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Análise de dados de 2024 e 2025 mostra que, enquanto a Strada lidera no B2B, o Hyundai Creta domina a venda ao consumidor final (varejo)
Os rankings de carros mais vendidos no Brasil frequentemente apontam a Fiat Strada como líder absoluta. No entanto, uma análise detalhada dos números revela uma realidade de mercado dividida: a liderança da picape é impulsionada por vendas diretas (B2B). No varejo, o canal que reflete a compra do consumidor final (CPF), o campeão é outro: o Hyundai Creta.
Este fenômeno expõe dois mercados distintos no país. Um, focado em empresas e frotistas, e outro, o da pessoa física. Dados consolidados de 2024 e os números iniciais de 2025 confirmam que o Hyundai Creta se estabeleceu como o verdadeiro “favorito do povo”, dominando a preferência na concessionária. Esta matéria decodifica os números e os motivos dessa escolha.
A distorção dos números: varejo vs. vendas diretas
O mercado automotivo nacional é, na prática, dividido em dois universos que são frequentemente fundidos em um único indicador. O primeiro é o das vendas no varejo (B2C), que representa a compra realizada pelo consumidor comum (Pessoa Física, com CPF) diretamente na concessionária. O segundo é o das vendas diretas (B2B), que compreendem as vendas faturadas pela montadora para Pessoas Jurídicas (CNPJ), um canal vasto que inclui grandes locadoras, frotistas de empresas, produtores rurais e vendas para Pessoas com Deficiência (PcD).
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Essa divisão é crucial. Frequentemente, as vendas diretas correspondem à maior parte do mercado, o que significa que o ranking geral de “mais vendidos” é, em essência, um indicador de atividade comercial B2B, e não um reflexo direto do desejo do consumidor B2C. Os motivadores de decisão em cada canal são fundamentalmente diferentes: o varejo prioriza conforto, tecnologia e status; as vendas diretas priorizam robustez, custo operacional e capacidade de carga.
Caso Fiat Strada: a campeã do “Brasil S.A.”
A liderança da Fiat Strada no ranking geral é o exemplo clássico dessa dinâmica. Ela não é o carro que a família brasileira sonha em ter na garagem, mas sim a principal ferramenta de trabalho do país. Uma análise do perfil de vendas da Fiat Strada em 2023 quantifica sua dependência das vendas B2B, detalhando que cerca de 73% de todas as unidades vendidas da picape foram “vendas diretas”.
A proposta de valor da Strada é totalmente alinhada a esse público B2B, focando em atributos como “robustez”, “suspensão reforçada” e “baixo custo de manutenção”, características de um bem de capital. A prova definitiva de que ela não é a favorita do “povo” veio dos dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (FENABRAVE) referentes a janeiro de 2025. Neste ranking, que mede apenas a compra por pessoa física, a Fiat Strada ficou apenas na 5ª posição.
Hyundai Creta: o verdadeiro ‘favorito do povo’
Quando a pergunta se refere ao carro que “o brasileiro realmente quer comprar”, os dados do canal de Varejo apontam, de forma consistente, para o Hyundai Creta. Segundo uma análise dos dados de vendas do ano de 2024, o SUV foi o “sucesso de público”, liderando as vendas consolidadas para consumidores finais.
Essa análise de 2024 concluiu que o Hyundai Creta foi o líder de preferência do consumidor individual, fechando o ano com 56.081 unidades comercializadas para pessoas físicas. A liderança se manteve no ano seguinte. Os mesmos dados da FENABRAVE de janeiro de 2025 mostram o Hyundai Creta como o líder absoluto do varejo, ocupando a 1ª posição com 4.687 unidades emplacadas para o consumidor final, quase mil unidades a mais que a Strada no mesmo canal. O mix de vendas do Creta é o inverso do da Strada, com a maioria (cerca de 63%) das suas vendas ocorrendo no varejo.
A fórmula do sucesso: por que o Creta vence no varejo?
O sucesso do Hyundai Creta não é acidental, mas sim o resultado de uma proposta de valor que se alinha perfeitamente às necessidades do consumidor brasileiro. Primeiramente, ele se beneficia da “febre dos SUVs”, uma categoria que o consumidor valoriza pela posição de dirigir elevada, percepção de robustez para o asfalto urbano e maior espaço interno.
Mais do que a categoria, o produto entrega um pacote racional e equilibrado. O modelo é consistentemente elogiado por seu espaço interno e porta-malas de 422 litros. Além disso, oferece um pacote tecnológico percebido como atual, incluindo painel digital, carregador por indução e, crucialmente, um pacote de segurança ativa (ADAS) com frenagem autônoma de emergência e assistente de permanência em faixa, itens muito valorizados pela família.
O pilar mais importante da proposta de valor do Hyundai Creta é, no entanto, a mitigação de risco financeiro. Para a classe média brasileira, a aquisição de um veículo é o segundo maior investimento financeiro. O Creta neutraliza o medo da manutenção e da desvalorização com dois trunfos estratégicos: a garantia de 5 anos, um diferencial psicológico e financeiro imenso no mercado, e a alta liquidez, resultado de sua “boa fama no mercado de usados”.
O que o consumidor ignora (e o que isso revela)
Uma análise equilibrada mostra que o Hyundai Creta não é um produto perfeito. Ele possui fraquezas notórias que, curiosamente, são relevadas pela maioria dos seus compradores. O motor 1.0 turbo é frequentemente criticado por ser “beberrão”, com médias de consumo mais elevadas que concorrentes diretos. Além disso, o veículo é posicionado em uma faixa de preço elevada e, mesmo assim, seu interior é criticado pelo uso “quase todo em plástico duro”.
O fato de o Hyundai Creta ser líder de vendas no varejo, apesar de ser caro, beberrão e ter acabamento simples, revela a hierarquia de valor do consumidor brasileiro. Fica claro que, no momento da decisão, o comprador prioriza conscientemente a segurança percebida (ADAS), a tecnologia embarcada (tela) e, acima de tudo, a segurança financeira (garantia de 5 anos + liquidez) em detrimento dos custos operacionais (consumo) e da qualidade de acabamento.
A aparente contradição entre a liderança de vendas da Fiat Strada e a percepção de que o Hyundai Creta é o “favorito do povo” é resolvida ao se compreender que os dois veículos não são concorrentes. Eles são os líderes de dois Brasis distintos: a Strada é a campeã inconteste do “Brasil S.A.” (CNPJ), enquanto o Creta é o campeão do “Brasil CPF”.
O Hyundai Creta vence no varejo porque sua proposta de valor alinha-se perfeitamente com a hierarquia de necessidades da família de classe média brasileira, que busca um veículo seguro, espaçoso, tecnológico e, acima de tudo, que represente uma compra segura e financeiramente tranquila.
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