Da ascensão meteórica ao desaparecimento silencioso: como a Asus encantou brasileiros com o Zenfone e depois perdeu espaço para concorrentes chineses
Se você viveu o auge da década passada, com certeza já ouviu falar de um Zenfone. Talvez até tenha tido um deles.
Modelos como o Zenfone 5, que brigou de frente com os gigantes mais populares, o Zenfone 2, que surpreendeu ao trazer 4 GB de RAM quando isso era raridade, ou ainda o inovador Zenfone 6 com sua câmera Flip.
Eles conquistaram muitos corações. Mas afinal, onde foi parar essa marca que parecia destinada a revolucionar o mercado de smartphones?
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Hoje, vamos revisitar essa história, do sucesso absoluto até o desaparecimento quase silencioso.
E entender como a Asus, que conquistou tantos fãs no Brasil, acabou deixando espaço para os concorrentes.
A chegada ao Brasil
A Asus entrou no mercado brasileiro em 2014, com uma estratégia clara e agressiva.
O objetivo era simples: oferecer celulares com especificações de ponta a preços competitivos, mirando diretamente no público que queria desempenho sem pagar uma fortuna.
O grande divisor de águas foi o Zenfone 5, um dos primeiros modelos a chegar por aqui. Ele trouxe design chamativo, interface otimizada e hardware de respeito, rivalizando com concorrentes muito mais caros.
Naquele ano, o cenário era previsível. Ou você comprava iPhone, ou partia para os Galaxies da Samsung, além de algumas poucas alternativas.
Tudo bom, mas nem todo mundo conseguia pagar. O jogo parecia sempre o mesmo, até que a Asus entrou para mudar essa lógica.
O impacto do Zenfone 5
O Zenfone 5 não chegou tímido. Ele trouxe personalidade forte, design elegante e uma interface que surpreendeu. A ZenUI era otimizada, leve, intuitiva e sem lentidões, coisa que raramente se via em modelos acessíveis.
O hardware encarava os concorrentes mais caros sem dificuldade. E o preço justo mostrava que qualidade não precisava ser luxo. Para muitos, aquele aparelho foi a materialização da ideia de que tecnologia avançada podia ser acessível.
Outro ponto marcante foi a escolha da Asus em usar processadores Intel, enquanto o mercado apostava quase exclusivamente na Qualcomm. Essa parceria trouxe curiosidade, diferenciação e preços mais competitivos para o consumidor. Gamers e entusiastas viam aquilo como novidade ousada.
Disputa com o Moto G
Na mesma época, a Motorola também brilhava com o Moto G. O diferencial ali era o Android quase puro, simples, rápido e com atualizações mais rápidas. Já a Asus apostava na personalização pesada, com dezenas de aplicativos pré-instalados e recursos exclusivos.
A ZenUI era colorida, cheia de atalhos, gestos e funções extras. Isso dava ao usuário um controle maior, mas também tornava o sistema mais pesado em alguns momentos. Ainda assim, o público abraçou a proposta, principalmente com o marketing agressivo da marca, que patrocinava eventos, influenciadores e até equipes de eSports.
O salto do Zenfone 2
O ano de 2015 trouxe o Zenfone 2, outro divisor de águas. Foi o primeiro celular do mundo com 4 GB de RAM, algo raríssimo até em modelos caros da época. Essa jogada consolidou a Asus como marca de inovação acessível.
Entre gamers e entusiastas, o Zenfone 2 virou referência de desempenho. Com isso, a Asus conquistou ainda mais reputação no Brasil, mostrando que não estava de brincadeira.
Os anos seguintes consolidaram essa imagem. Modelos da linha trouxeram câmeras melhores, design sofisticado e suporte local, passando confiança ao consumidor brasileiro.
A confusão dos números
Um detalhe curioso da linha sempre foi a numeração. O primeiro Zenfone 5 chegou em 2014, mas logo depois apareceram modelos chamados Zenfone 2, 3 e 4.
Na prática, a Asus usava números para categorizar posições na linha, e não exatamente para indicar ordem cronológica. O Zenfone 4 era o básico, o Zenfone 5 o intermediário carro-chefe, e o Zenfone 6 o topo de linha. Isso gerou certa confusão, mas não atrapalhou o entusiasmo dos fãs.
O início do declínio
Apesar do sucesso, as coisas começaram a mudar. O aumento gradual dos preços minou o principal diferencial da marca: o custo-benefício.
Ao mesmo tempo, a Asus mudou sua estratégia global e reduziu o foco no Brasil. O investimento em marketing caiu, a distribuição encolheu e os concorrentes chineses aproveitaram o vácuo. Xiaomi, Huawei, Oppo e OnePlus entraram fortes com a mesma fórmula que antes era exclusiva do Zenfone: especificações altas por preços acessíveis.
Para piorar, surgiram problemas de pós-venda. Reclamações sobre suporte demorado e peças difíceis de encontrar afastaram consumidores que buscavam segurança.
Lançamentos esquecidos
Mesmo quando trouxe inovações globais, como a câmera Flip do Zenfone 6, a presença da Asus no Brasil já estava fraca. Os lançamentos chegavam discretos, sem o marketing barulhento do passado.
A pandemia e a crise dos semicondutores agravaram a situação. A Asus reduziu ainda mais o portfólio, focando em mercados estratégicos e abandonando a briga de massa no Brasil.
A virada para os gamers
Diante desse cenário, a empresa mudou o rumo. Decidiu apostar em nichos específicos, especialmente com a linha ROG Phone, dedicada ao público gamer.
O Zenfone, que antes era aposta de massa, perdeu protagonismo.
A Asus preferiu mirar em consumidores dispostos a pagar caro por desempenho e recursos exclusivos. Isso garantiu sobrevida da marca em smartphones, mas afastou o público comum que via no Zenfone um símbolo de custo-benefício.
Zenfone recente: inacessível
Nos últimos anos, a Asus até lançou modelos como Zenfone 8 e Zenfone 9, mas a estratégia já era outra. Preços altos, distribuição limitada e foco restrito os tornaram inacessíveis para quem antes era fã da marca.
O Zenfone 8, por exemplo, apostava em formato compacto e potente. Só que o preço o colocava na mesma faixa dos topos de linha da Samsung e da Apple. Nesse cenário, a Asus perdeu espaço de vez.
O legado
Mesmo fora do radar, o Zenfone deixou legado importante. Ele mostrou ao mercado que era possível popularizar recursos avançados para um público amplo.
Foi pioneiro em trazer 4 GB de RAM, câmeras de alta qualidade e baterias enormes em modelos acessíveis. Exemplos são o Zenfone Zoom, com zoom óptico, o Zenfone Selfie, focado em câmeras frontais, e o Zenfone Max, famoso pela bateria gigante.
Esses modelos não só conquistaram fãs, mas também obrigaram concorrentes a entregar mais por menos.
Lições e lembranças
A trajetória do Zenfone deixa lições. Em tecnologia, não basta ter produto bom. É preciso manter estratégia sólida, marketing consistente e presença constante no mercado.
O Zenfone tinha tudo para ser duradouro, mas o foco da Asus mudou. Hoje, a marca mira em nichos como os gamers, enquanto no Brasil ela virou apenas memória de quem viveu seu auge.
Ainda assim, a lembrança do custo-benefício e da inovação acessível continua viva. Quem teve um Zenfone lembra com carinho do aparelho que marcou época e desafiou gigantes.
O que fica para os fãs
Mesmo com a saída silenciosa, os fãs ainda guardam histórias. Muitos sonhavam com o Zenfone Selfie, outros se impressionavam com o Zenfone 2. A marca criou laços fortes, principalmente porque oferecia algo que parecia impossível: desempenho de ponta sem preço exorbitante.
O futuro é incerto, mas quem viveu aquela fase dificilmente esquece. O Zenfone pode ter saído do mercado de massa, mas não saiu da memória de quem acompanhou sua jornada.