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O segredo do Flecha Azul: como a Cometa criou sua própria fábrica (CMA) para construir um ônibus antigo 700kg mais leve e dominar as estradas brasileiras com os motores Scania

Escrito por Carla Teles
Publicado em 21/10/2025 às 15:09
O segredo do Flecha Azul: como a Cometa criou sua própria fábrica (CMA) para construir um ônibus antigo 700kg mais leve e dominar as estradas brasileiras com os motores Scania
Por que a Cometa criou o Flecha Azul? Entenda como o ônibus antigo Cometa nasceu da falência da Ciferal e dominou as estradas com a lendária fábrica CMA. Imagem: Canal Veículos e HIstórias
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A trajetória da Viação Cometa se confunde com a evolução do transporte rodoviário no Brasil, mas sua história vai além das rotas: a empresa fabricou seus próprios veículos, criando ícones como o Flecha Azul.

A história do ônibus antigo Cometa é indissociável da fundação da CMA (Companhia Manufatureira Auxiliar). Esta fábrica, nascida de uma necessidade de mercado, produziu alguns dos ônibus mais emblemáticos das estradas brasileiras, como os famosos modelos “Dinossauro” e, posteriormente, a lendária série “Flecha Azul”.

Conforme detalhado pelo canal Veículos e Histórias, a decisão de construir os próprios ônibus foi o que diferenciou a Cometa. Seus veículos, com design inspirado na escola norte-americana e motorização predominantemente Scania, ganharam fama absoluta pela velocidade, durabilidade e conforto. A leveza, obtida pelo uso de duralumínio nas carrocerias, era o grande segredo técnico da companhia.

O início com Tito Macioli e João Havelange

Tudo começa em 1937, quando o aviador italiano Major Tito Macioli decide fixar residência no Brasil. Segundo o canal Veículos e Histórias, sua entrada no ramo dos transportes foi quase acidental. Seu cunhado, Arthur Brandi, tinha dificuldade em vender lotes no Jabaquara, em São Paulo, devido à distância do centro. Macioli decidiu criar uma linha de ônibus para o bairro (a Auto Viação Jabaquara) e obteve a concessão.

Imagem: Tito Macioli
Imagem: Tito Macioli

O negócio de transporte se mostrou muito mais lucrativo que os terrenos. Um dos primeiros sócios da Jabaquara foi ninguém menos que João Havelange, então atleta olímpico, que futuramente presidiria a CBF e a FIFA. A presença de Havelange foi crucial durante a Segunda Guerra Mundial, pois Macioli, sendo italiano, enfrentava desconfiança (a Itália pertencia aos países do Eixo).

Em 1947, o município criou a CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), que encampou a próspera empresa de Macioli. Insatisfeito com a indenização prometida e não paga integralmente, Tito Macioli decidiu deixar o transporte urbano e migrar para o rodoviário. Em 1948, ele comprou a Auto Viação São Paulo Santos e, inspirado no desenho que os veículos tinham na lateral, rebatizou-a de Viação Cometa.

A era dos importados e o “Dinossauro”

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A Cometa expandiu rapidamente, criando em 1951 a estratégica linha Rio-São Paulo, pela recém-inaugurada Rodovia Presidente Dutra. Em 1953, a empresa importou 30 ônibus GM PD-4104, que aqui ganharam o apelido de “Morubixaba”. O canal Veículos e Histórias aponta que eles eram revolucionários para a época, com motor Detroit Diesel traseiro, muito velozes e confortáveis.

O problema surgiu quando o governo brasileiro passou a restringir importações para fomentar a indústria nacional. Como a GM do Brasil não tinha interesse em fabricar ônibus rodoviários, a Cometa precisou de um plano. A solução veio na parceria com a fabricante carioca Ciferal, que produzia carrocerias em duralumínio, material que as deixava até 3 toneladas mais leves que as concorrentes.

Em 1961, sobre chassis Scania B75, nasceram os primeiros modelos dessa parceria, apelidados de “Papa-Amarelo”. A evolução dessa colaboração, já usando o chassi Scania BR-115, culminou no icônico modelo de 1973: o “Dinossauro”. A combinação de leveza do duralumínio e a potência do motor Scania deu aos ônibus da Cometa uma reputação imbatível de velocidade e resistência nas serras.

CMA: a Cometa fabrica o próprio ônibus antigo

A parceria de sucesso com a Ciferal foi interrompida de forma abrupta. Devido à recessão econômica dos anos 80, a Ciferal enfrentou graves problemas financeiros e teve sua falência decretada em 1982. Sem seu principal fornecedor e precisando renovar a frota, a Viação Cometa tomou a decisão mais importante de sua história: fabricar seus próprios ônibus.

Assim, foi criada a CMA (Companhia Manufatureira Auxiliar). A fábrica foi instalada em uma das garagens da viação em São Paulo e absorveu boa parte da mão de obra qualificada da falida Ciferal. O primeiro modelo lançado foi diretamente inspirado no Dinossauro, mas com aprimoramentos. Nascia ali o ônibus antigo Cometa mais famoso: o Flecha Azul.

O Flecha Azul usava o chassi Scania BR-116 e, graças a um novo projeto estrutural, era 700 kg mais leve que seu antecessor. O canal Veículos e Histórias destaca que a obsessão pela leveza era um pilar da empresa; a CMA passou a utilizar rodas de alumínio Alcoa, reduzindo o peso total, o que economizava combustível e poupava o conjunto mecânico.

A evolução do Flecha Azul e o fim da era Macioli

A linha Flecha Azul foi um sucesso absoluto e teve diversas gerações. Em 1987, passou a usar o chassi K112C com Intercooler. Em 1990, recebeu o K113, com 363 cavalos (o mesmo motor do lendário caminhão Scania 113). Em 1993, surgiu o Flecha Azul 3, com o design clássico de 12 janelas laterais de tamanhos idênticos, pensado para que nenhum passageiro tivesse a visão da paisagem obstruída pela coluna.

Imagem: Flecha Azul III
Imagem: Flecha Azul III

Em 1996, Tito Macioli faleceu, deixando o controle da empresa para seus filhos, Arthur e Felipe. No fim dos anos 90, quando o mercado começou a demandar ônibus de três eixos (trucados) para maior capacidade, a CMA respondeu com o modelo “Cometa”, apelidado de “Estrelão”. Ele usava o chassi Scania K124 IB de 420 cv e mantinha o duralumínio, mas agora com chapas lisas, abandonando os famosos frisos laterais.

A venda para o Grupo JCA e o fim da CMA

A era da família Macioli à frente da empresa terminou em 2002. Os irmãos decidiram vender a Viação Cometa para o Grupo JCA, do Rio de Janeiro, que já controlava empresas como a Auto Viação 1001 e a Catarinense.

O canal Veículos e Histórias ressalta um ponto crucial dessa negociação: o Grupo JCA comprou apenas a Viação Cometa (a operação de transporte), mas a CMA (a fábrica) não foi inclusa no negócio. A CMA ainda finalizou os ônibus que estavam em produção e passou a atuar apenas como fornecedora de peças de reposição. Em 2009, a Companhia Manufatureira Auxiliar encerrou definitivamente suas atividades.

Sob a nova gestão, a Viação Cometa aposentou os últimos Flecha Azuis em 2008 e passou a adquirir ônibus com carrocerias de mercado (como Marcopolo e Busscar) e chassis de outras marcas além da Scania.

A história do ônibus antigo Cometa é marcada pela visão de seu fundador e pela decisão ousada de fabricar o próprio veículo, controlando a qualidade e a performance. Muitos entusiastas lamentam o fim da CMA e a aposentadoria dos Flecha Azuis.

Você chegou a viajar em um desses clássicos da CMA? Acha que a Cometa perdeu sua identidade ao ser vendida e deixar de fabricar os próprios ônibus? Deixe sua opinião nos comentários, queremos saber sua experiência.

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Carla Teles

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