O Akademik Lomonosov é o primeiro reator nuclear móvel do mundo, com 5 mil toneladas e 144 metros de comprimento. Saiba como essa usina flutuante fornece energia no Ártico e o porquê de ser tão polêmica.
O Akademik Lomonosov é o primeiro reator nuclear móvel do mundo em operação. Projetado pela Rússia, essa usina nuclear flutuante funciona como uma solução estratégica para fornecer energia elétrica e térmica a regiões remotas do Ártico, portos isolados e bases militares. Além de inovador, o projeto também é envolto em polêmicas e desafios ambientais. Com 5 mil toneladas no casco principal e dimensões que impressionam — 144 metros de comprimento (equivalente a três quadras de basquete enfileiradas), 30 metros de largura e altura de um prédio de 10 andares — o Akademik Lomonosov se tornou um marco na história da engenharia naval e nuclear.
O que há dentro do reator nuclear móvel de 5 mil toneladas
No coração do Akademik Lomonosov, estão dois reatores KLT-40S, versões adaptadas dos usados em quebra-gelos nucleares russos. Cada unidade é capaz de gerar energia elétrica e térmica simultaneamente, suprindo tanto residências quanto indústrias em áreas onde nenhuma outra fonte de energia seria viável.
Dados técnicos principais:
- Capacidade elétrica: 70 MW (megawatts)
- Capacidade térmica: 50 Gcal/h, utilizada para aquecimento urbano
- Tripulação operacional: cerca de 70 profissionais
- Vida útil projetada: 40 anos, com possibilidade de extensão para 50 anos
- Custo estimado: entre US$ 300 milhões e US$ 500 milhões, dependendo do estágio da construção e modernizações
O reator foi concebido para suportar condições extremas, incluindo mares congelados, temperaturas negativas e até possíveis tsunamis e terremotos, devido à sua estrutura naval reforçada.
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Por que um reator nuclear móvel? O papel estratégico no Ártico
A criação de um reator nuclear móvel como o Akademik Lomonosov está diretamente ligada à geopolítica e à economia russa. A usina foi planejada para atender regiões costeiras e bases no Ártico onde a construção de usinas fixas seria financeiramente ou tecnicamente inviável.
Além de garantir fornecimento energético contínuo, o reator fortalece a presença da Rússia na Rota do Mar do Norte, uma passagem estratégica para comércio e exploração de recursos naturais. Essa rota se torna cada vez mais relevante à medida que o degelo do Ártico avança, ampliando o período de navegabilidade na região.
A polêmica do “Chernobyl flutuante”
Embora o Akademik Lomonosov seja um feito de engenharia, o projeto não escapou de críticas. Grupos ambientalistas ocidentais apelidaram o reator de “Chernobyl flutuante”, temendo os riscos de um acidente nuclear no mar, que poderia ter consequências catastróficas.
As preocupações incluem:
- Dificuldade em conter vazamentos radioativos em caso de acidente em alto-mar
- Impacto ambiental em um ecossistema sensível como o Ártico
- Potencial alvo em cenários de conflito geopolítico
A Rússia, por outro lado, defende o projeto como seguro, destacando que o reator conta com sistemas de resfriamento redundantes, tecnologia de contenção modernizada e protocolos rigorosos de operação.
Segurança e tecnologia: como o reator nuclear móvel foi projetado para resistir
Segundo os projetistas russos, o reator nuclear móvel de 5 mil toneladas foi desenvolvido com padrões de segurança superiores aos dos reatores nucleares terrestres. Entre os recursos implementados estão:
- Múltiplos sistemas de resfriamento independentes
- Casco reforçado contra impactos e intempéries
- Controle automatizado com monitoramento remoto
- Proteção contra tsunamis e terremotos, devido à mobilidade e design naval
Além disso, a localização em áreas remotas minimiza riscos para grandes populações em caso de incidente.
A operação em Pevek e os planos para o futuro
O Akademik Lomonosov está ancorado em Pevek, cidade portuária na Sibéria Oriental, onde substituiu antigas usinas a carvão e diesel. A usina flutuante fornece energia elétrica e térmica a cerca de 100 mil pessoas, além de apoiar instalações industriais e portuárias locais.
Com o sucesso inicial, a Rússia já estuda projetos de segunda geração de reatores nucleares flutuantes, mais compactos e eficientes, que poderão abastecer futuras bases no Ártico e até operações de mineração no mar.
O Akademik Lomonosov abriu precedentes e levantou debates internacionais sobre o futuro da geração de energia em áreas remotas. Alguns países observam o projeto como uma inovação que pode inspirar soluções para desafios energéticos globais. Outros, especialmente ambientalistas e entidades internacionais, veem no modelo um risco desnecessário em ecossistemas frágeis.
Seja como solução energética ou como polêmica, o reator nuclear móvel russo representa um marco na história da energia nuclear e na geopolítica do Ártico.