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O que falta ao leite brasileiro para atingir padrão dos EUA: especialização, contratos sólidos e salto de produtividade de até 40 litros por vaca por dia

Escrito por Felipe Alves da Silva
Publicado em 29/09/2025 às 18:44
Vacas em ordenha mecanizada em fazenda leiteira brasileira, representando a busca por maior produtividade e modernização no setor.
Comparação entre a pecuária leiteira do Brasil e dos Estados Unidos mostra diferenças estruturais na produção.
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Enquanto nos Estados Unidos cada elo da cadeia do leite tem uma função bem definida e contratos de longo prazo dão segurança, no Brasil a multifuncionalidade, os custos elevados e a instabilidade comercial ainda travam a competitividade do setor

A comparação entre a produção de leite no Brasil e nos Estados Unidos revela uma lacuna estrutural que impacta diretamente a produtividade. Enquanto no mercado norte-americano a pecuária leiteira é marcada por padronização, contratos estáveis e alta especialização, no Brasil o produtor ainda acumula múltiplas funções, o que eleva custos, reduz eficiência e limita ganhos.

De acordo com dados analisados pelo Compre Rural, inspirados em uma conversa do MF Cast, nos Estados Unidos a realidade é bastante uniforme. Em estados como Califórnia, Texas, Flórida e Wisconsin, as vacas produzem em média 40 litros de leite por dia, com o primeiro parto aos 24 meses. Esses números se repetem em grandes fazendas, sustentados por genética de ponta, inseminação bem estruturada e contratos de fornecimento que asseguram estabilidade ao produtor.

O modelo americano: especialização em cada elo da cadeia

Nos Estados Unidos, o sistema produtivo funciona como uma engrenagem onde cada fazenda tem sua responsabilidade. O produtor de leite dedica-se apenas à ordenha. Assim que a vaca pare, a bezerra é encaminhada a um vizinho especializado em recria, que a devolve como novilha já prenha. Outro fornecedor cuida exclusivamente da produção de milho para silagem, essencial na alimentação.

Essa divisão de tarefas resulta em eficiência produtiva e redução de custos, além de dar previsibilidade ao mercado. O sucesso desse modelo é sustentado por contratos de longo prazo que garantem segurança ao produtor e às indústrias.

A realidade brasileira: multifuncionalidade e instabilidade

No Brasil, a história é bem diferente. O produtor, em geral, precisa fazer tudo: cria, recria, produção de volumosos e ordenha. Esse modelo multifuncional aumenta a complexidade e os custos da atividade, principalmente devido ao chamado “custo Brasil”, que engloba tributos altos, logística precária e instabilidade regulatória.

Outro gargalo é a ausência de contratos sólidos. Enquanto nos EUA o fornecimento é amparado por parcerias de longo prazo, no Brasil o produtor muitas vezes muda de laticínio conforme o preço do mês. Essa falta de previsibilidade fragiliza tanto quem vende quanto quem compra, dificultando a formação de uma cadeia robusta.

Além disso, ao contrário da pecuária de corte, em que há clara segmentação entre criador, recriador e terminador, a pecuária de leite ainda carece dessa divisão. Some-se a isso a perecibilidade do leite, que obriga o produtor a entregar diariamente, tornando o sistema ainda mais vulnerável.

Caminhos possíveis para a modernização do setor

Apesar das dificuldades, algumas iniciativas no Brasil já buscam replicar o modelo de especialização. Cooperativas têm oferecido serviços de recria de bezerras, entregando novilhas prenhas aos cooperados com prazos de até 24 meses para pagamento. Embora ainda pequenas, essas experiências revelam o potencial de avanço do setor.

O grande entrave, no entanto, é a falta de segurança. Diferentemente da pecuária de corte, em que é possível avaliar o bezerro a olho nu pelo peso e ganho de arrobas, no leite não há como medir o potencial produtivo da vaca apenas visualmente. O retorno depende de três, quatro ou até cinco lactações, exigindo confiança na genética, manejo e processo de recria — pontos ainda frágeis no Brasil.

O futuro do leite brasileiro

A comparação mostra com clareza: enquanto os Estados Unidos consolidaram uma cadeia baseada em padronização genética, contratos sólidos e cotas de produção, o Brasil convive com enorme variabilidade de raças, climas, sistemas de manejo e até decisões pessoais dos produtores, muitas vezes pautadas por preferências em vez de viabilidade econômica.

Mesmo assim, há espaço para crescer. Hoje, a média nacional de produção não chega a 2.000 litros por vaca/ano, enquanto raças como o Girolando alcançam 5.000 litros por lactação e o Holandês pode superar esse número. Isso mostra que, com investimentos em genética, gestão e cooperação, o Brasil tem potencial para dar saltos significativos de produtividade.

Segundo artigo publicado pelo Compre Rural, inspirado em debate do MF Cast, a pecuária leiteira brasileira ainda é jovem e, portanto, pode trilhar um caminho de evolução semelhante ao dos EUA, desde que os gargalos estruturais sejam enfrentados com visão de longo prazo.

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Felipe Alves da Silva

Profissional com formação militar pelo Exército Brasileiro e experiência em gestão administrativa e logística no setor industrial. Escreve sobre defesa, segurança, geopolítica, indústria automotiva, ciência e tecnologia. Sugestões de pauta: fa06279@gmail.com

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