O Bradesco enfrenta protestos após cortes de milhares de empregos e fechamento de centenas de agências em todo o país. Ações sindicais se intensificam diante de falhas de segurança e sobrecarga nas unidades remanescentes.
Protestos do Sindicato dos Bancários de São Paulo voltaram a mirar o Bradesco após uma nova rodada de demissões e a redução acelerada da rede física.
Em 12 meses até junho de 2025, o banco eliminou 2.564 postos de trabalho, fechou 342 agências, 1.067 postos de atendimento (PA e PAE) e 127 unidades de negócios.
A reestruturação motivou ato nesta quarta-feira, 1º, na agência Cupecê (0619), na zona sul da capital, onde a entidade também apontou falhas de segurança.
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Protesto em São Paulo: demissões e atendimento sobrecarregado
A manifestação ocorreu em frente à unidade do Cupecê, que, segundo o sindicato, opera sobrecarregada desde o encerramento de outras agências na região.
De acordo com a entidade, dois bancários lotados no local foram desligados nos últimos 30 dias.
Representantes relatam que a pressão por metas se somou ao acúmulo de tarefas decorrente da redução de pessoal.
Ainda conforme o sindicato, a agência funciona sem porta giratória e sem vigilantes, o que eleva a preocupação de empregados e clientes.
Em nota pública, a dirigente Malu Silva, bancária do Bradesco, afirmou que “enquanto o Bradesco celebra lucros recordes, a realidade para os seus trabalhadores e clientes é de preocupação”, atribuindo o cenário à política de fechamento de agências, demissões em massa — inclusive de funcionários em tratamento de saúde — e à retirada de equipamentos e equipes de segurança em diversas unidades.
Rede física encolhe: números do 2º trimestre
Os dados consolidados no fim de junho indicam uma contração consistente da presença física do banco.
Em junho de 2024, o Bradesco mantinha 2.510 agências, 3.443 postos de atendimento e 809 unidades de negócios.
Um ano depois, os números passaram a 2.168 agências, 2.376 postos de atendimento e 682 unidades de negócios.
A diferença de um ano para outro corresponde aos fechamentos de 342 agências, 1.067 PAs e 127 unidades de negócios.
No agregado de pontos de atendimento, o banco registra cortes sucessivos: –555 frente a março de 2025, –777 ante dezembro de 2024 e –1.536 na comparação com junho de 2024.
A justificativa divulgada pela instituição é o “ajuste do footprint” e a busca por eficiência operacional.
O que diz o banco: ajuste do “footprint” e custo de servir
A direção do Bradesco vem descrevendo o movimento como parte de um plano de transformação para elevar a rentabilidade com eficiência de custos e revisão da capilaridade.
A apresentação de resultados do 2º trimestre de 2025 destaca a aceleração do ajuste de rede, com redução dos pontos físicos e prioridade para canais digitais, sem abrir mão de reforços em tecnologia e operações.
Nesse discurso, a instituição enfatiza ganhos de produtividade, estabilidade da inadimplência nas carteiras e avanço de receitas em linhas como margem financeira, serviços e seguros.
No mesmo período, a base de clientes cresceu em cerca de 1,1 milhão de pessoas em 12 meses, segundo os materiais de resultados, enquanto a despesa operacional total subiu abaixo das receitas, ajudando a melhorar indicadores de eficiência.
Impactos para atendimento e trabalhadores
Do lado dos bancários, a avaliação é oposta.
A entidade sindical afirma que o fechamento de agências e a eliminação de vagas provocam sobrecarga, adoecimento e insegurança diante de demissões sucessivas.
A redução de quadros, somada à concentração do atendimento em menos unidades, também é apontada como fator que dificulta o serviço presencial, sobretudo para públicos com menor familiaridade com canais digitais.
Entre as queixas recorrentes aparece a falta de vigilantes e de portas giratórias em algumas agências, caso da unidade do Cupecê citado no protesto.
A cobrança é por reforço da segurança e por equipes suficientes para manter o atendimento “humanizado”, expressão usada pela entidade para defender tempo e estrutura adequados para resolver demandas presenciais.
Segurança nas agências: alegações e questionamentos
O sindicato relata que a retirada de portas giratórias e a ausência de vigilância física em determinadas unidades contrariam boas práticas de proteção para funcionários e clientes.
A entidade diz que notificou o banco sobre o tema e que pressionará por providências.
Até a publicação deste texto, não há posicionamento específico do Bradesco sobre a situação da agência Cupecê (0619) nem detalhes sobre protocolos de segurança adotados localmente.
Em paralelo, a agenda de reestruturação avança.
Na comunicação com o mercado, a instituição repete a diretriz de reduzir o “custo de servir” nos segmentos massificados, privilegiando a migração para plataformas digitais e a concentração de serviços em pontos com maior tráfego e produtividade.
O sindicato, por sua vez, associa esse caminho à degradação do atendimento presencial e à piora das condições de trabalho.
Pressão deve continuar
A mobilização de trabalhadores tende a se manter nas próximas semanas, segundo dirigentes sindicais.
A orientação é intensificar o diálogo com a população em frentes onde o encerramento de unidades ou a falta de segurança tenham gerado impacto direto.
Para o Bradesco, o desafio passa por conciliar eficiência operacional e cobertura de atendimento, num contexto em que a digitalização avança, mas parte relevante do público segue dependente das agências.
Com a rede em ajuste e o quadro de pessoal menor, como equilibrar eficiência, segurança e atendimento presencial sem ampliar a distância entre o banco e seus clientes?