Mega navios já superam os 400 metros de comprimento e transportam até 24 mil contêineres, mas limites econômicos, climáticos e logísticos travam o avanço. Entenda por que o Brasil está fora dessa rota e quais fatores dificultam mudanças.
Embora a engenharia naval já permita a construção de embarcações colossais, o crescimento do tamanho dos navios porta-contêineres chegou a um impasse por motivos logísticos, geográficos e econômicos.
Com mais de 400 metros de comprimento e capacidade para transportar até 24 mil contêineres, os chamados mega navios representam o ápice tecnológico da indústria marítima.
Desde 2021, embarcações desse porte vêm dominando as rotas comerciais entre a Ásia, Europa e parte da América do Norte.
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Mas, apesar dos avanços, especialistas apontam que dificilmente veremos navios ainda maiores nos próximos anos.
O canal de curiosidades Leandro LS explica que os atuais limites não são impostos pela física ou pela engenharia, mas por barreiras estruturais e econômicas, como a capacidade dos portos, as restrições de rotas marítimas e os altos custos de operação.
Navios colossais já existem — mas enfrentam limites
Quando o gigante Ever Ace zarpou do porto de Yantian, no sul da China, carregado com 21 mil contêineres, ele buscava estabelecer um novo recorde mundial.
Com 399 metros de comprimento e 61,5 metros de largura, tornou-se símbolo de uma nova geração de embarcações.
Desde então, dezenas de outros navios com dimensões semelhantes ou superiores foram construídos.
Muitos deles já superaram os 400 metros e transportam até 24 mil contêineres a bordo.
Esses são os chamados gigantes dos mares, que desafiam não apenas a engenharia, mas também a capacidade operacional do comércio global.
Dois desses navios, empilhados verticalmente, teriam quase a altura do maior edifício do mundo, o Burj Khalifa, em Dubai.
No entanto, uma análise dos maiores navios porta-contêineres em operação mostra que quase todos têm cerca de 400 metros de comprimento e 60 metros de largura — um padrão que revela um limite prático.
Segundo Leandro LS, “é mais ou menos o limite atual desse tipo de navio”, e há razões para isso.
Portos não estão preparados para navios ainda maiores
O principal obstáculo não está na engenharia, mas na infraestrutura dos portos.
Há mais de cinco mil navios porta-contêineres no mundo, com capacidade total de cerca de 25 milhões de TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés).
A média de capacidade cresceu consideravelmente na última década: de menos de 3 mil para 4,5 mil TEUs.
Hoje, mais de 50 navios têm capacidade superior a 21 mil TEUs — e praticamente todos foram construídos nos últimos cinco anos.
“Porém, esses navios estão desafiando os limites dos portos, até dos maiores do mundo”, alerta o canal.
Para operar esses gigantes, os portos precisam de guindastes com braços longos, maior profundidade nos cais e infraestrutura de movimentação altamente eficiente.
Além disso, é necessário espaço para manobras complexas, muitas vezes próximas de áreas rasas, o que aumenta o risco de encalhe.
Leandro afirma que “algumas embarcações maiores chegam a passar a centímetros de tocar o fundo do mar”.
E se os navios forem ainda maiores, muitas vias marítimas atuais não serão mais viáveis para suas rotas.
Portos exigiriam reformas bilionárias
A adaptação para receber navios maiores implicaria uma reforma colossal em diversos portos do planeta, algo que nem sempre é financeiramente viável.
O canal explica que “acomodar navios muito maiores exigiria uma enorme reforma da infraestrutura portuária, o que seria extremamente caríssimo”.
Isso inclui a necessidade de readequar canais artificiais como os de Suez e do Panamá, que impõem restrições de largura e calado.
Muitos desses canais já operam no limite do que podem receber.
E há ainda o problema das condições ambientais.
Os mega navios são mais vulneráveis a mudanças climáticas extremas.
Por isso, evitam cruzar diretamente o Oceano Pacífico, onde tempestades violentas são frequentes.
“Navios de médio porte às vezes perdem contêineres no Pacífico”, afirma o canal.
Os navios ultra grandes, por sua vez, preferem navegar perto da costa para reduzir o impacto das grandes ondas.
É uma questão de estabilidade e segurança.
Navios maiores enfrentam instabilidade e limitações físicas
Um fenômeno conhecido como rolamento paramétrico representa outro desafio.
Quando o navio enfrenta uma sequência de ondas ao longo do seu comprimento, a crista da onda pode se concentrar no centro da embarcação.
Nesse momento, a proa e a popa ficam sem o suporte da água por baixo.
A variação de suporte provoca um movimento de torção que pode comprometer a estabilidade.
Esse efeito pode causar ângulos extremos de rolamento mesmo em ondas não muito altas.
Além disso, a estrutura dos navios porta-contêineres inclui grandes escotilhas no convés, o que os torna mais frágeis estruturalmente em relação a outras embarcações.
“Tem mais tendência a se torcer ou agregar em mar agitado”, afirma Leandro.
Outro fator importante são os sistemas de amarração dos contêineres, que têm limites físicos para o empilhamento.
Mesmo que o casco suporte mais peso, a segurança da carga não está garantida acima de determinado ponto.
Economia e custo do combustível impõem novas barreiras
Mesmo que tecnicamente seja possível criar navios com capacidade superior a 30 mil TEUs, a operação de embarcações dessa magnitude depende de viabilidade econômica.
Segundo o canal, “os maiores navios consomem imensas quantidades de combustível”, e esse custo nem sempre é sustentável.
Atualmente, as tarifas de frete em nível global ajudam a cobrir os custos, mas isso pode mudar.
O preço do petróleo e as exigências ambientais também impactam diretamente a decisão de construir navios ainda maiores.
Leandro explica que “investir em navios ainda maiores pode não ser a decisão financeira mais inteligente”, ao menos no cenário atual.
Além disso, novas rotas teriam que ser desenvolvidas, talvez ligando países da Ásia a portos africanos, onde seria possível adaptar a estrutura para novos padrões de tamanho.
“Talvez nós possamos ver esse tipo de navio um dia, viajando da China até um porto africano”, sugere.
Portos brasileiros estão fora dessa equação
O Brasil, por enquanto, está fora do circuito de mega navios.
Até o momento, o país não recebe porta-contêineres com 400 metros de comprimento.
A ausência de infraestrutura compatível e a falta de investimentos em modernização mantêm o país longe dessa realidade.
Para o canal Leandro LS, o limite atual de 24 mil TEUs é, portanto, reflexo de uma combinação de fatores: limitações portuárias, geografia marítima, economia e, por fim, engenharia.
Apesar de tudo, ele conclui com um pensamento provocativo: “Sempre há possibilidade de que alguém, com dinheiro suficiente, encomende um navio que transforme até os gigantes de hoje em anões.”
Se isso acontecer, será uma maravilha a ser contemplada.
Você acredita que o futuro da navegação trará navios ainda maiores ou que já atingimos o limite prático dos mares?