos.

Na verdade, ele nasce todos os dias nas plantações, nas cooperativas, nos biodigestores e nos painéis solares espalhados pelas zonas rurais do país.

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O potencial do agro brasileiro na produção de energias renováveis | Impulso News EP. 95 – Agro Bayer Brasil

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Paulo H. S. Nogueira

Sou Paulo Nogueira, formado em Eletrotécnica pelo Instituto Federal Fluminense (IFF), com experiência prática no setor offshore, atuando em plataformas de petróleo, FPSOs e embarcações de apoio. Hoje, dedico-me exclusivamente à divulgação de notícias, análises e tendências do setor energético brasileiro, levando informações confiáveis e atualizadas sobre petróleo, gás, energias renováveis e transição energética.

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