O Banco do Brasil enfrenta em 2025 um risco oculto apontado por especialistas: a carteira prorrogada do agronegócio saltou de R$ 10 bilhões para R$ 87 bilhões em apenas seis meses, mascarando inadimplência e corroendo resultados.
O chamado “risco escondido” no Banco do Brasil não se resume à queda no lucro. Segundo o gestor Christian Keleti, da AlphaKey, em debate no podcast Risco Brasil, a grande preocupação é a carteira prorrogada do agronegócio, formada por créditos que deixam de ser classificados como inadimplentes, mas são empurrados para frente com renegociação.
Esse volume saltou de R$ 10 bilhões para R$ 87 bilhões em meio ano. O problema é que esse movimento adia o reconhecimento das perdas e pressiona as provisões. Paralelamente, a projeção de lucro do banco caiu de R$ 36 bilhões para cerca de R$ 20 bilhões em 2025, um ajuste drástico em pouco tempo.
A percepção dos analistas
Para Keleti, essa piora não é um reflexo geral do setor, mas um fenômeno específico do Banco do Brasil.
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Ele cita declarações da presidente Tarciana Medeiros, que indicou que o terceiro trimestre pode ser tão ruim quanto — ou até pior que — o segundo.
Outro dado preocupante é o volume de atrasos entre 15 e 90 dias, que atingiu R$ 20,2 bilhões no segundo trimestre, funcionando como uma “esteira” de clientes já em dificuldade.
Para os analistas, esse conjunto de fatores mostra que parte da inadimplência está apenas sendo postergada.
Linha do tempo do problema
O risco ganhou corpo após dois gatilhos principais. Primeiro, o resultado operacional fraco divulgado em meados de 2025.
Em seguida, o aumento abrupto da carteira prorrogada.
Ao mesmo tempo, autoridades norte-americanas começaram a avaliar a situação sob a ótica da Lei Magnitsky, usada no passado para punir o BNP Paribas com multa de quase US$ 9 bilhões.
No Brasil, uma medida provisória liberou recursos do Tesouro para refinanciamento do agro, com prazos de até 10 anos, mas especialistas consideram a medida insuficiente para cobrir o buraco aberto.
Impactos nos resultados e nos dividendos
Com a pressão das provisões, o banco reduziu o payout para 30%, encolhendo a atratividade dos dividendos.
Segundo cálculos citados no debate, o dividend yield pode cair para 5,5%, bem abaixo do que atraiu milhares de investidores pessoa física nos últimos anos.
Na Bolsa, as ações do Banco do Brasil caíram de cerca de R$ 30 para R$ 20 em seis meses, revertendo rapidamente a valorização que havia demorado anos para ser consolidada.
Para Keleti, a base de investidores pode migrar para Itaú, Bradesco ou Santander, que oferecem dividendos mais estáveis no cenário atual.
Causas da deterioração
Entre os fatores que alimentam esse risco estão quebras de safra, especialmente no Rio Grande do Sul, e a queda nos preços de grãos, que reduziram a capacidade de pagamento dos produtores.
Muitos optaram por priorizar cooperativas e mecanismos de proteção da terra, em vez de honrar os financiamentos.
As PMEs (pequenas e médias empresas) sofrem com juros elevados, elevando a inadimplência em outra parte relevante da carteira do banco.
O resultado é uma pressão simultânea em dois segmentos estratégicos.
O risco de cauda e os pontos em aberto
O cenário ainda pode piorar com a eventual aplicação da Lei Magnitsky.
Embora improvável, uma sanção internacional teria potencial de gerar perdas adicionais e rebaixar a percepção de risco da instituição.
Há também lacunas relevantes: não se sabe quanto da carteira prorrogada será de fato perdida, qual a real exposição por rating de crédito e até que ponto os recursos do Tesouro conseguirão sustentar os refinanciamentos.
Essa incerteza mantém o alerta no radar dos investidores.
O caso do Banco do Brasil em 2025 mostra que a carteira prorrogada do agro pode ser um problema tão sério quanto a queda do lucro.
Com dividendos menores, risco regulatório e desafios setoriais, o banco vive um momento decisivo.
E você, acredita que o Banco do Brasil conseguirá reverter essa situação ou o risco escondido ainda não está totalmente precificado? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir a visão de quem acompanha o mercado financeiro na prática.