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O que impede que os navios fiquem cada vez maiores?

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 14/06/2025 às 13:11
Mesmo com tecnologia para navios maiores, limitações logísticas, portuárias e econômicas impedem novos recordes. Veja por que o Brasil está fora do jogo.
Mesmo com tecnologia para navios maiores, limitações logísticas, portuárias e econômicas impedem novos recordes. Veja por que o Brasil está fora do jogo.
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Mega navios já superam os 400 metros de comprimento e transportam até 24 mil contêineres, mas limites econômicos, climáticos e logísticos travam o avanço. Entenda por que o Brasil está fora dessa rota e quais fatores dificultam mudanças.

Embora a engenharia naval já permita a construção de embarcações colossais, o crescimento do tamanho dos navios porta-contêineres chegou a um impasse por motivos logísticos, geográficos e econômicos.

Com mais de 400 metros de comprimento e capacidade para transportar até 24 mil contêineres, os chamados mega navios representam o ápice tecnológico da indústria marítima.

Desde 2021, embarcações desse porte vêm dominando as rotas comerciais entre a Ásia, Europa e parte da América do Norte.

Mas, apesar dos avanços, especialistas apontam que dificilmente veremos navios ainda maiores nos próximos anos.

O canal de curiosidades Leandro LS explica que os atuais limites não são impostos pela física ou pela engenharia, mas por barreiras estruturais e econômicas, como a capacidade dos portos, as restrições de rotas marítimas e os altos custos de operação.

Navios colossais já existem — mas enfrentam limites

Quando o gigante Ever Ace zarpou do porto de Yantian, no sul da China, carregado com 21 mil contêineres, ele buscava estabelecer um novo recorde mundial.

Com 399 metros de comprimento e 61,5 metros de largura, tornou-se símbolo de uma nova geração de embarcações.

Desde então, dezenas de outros navios com dimensões semelhantes ou superiores foram construídos.

Muitos deles já superaram os 400 metros e transportam até 24 mil contêineres a bordo.

Esses são os chamados gigantes dos mares, que desafiam não apenas a engenharia, mas também a capacidade operacional do comércio global.

Dois desses navios, empilhados verticalmente, teriam quase a altura do maior edifício do mundo, o Burj Khalifa, em Dubai.

No entanto, uma análise dos maiores navios porta-contêineres em operação mostra que quase todos têm cerca de 400 metros de comprimento e 60 metros de largura — um padrão que revela um limite prático.

Segundo Leandro LS, “é mais ou menos o limite atual desse tipo de navio”, e há razões para isso.

Ever Ace navegando com 21 mil contêineres a bordo — o colosso de 399 metros que transformou o padrão dos mega navios porta-contêineres.
Ever Ace navegando com 21 mil contêineres a bordo — o colosso de 399 metros que transformou o padrão dos mega navios porta-contêineres.

Portos não estão preparados para navios ainda maiores

O principal obstáculo não está na engenharia, mas na infraestrutura dos portos.

Há mais de cinco mil navios porta-contêineres no mundo, com capacidade total de cerca de 25 milhões de TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés).

A média de capacidade cresceu consideravelmente na última década: de menos de 3 mil para 4,5 mil TEUs.

Hoje, mais de 50 navios têm capacidade superior a 21 mil TEUs — e praticamente todos foram construídos nos últimos cinco anos.

Porém, esses navios estão desafiando os limites dos portos, até dos maiores do mundo”, alerta o canal.

Para operar esses gigantes, os portos precisam de guindastes com braços longos, maior profundidade nos cais e infraestrutura de movimentação altamente eficiente.

Além disso, é necessário espaço para manobras complexas, muitas vezes próximas de áreas rasas, o que aumenta o risco de encalhe.

Leandro afirma que “algumas embarcações maiores chegam a passar a centímetros de tocar o fundo do mar”.

E se os navios forem ainda maiores, muitas vias marítimas atuais não serão mais viáveis para suas rotas.

Portos exigiriam reformas bilionárias

A adaptação para receber navios maiores implicaria uma reforma colossal em diversos portos do planeta, algo que nem sempre é financeiramente viável.

O canal explica que “acomodar navios muito maiores exigiria uma enorme reforma da infraestrutura portuária, o que seria extremamente caríssimo”.

Isso inclui a necessidade de readequar canais artificiais como os de Suez e do Panamá, que impõem restrições de largura e calado.

Muitos desses canais já operam no limite do que podem receber.

E há ainda o problema das condições ambientais.

Os mega navios são mais vulneráveis a mudanças climáticas extremas.

Por isso, evitam cruzar diretamente o Oceano Pacífico, onde tempestades violentas são frequentes.

Navios de médio porte às vezes perdem contêineres no Pacífico”, afirma o canal.

Os navios ultra grandes, por sua vez, preferem navegar perto da costa para reduzir o impacto das grandes ondas.

É uma questão de estabilidade e segurança.

Visão lateral do Ever Ace, destacando suas impressionantes dimensões de 399 m de comprimento e 61,5 m de largura.
Visão lateral do Ever Ace, destacando suas impressionantes dimensões de 399 m de comprimento e 61,5 m de largura.

Navios maiores enfrentam instabilidade e limitações físicas

Um fenômeno conhecido como rolamento paramétrico representa outro desafio.

Quando o navio enfrenta uma sequência de ondas ao longo do seu comprimento, a crista da onda pode se concentrar no centro da embarcação.

Nesse momento, a proa e a popa ficam sem o suporte da água por baixo.

A variação de suporte provoca um movimento de torção que pode comprometer a estabilidade.

Esse efeito pode causar ângulos extremos de rolamento mesmo em ondas não muito altas.

Além disso, a estrutura dos navios porta-contêineres inclui grandes escotilhas no convés, o que os torna mais frágeis estruturalmente em relação a outras embarcações.

Tem mais tendência a se torcer ou agregar em mar agitado”, afirma Leandro.

Outro fator importante são os sistemas de amarração dos contêineres, que têm limites físicos para o empilhamento.

Mesmo que o casco suporte mais peso, a segurança da carga não está garantida acima de determinado ponto.

Apesar de grandes, portos brasileiros ainda contam com estrutura limitada para receber mega navios — país ainda está fora da rota das maiores embarcações do mundo.
Apesar de grandes, portos brasileiros ainda contam com estrutura limitada para receber mega navios — país ainda está fora da rota das maiores embarcações do mundo.

Economia e custo do combustível impõem novas barreiras

Mesmo que tecnicamente seja possível criar navios com capacidade superior a 30 mil TEUs, a operação de embarcações dessa magnitude depende de viabilidade econômica.

Segundo o canal, “os maiores navios consomem imensas quantidades de combustível”, e esse custo nem sempre é sustentável.

Atualmente, as tarifas de frete em nível global ajudam a cobrir os custos, mas isso pode mudar.

O preço do petróleo e as exigências ambientais também impactam diretamente a decisão de construir navios ainda maiores.

Leandro explica que “investir em navios ainda maiores pode não ser a decisão financeira mais inteligente”, ao menos no cenário atual.

Além disso, novas rotas teriam que ser desenvolvidas, talvez ligando países da Ásia a portos africanos, onde seria possível adaptar a estrutura para novos padrões de tamanho.

Talvez nós possamos ver esse tipo de navio um dia, viajando da China até um porto africano”, sugere.

Portos brasileiros estão fora dessa equação

O Brasil, por enquanto, está fora do circuito de mega navios.

Até o momento, o país não recebe porta-contêineres com 400 metros de comprimento.

A ausência de infraestrutura compatível e a falta de investimentos em modernização mantêm o país longe dessa realidade.

Para o canal Leandro LS, o limite atual de 24 mil TEUs é, portanto, reflexo de uma combinação de fatores: limitações portuárias, geografia marítima, economia e, por fim, engenharia.

Apesar de tudo, ele conclui com um pensamento provocativo: “Sempre há possibilidade de que alguém, com dinheiro suficiente, encomende um navio que transforme até os gigantes de hoje em anões.

Se isso acontecer, será uma maravilha a ser contemplada.

Você acredita que o futuro da navegação trará navios ainda maiores ou que já atingimos o limite prático dos mares?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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