Em meio a lucro robusto e avanço do superapp, o maior banco privado do país acelera a digitalização e encolhe sua rede física; especialistas e sindicatos discutem impactos para clientes e cidades menores.
A transformação digital entrou de vez no varejo bancário brasileiro e o Itaú Unibanco virou um caso emblemático disso. Em 2025, a instituição reportou lucro recorrente de R$ 11,5 bilhões no 2º trimestre, alta de 14,3% em relação a 2024, enquanto reduziu sua rede de atendimento físico. Segundo dados divulgados ao mercado, o banco encerrou junho com 2.738 agências e postos, ante 3.021 um ano antes.
Paralelamente, o fechamento de 227 agências ganhou manchetes e alimentou o debate sobre inclusão digital e atendimento presencial. Em nota enviada à imprensa, o Itaú afirma que 97% das transações de pessoas físicas já ocorrem pelos canais digitais e que a rede física passará a ter papel mais consultivo e especializado, mantendo relevância em momentos que exigem orientação.
O que está acontecendo com o Itaú não é um movimento isolado, entre os grandes bancos privados, o corte de agências se acelerou em 2024, com 856 unidades a menos, tendência que vem desde 2014, quando a rede dos três maiores privados já havia encolhido mais de 5 mil endereços.
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Por que o Itaú está fechando agências
O banco atribui a reconfiguração de sua rede ao salto do uso de canais digitais e à estratégia de integrar produtos no superapp, um projeto que migra dezenas de milhões de clientes para uma plataforma única e “hiperpersonalizada”. Em comunicados recentes a investidores e à imprensa, o Itaú descreve a consolidação do superapp como peça central do relacionamento, com migração gradual de clientes de aplicativos legados (como iti e cartões) para uma experiência unificada.
Na prática, custos operacionais menores, eficiência e escala impulsionam a digitalização. Em paralelo, o banco alega que a rede física continua essencial, mas com formato diferente: menos transações rotineiras e mais atendimento consultivo (investimentos, crédito imobiliário, planejamento financeiro). A própria mensagem institucional do Itaú repete que a “presença humana qualificada” seguirá onde fizer sentido para o cliente.
Esse redesenho também responde à concorrência de bancos digitais e fintechs, além da busca por rentabilidade em um ambiente de crédito ainda seletivo. O balanço do 2T25 mostra ROE recorrente de 23,3% e expansão da margem com clientes, sinalizando que o banco vem colhendo ganhos de eficiência mesmo com a rede física menor.
Quantas agências do Itaú ainda restam e o que dizem os números
Nos documentos do 2T25, o Itaú encerrou junho com 2.738 agências e postos de atendimento (eram 2.795 em março e 3.021 no 2T24). Ou seja, há redução líquida no período de doze meses, um dado oficial que ajuda a dimensionar o encolhimento.
O número de 227 agências fechadas aparece em reportagens recentes e foi associado a uma rodada específica de encerramentos, destacada pelo O Antagonista e repercutida por sindicatos. Em paralelo, o Itaú reforça que 97% das transações PF já ocorrem fora da agência, o que embasa a priorização do digital. É importante notar que contagens variam conforme a fonte e a métrica usada (apenas “agências” vs. “agências + postos/CSBs”).
No setor como um todo, a tendência é clara. Dados compilados pela Broadcast/Estadão mostram que bancos privados cortaram 856 agências em 2024; desde 2014, a rede dos três maiores privados perdeu mais de 5 mil endereços. Séries do Banco Central confirmam a trajetória de queda do número total de agências no país na última década
Quem pode ser mais afetado com o fechamento de agências bancárias
A digitalização é bem-vinda para quem já usa aplicativos e PIX, mas ela não alcança todos no mesmo ritmo. Idosos, pessoas com baixa letracia digital e moradores de cidades menores — onde a internet é mais cara ou instável, tendem a sentir mais os impactos do fechamento de agências bancárias. Para esses públicos, a proximidade física ainda faz diferença em serviços como saques, pagamentos presenciais, orientação de crédito e resolução de problemas complexos.
Outra preocupação é regional, quando a única agência de um município fecha, parte da população migra para cooperativas de crédito ou correspondentes bancários, que preenchem lacunas, mas nem sempre com o mesmo escopo de serviços. Nesse cenário, políticas de inclusão digital, capacitação, conectividade e atendimento assistido, tornam-se tão importantes quanto a própria eficiência buscada pelos bancos.
Os dados do BCB e os balanços corporativos indicam que o vetor estrutural é de menos agências e mais canais digitais. A questão que fica é como mitigar efeitos colaterais sobre emprego e acesso em áreas vulneráveis.
O que diz o Itaú
Em posicionamento recente, o Itaú afirma que a rede física “permanece parte essencial da estratégia”, mas com modelo “mais consultivo e nichado”. A meta é unir eficiência do digital a atendimento humano qualificado quando a complexidade exigir, reduzindo filas e deslocamentos para operações do dia a dia. Em paralelo, a instituição acelera o superapp como porta de entrada para relacionamento, produtos e serviços.
Pelos números mais recentes, o banco segue rentável, com crescimento em carteira de crédito e margens. A dúvida, daqui para frente, é onde e em que ritmo o mapa de agências vai estabilizar — e quais contrapartidas (correspondentes, hubs consultivos, horários estendidos, atendimento assistido) surgirão para não deixar ninguém para trás.
E você, o que pensa? Bancos devem manter agências em cidades menores mesmo que isso encareça a operação, ou a prioridade deve ser investir no digital e em hubs consultivos regionais? Conte nos comentários como o fechamento afetou (ou não) a sua rotina, e que soluções você espera ver no seu município.