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O salário de R$ 1,6 milhão: funcionário recebe pagamento 286 vezes maior, pede demissão e foge, sendo processado pela empresa

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 17/10/2025 às 00:25
Funcionário de empresa no Chile recebe pagamento milionário por erro e levanta debate sobre governança e falhas de controle corporativo.
Funcionário de empresa no Chile recebe pagamento milionário por erro e levanta debate sobre governança e falhas de controle corporativo.
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Em um caso que expõe falhas graves de governança, um funcionário do Consórcio Industrial de Alimentos no Chile recebeu por engano 165,4 milhões de pesos, valor cerca de 330 vezes acima do salário, pediu demissão, desapareceu e passou a responder a processo criminal enquanto a empresa buscava responsabilização e recuperação

O caso do funcionário de um consórcio de alimentos chileno virou estudo de governança. Em maio de 2022, um assistente de despacho que ganhava cerca de 500 mil pesos chilenos por mês recebeu, por erro, 165.398.851 pesos em sua conta. O montante foi aproximadamente 330 vezes maior que o salário devido, um sinal inequívoco de que os controles da folha de pagamento falharam em múltiplas camadas

Num primeiro momento, o funcionário avisou a chefia e concordou em devolver o valor. Depois, ignorou contatos, contratou advogado, formalizou a demissão e desapareceu. A empresa reagiu com ação penal, e o episódio evoluiu para uma disputa sobre o enquadramento jurídico adequado e sobre como falhas processuais podem se transformar em perdas financeiras difíceis de reverter.

O que aconteceu e por que o caso importa

O evento central ocorreu em maio de 2022. O funcionário era assistente de despacho do Consórcio Industrial de Alimentos e recebia aproximadamente 500 mil CLP por mês. Por um erro operacional, a empresa transferiu 165.398.851 CLP, valor que destoava de qualquer padrão histórico de pagamentos internos.

A sequência de condutas é decisiva para entender o caso. O funcionário inicialmente notificou o gestor e sinalizou devolução, mas, em seguida, não retornou o dinheiro, evitou contatos, contratou advogado, pediu demissão e sumiu. Para a empresa, a virada de comportamento evidencia dolo formado a posteriori, e não fraude preexistente. O caso importa porque ilustra como um único erro de processo pode escalar para litígios penais e perdas relevantes.

No Chile, a discussão girou entre “furto por achado” e apropiación indebida. A empresa defendia que, tendo havido posse lícita inicial por pagamento de salário equivocadamente elevado, o enquadramento correto seria apropriação indébita, que exige obrigação de devolver, ato de apropriação e prejuízo ao titular.

Houve decisão inicial absolvendo por “furto por achado”, entendimento criticado por equiparar depósito eletrônico a um objeto perdido. Para o empregador, o funcionário recebeu um valor por título específico e, ao dispor do dinheiro após perceber o erro, teria agido com dolo. O debate explicitou dificuldades de transpor conceitos clássicos de crimes patrimoniais para a realidade de ativos digitais.

Chile versus Brasil: enquadramentos e consequências práticas

A comparação com o Brasil ajuda a contextualizar. No ordenamento brasileiro, existe tipo penal específico para a apropriação de coisa havida por erro previsto no art. 169 do Código Penal. O critério central é o momento do dolo: no art. 169, ele nasce depois da posse lícita; no estelionato, ele é anterior.

As consequências práticas divergem. Enquanto a apropiación indebida chilena admite penas mais severas para valores altos, no Brasil a resposta penal ao caso análogo costuma ser mais branda, frequentemente enquadrada como crime de menor potencial ofensivo. Para empresas que operam em ambos os países, isso altera a estratégia de resposta e a relação custo-benefício entre persecução penal e foco na recuperação cível.

Um pagamento 330 vezes maior do que o devido não sinaliza apenas falha humana, mas colapso sistêmico de controles. É provável que tenham faltado segregação de funções, hierarquias de aprovação para valores atípicos e regras de validação capazes de bloquear variações extremas na folha.

Para evitar repetição, organizações devem implementar um arcabouço robusto: políticas claras com segregação de funções, aprovação em múltiplas camadas, análises de variação automatizadas, reconciliações a cada ciclo e auditorias regulares. Manter dados do funcionário atualizados e capacitar continuamente as equipes de RH, finanças e jurídico reduz a probabilidade de anomalias passarem sem detecção.

Tempo processual e risco corporativo

Mesmo com tese jurídica consistente, a efetividade depende de tempo. Se a resposta interna demorar e os prazos processuais correrem, a empresa pode ver a pretensão caducar. O caso evidencia que “justiça tardia” também é risco de negócio e precisa constar do mapa corporativo de riscos com indicadores e SLA jurídico.

Uma governança madura prevê protocolo de resposta rápida para pagamentos errôneos: investigação imediata, bloqueio de valores quando possível, notificação formal ao funcionário e acionamento jurídico local. Testes de estresse periódicos entre jurídico, finanças e RH ajudam a fechar lacunas antes que um incidente real ocorra.

Eleve a folha de uma função operacional para função estratégica. Configure limites dinâmicos por perfil de funcionário, crie alertas para aumentos fora do padrão histórico e revise a reconciliação até o crédito bancário. Não confie na detecção pelo beneficiário do erro.

Padronize fluxos com dupla aprovação, trilhas de auditoria e revisões independentes. Em operações multinacionais, alinhe previamente o plano jurídico por jurisdição para definir quando priorizar medidas criminais, civis ou acordos de devolução, sempre com foco em preservar o caixa e reduzir exposição reputacional.

O episódio do funcionário que recebeu 165,4 milhões de pesos mostra como oportunismo humano e falhas processuais se combinam para gerar perdas e litígios. O enquadramento penal muda de país para país, mas a melhor defesa segue a mesma lógica: processos sólidos, tecnologia bem configurada e resposta rápida. Quando o controle falha, o tempo vira variável crítica para recuperar ativos e reduzir danos.

CTA para comentários: na sua visão, o que pesa mais neste caso: a responsabilidade do funcionário que decidiu reter o valor após perceber o erro ou a falha de governança que permitiu um pagamento 330 vezes maior passar sem bloqueio? Se você trabalha com folha, finanças ou jurídico, como sua empresa trataria um erro desse tamanho no primeiro dia? Conte nos comentários a política e o procedimento real que vocês aplicariam.

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Bruno Teles

Falo sobre tecnologia, inovação, petróleo e gás. Atualizo diariamente sobre oportunidades no mercado brasileiro. Com mais de 7.000 artigos publicados nos sites CPG, Naval Porto Estaleiro, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Sugestão de pauta? Manda no brunotelesredator@gmail.com

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